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Aprendizes-operários

  • Wendell Guiducci
  • 15 de set. de 2015
  • 2 min de leitura

Eu tenho um amigo que se chama Anderson Badaró. Ele é líder do Verbase, uma das bandas mais influentes na minha vida. E embora eu goste muito da música do Verbase, ela nunca ecoou na música que eu venho fazendo ao longo dos anos com o Martiataka, por uma simples questão de referências. Mais que os acordes, as letras e os timbres furiosos que amo, foi a atitude que me arrebatou. O Verbase ensinou ao Martiataka o que é ser uma banda de verdade e não um mero projeto wannabe.

Eu estudei com Anderson Badaró em 1985, em Ubá, onde morávamos. Trocávamos figurinhas de heavy metal do álbum Rock Free. Eu colecionava porque gostava de desenhar os capetas, e ele porque curtia Slayer, Iron Maiden, Celtic Frost. A vida, como sempre faz, acabou nos separando. Eu me mudei para Juiz de Fora para estudar e ele continuou lá no Bairro Louriçal.

Enquanto eu cursava a faculdade de jornalismo em meados dos anos 1990, ele debulhava sua guitarra com a banda Bughouse, ainda compondo em inglês. Quando fundei o Martiataka - com outros amigos ubaenses - em Juiz de Fora, em 2001, ele já partia para o português com o Verbase. Desde o início das duas bandas, tocamos muito juntos. E aprendemos muito por isso. A presença de palco, o cuidado com a produção das músicas, a atenção com o público, o intercâmbio com outras bandas, a importância dos festivais. Aprendemos tudo isso na prática ao lado do Verbase. Éramos felizes aprendizes-operários do rock.

O primeiro disco deles saiu em 2003; o nosso, em 2005. Em 2004, o Verbase estampou uma matéria no Jornal do Brasil. Eles eram uma das atrações do Ruído Festival, no finado Ballroom, no Rio. O bagulho era, àquela altura, um dos mais importantes eventos independentes do país. O Verbase tocou com uma pá de banda importante daquela que considero a mais fértil fase do underground nacional: Matanza, Leela, Wonkavision, Ludov, Walverdes, Forgotten Boys, Carbona, Tom Bloch.

Só bandas de capitais como Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre e o Verbase, de Ubá, Minas Gerais, metido lá no meio. A foto de Badaró, marrento em seu casaquinho vermelho-sintético, ladeado do baixista Márcio Chapa e do baterista Fabinho, encerrava uma poderosa mensagem. Aquilo dinamitou minha ideia do conceito de "sucesso" e redefiniu todo e qualquer parâmetro que eu pudesse ter sobre a música até então. Não era preciso gravadora, não era preciso tocar no rádio, não era preciso morar em São Paulo. Era preciso trabalhar duro e fazer boa música.

Anderson Badaró deu férias por tempo indeterminado ao Verbase enquanto se arrisca na carreira política. Você pode conhecer a trajetória de sua fenomenal banda aqui:

 
 
 

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