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Mensageiros naturais de coisas naturais: Dudu Lima Trio lança disco novo, o "Som de Minas"

Fotos: Ana Cláudia Ferreira

Dudu Lima está sempre acompanhado do seu baixo, de onde saem os graves dos instrumentais do trio

Era 2 de julho. Dali 22 dias, mais uma volta ao redor do sol de quem escreve. Dali 19 dias, o lançamento do novo CD do Dudu Lima Trio, o “Som de Minas”, um verdadeiro presente de aniversário. Foi um domingo que amanheceu de céu azul e aos poucos foi se transformando em cinza, vento gelado e temperaturas baixas, clima atípico ao que Sessão Instrumental costuma ter. O trio deu um gostinho de tudo o que o novo disco traz pra gente. Eles fizeram o lançamento no show, em Juiz de Fora, na tradicional Praça do Ministrinho (a praça do Bar du Leo).

Para quem tremeu de frio durante toda a tarde, o show compensou o clima. O trio, formado por Dudu Lima no baixo, Leandro Scio na bateria e Ricardo Itaborahy nos teclados e vocais, agitou a praça. Música instrumental tem uma presença, os solos que saem do baixo de Dudu só reforçam isso. Ali tivemos o prazer de aquecer o coração ao som da “Suíte Bituca”, repertório em homenagem a Milton Nascimento; mas também ouvimos algumas das novas canções do “Som de Minas”. Tudo com aquele “Q” especial do Dudu Lima Trio, sabe? O jeitinho que sai dos instrumentos, chega até as pessoas e imediatamente reconhecemos de onde veio tanta musicalidade.

O Dudu explicou que essa marquinha especial vem graças à naturalidade com que o trio produz tudo. Cada um tem suas inspirações e traz suas ideias e temas para as canções, mas sempre pensando no trabalho em conjunto. “No trio é assim, eu levo o arranjo e cada um tem a sua parte criativa naturalmente, que é enorme. Os solos, a interpretação do próprio arranjo já gera um outro elemento”, revelou.

Quando o tema vem de uma releitura, o segredo é tratar o arranjo como se já fosse dele. “Imagina, aqui está a música, então esse é o limite da música. Uma característica principal dela é a melodia, isso eu não posso mexer. Agora, o elemento harmônico, o elemento rítmico, a introdução, o meio, o fim, entre as partes dela, eu construo outras partes. E ao invés de pensar meramente como um arranjo, eu falo ‘não, eu vou compor uma parte para isso aqui’. Então eu componho partes e exercito essa coisa da composição no arranjo”, explicou.

Uma vez que a música vai pelo autoral, todo o resto segue sendo autoral. Dentro da estrutura, eles também separam um espaço para os solos, quando um dos instrumentos vai comandar tudo e os outros mandam suas melhores notas. “Aí cada hora aquela pessoa vai ditar uma conversa. O maestro no jazz é quem está improvisando”.

Canções e momentos

Para o disco novo, os três fizeram sessões de gravações no estúdio Versão Acústica, em São João Nepomuceno, aqui pertinho. A capa já adianta o que nossos ouvidos mal podem esperar para ouvir: com vista para as montanhas de Minas, esse é um disco sobre as Gerais, suas tradições, suas histórias e personagens. É isso o que Dudu busca fazer: transformar pessoas e histórias em música. Foi assim que nasceu “Cabo Frio”, depois de uma viagem para o litoral, em que ficou imerso no ambiente familiar, mas também no baixo, de quem não desgruda nunca. Na viagem, ele levou o “baixolão” e de tanto treinar o instrumento, fez uma composição nova.

Esse é um ponto muito importante para a música: deixar que ela aconteça. É preciso esperar o momento certo para trabalhar e lapidar as notas. Mas, ao mesmo tempo, como Dudu mesmo contou, isso pode ser bem difícil. Faz parte do processo aprender que nem sempre a música vai sair quando você quer, mas talvez quando você menos espera. Pode ser na praia de férias com a família, no estúdio olhando os mares de Minas, ou tomando um café e conversando fiado. É preciso estar atento e também forte.

Harmonia e naturalidade estão sempre presentes entre o trio

Depois dos momentos mágicos de criação, chega a hora de gravar. Tudo caseiro, no estúdio que é de seu amigo Emmerson Nogueira. Numa casa mineira e calma. Atenção a todos os detalhes e muita energia. Nesse disco o Dudu usa um instrumento peculiar, muito interessante: o baixolão. Pelo nome dá pra imaginar que é um violão e um baixo, e é quase isso. “É como se fosse um violão, de quatro cordas, com a caixa um pouquinho maior e a escala, onde você põe os dedos, é um pouco mais larga que o violão. No violão, o espaço em que a gente chama de ‘trastes’, que são as casas onde a gente toca as notas, elas são menores”. Com isso, os harmônicos, a sonoridade do instrumento é mais grave. Um lugar entre os dois mundos e inédita até então nos discos do trio.

Naquela tarde do Sessão Instrumental, apesar de tremer por sentir frio, também balancei por sentir a música. Essa entrega, as histórias, os personagens, as referências chegam até nós pela frequência dos sons. Foi assim, quase um ano atrás, entrevistando o Dudu pela primeira vez, que eu descobri como o universo da música instrumental é mágico e encantador.

Entre o dia e a noite

A descoberta também veio por causa desse evento realizado pel’O Gibra Indica, o Sessão Instrumental. São quatro domingos, com oito apresentações musicais diferentes, todas na praça do Ministrinho. É aquele programa do final de semana, para levar a família, os bichinhos de estimação e os amigos. Da primeira vez que eu vi, me senti no quintal de casa, um almoço em família.

Nessa última edição, o Quinteto Vento Bravo também se apresentou, logo no início da tarde. Eles tocaram temas de jazz, música brasileira, Milton, Toninho Horta, João Bosco, Chico Buarque, sempre com a música instrumental.

Uma das coisas que sempre penso quando chego no Sessão é que quero ser assim quando crescer: reunir meus amigos e fazer um som maneiro (mas preciso aprender a tocar alguma coisa antes, ops). Essa é a energia que o Sessão proporciona. E não só ele, a música também. O Estêvão Teixeira é o flautista do grupo e contou que eles se reúnem há quase sete anos, religiosamente às quintas-feiras, para tocar seus instrumentos, apresentar repertórios, temas novos e tomar um vinho. O intuito nunca foi o de criar algo profissional, mas as pessoas começaram a cobrar e eles fazem uma apresentação aqui e outra ali de vez em quando. Da roda de toda semana, eles já até criaram canções, inclusive uma especial para o Sessão, chamada “Entre o dia e a noite”.

Vou terminar agradecendo de novo. Obrigada Juiz de Fora, por proporcionar tantas descobertas musicais incríveis. E obrigada Sessão, por dar o tom dessas novidades todas!

Dudu Lima - Som de Minas

Disco realizado através da Lei Estadual de Incentivo à Cultura de Minas Gerais, lançado na Virada Cultural de São Paulo. Quem quiser levar um gostinho de Minas para casa, já pode garantir o CD durante os shows do trio. O lançamento em mídias digitais vai ser no dia 21 de julho.

E se quiser conferir mais detalhes dos dois projetos, a Avenida é parceira do Gibra e do Sessão e você pode encontrar aqui tudo o que já registramos do evento, inclusive a entrevista com o Dudu no Sessão de 2016:

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