top of page

Tudo pode acontecer: “Ratos na Praça” recebe Samira Winter e Filipe Alvim

Fotos: Carime Elmor

Cobertura completa: bit.ly/RatosNaCasaSamiraWinter

Depois de passar pela Casa do Mancha (SP) e Escritório (RJ), a cantora, compositora e cat lady Samira Winter que tá sempre no caminho entre Curitiba ou Los Angeles, e já lançou trabalhos pelo selo brasileiro Honey Bomb Records, e pelos selos americanos Burger Records e Lolipop Records, decidiu conhecer a “Jufas” de Alvim. Acompanhada pela sua irmã Victoria Winter (bateria) e Renato Borghi (baixo), foi a vez do trio tocar no evento “Ratos na Praça”, ao lado do músico e hit maker Filipe Alvim, que está preparando seu novo álbum com previsão de lançamento para agosto desse ano. Além disso, o “Ratos”, que dessa vez subiu o morro do bairro São Mateus e rolou numa casa, no dia 10 de abril, já foi palco para o músico Lê Almeida e a banda Top Surprise.

O clássico chamequinho colorido da Pug Records preenchia as paredes, pisca-pisca, banquinha de zines e merchs com fitas k7, camisetas da Dealerr, bottons e pulseirinhas de letrinhas, alguns sofás e plantinhas. “Tudo pode acontecer” dizia o cartaz com uma ilustração de ratinho. Com discotecagem da database.fm recheada com Best Coast, Sonic Youth, Yuck, etecetera. When pugs meets cats. Essa foi a cena.

“O que eu preciso é de uma estrada quente...” Com “Miragem” do álbum “Beijos” Filipe Alvim começou sua noite, seguindo com “Poderosa” e “Cama Redonda”. Hits ensolarados para uma noite de outono. “Tá baixo? Vocês estão me ouvindo?” “Aumenta o volume aí”. Mudança de tom, um grito, mosh com dancinha e bate cabelo.

Em sintonia, a banda formada por Fred Mendes (bateria), Hector Eiterer (baixo), Pedro Tavares (guitarra) e Everton Surerus (guitarra), na qual todos têm outros projetos musicais, e Alvim só nos vocais. Lo-fi tropical de alta fidelidade. Grita e sai da jaula. “Esperando o que? Procurando o que?”. Chega a hora da mais pedida, ou, o hino de uma geração: “Domingo” do EP Zero. “Sua mente tá pegando fogo...”

Depois, mais discotecagem mp3, e logo Samira começa sozinha, ajustando os pedais, as distorções quase como miados. Depois ela transpassa a alça de arco-íris da sua guitarra azul cheia de adesivos de flores e começa o show. Ela toca “Eu e eu” música que faz parte do EP “Tudo azul” produzido e gravado em Curitiba. De um jeito delirante e hipnotizante ela cantava “preciso encontrar todos meus amigos/ desaparecidos”. Logo foi a vez de “Zoey”, música feita para sua gatinha. Brincava “Zoey, você tá aí? Tá com fome?”.

A partir daí a banda, formada pela baterista e irmã da cantora Victoria e Renato, entrou no jogo. Tocaram uma música inédita e recentemente gravada no Escritório. Seguiram com “Café”, primeiro som do projeto “Samira’s Infinite Summer”, e mesmo aqueles que nunca escutaram pegaram a letra e bem rapidinho todos já estavam cantando. Café, café, café! Entre o idioma inglês e português, só poesia.

Tudo fluía. Samira tava tão à vontade que tirou seus tênis de bolinhas e ficou descalça. Jogava seu cabelo de algodão doce. E Nuno, seu fã mais novo, batia palmas e gritava “Bravo!” vendo tudo lá de cima no conforto dos ombros de seu pai, o músico Rodrigo Teixeira da banda Alles Club. Victoria lá no fundo com seus óculos de sol de gatinho retrô em tons de branco e rosa, as duas se olhavam durante a session e sorriam. Um tempo pra curtir e fazer um som juntas. Ela termina com “Dona Clarinha”, melodia doce, essa contradição de ser um show só, e no outro dia ser memória sonora, fotografia num rolo pra revelar.

Dona Avenida gosta de entrevistar

Avenida: Você não morou muito tempo no Brasil, mas ouvia música brasileira?

Samira: Quando eu era criança não escutava muita música brasileira, escutava Backstreet Boys e Spice Girls. E ao longo desses anos eu fui encontrando bastante música brasileira através da minha mãe que é brasileira. Então minha mãe sempre tocava bastante Djavan, Gal Costa, Maria Bethânia e Milton Nascimento. E Os Mutantes, eu descobri sozinha, o que é bem especial porque quando você descobre a banda é bem mais legal do que quando teus pais tão tocando. Isso acabou sendo uma influência até meio não tão consciente, que tá na minha cabeça de tanto escutar música brasileira. As melodias que eu acabo fazendo são influenciadas por aquela melodia bem cantante, bem bonita, meio melancólica que a música brasileira tem. Quando eu era adolescente eu acabei descobrindo o indie rock e o independente americano, e isso acabou me influenciando bastante. Na faculdade eu encontrei o shoegaze dos anos 90 e o dream pop, que era da Grã Bretanha, mas sempre escutando música brasileira.

Avenida: Como você e o Filipe Alvim conheceram o som do outro?

Samira: Quando eu descobri o som dele fiquei muito viciada, e falei pra todo mundo. Até hoje, adoro muito os álbuns dele. Conheci ele na vida real em dezembro quando fui tocar num festival em Goiânia. Eu acho que conheci ele meio virtualmente. Ah, eu sei! Porque um amigo meu, o René, me falou “Ah tem um selo no Brasil chamado Pug Records”, e eu tipo “Como você conhece e eu não conheço?”. E daí encontrei o Filipe, e eu tava “nossa, que tudo!”. Porque é muito a vibe que eu curto, sabe? Eu adoro músicas que são fortes, boas com sonzinho sonhador, meio relax. Eu adoro!

Avenida: E suas influências de dream pop, shoegaze? O que você anda ouvindo ultimamente?

Samira: Recentemente escutei Dinossaur Jr, e eu tava tipo “Nossa cara, eles são muito bons!”. Mas eternamente serei influenciada pela Cocteau Twins. Gosto bastante de um selo da Grã Bretanha chamado Sarah Records. Adoro The Breeders. Obviamente My Bloody Valentine. Mas eu nem escuto muito, porque parece que tenho que reservar esse tempo especial de escutar MBV, tipo não posso escutar toda hora, tem que ser especial, um presente pra mim mesma. Acho que sou bem influenciada pelo indie rock, tipo Pavement, Rilo Kiley. Hoje em dia eu vou muito por fase, tô numa fase de escutar umas coisas mais lo-fi. Acho que todo mundo tá numa fase assim. Aquela banda Good Morning da Austrália, uma banda de Los Angeles chamada Surf Curse. Até queria muito fazer um disco lo-fi.

Avenida: Em tempo de Spotify, como você vê essa relação do fã com o [suporte] físico?

Samira: Às vezes eu mesma compro um cassete, mas escuto a banda no Spotify. Acho que escutando no Spotify você tá apoiando a banda, tá ajudando eles, mas a experiência de ir para um show e comprar, parece uma memória daquele show, poderia ser uma decoração no seu quarto, é tipo você olhar e se conectar com aquela pessoa, que apoia arte. É uma cultura mais DIY. É igual você gostar de fusca. A gente tá em 2017 mas tem a sensibilidade, tem certa nostalgia por uma coisa que a gente não viveu, mas estamos conseguindo, porque temos uma coisa parecida, essa sensibilidade, de gostar e encontrar uma câmera velha. Não sei como explicar, mas as pessoas tão se unindo, e estão nesse show, por exemplo. É uma coisa especial, porque não é todo mundo que tem isso.

Avenida: Aqui no Brasil tem surgido muitos projetos feministas musicais, selos, bandas, lá no Rio de Janeiro tem um lugar chamado Motim que tem espaço incrível para as mulheres. Agora todas estão se unindo e produzindo, como você vê tudo isso?

Samira: Ah eu quero ir lá! Eu fico muito feliz, até me dá arrepio. Tenho visto isso nos Estados Unidos, mas voltar pro Brasil e ver isso é muito mais poderoso. Lá essa conversa já tá rolando faz um tempo, não tem tanto esse machismo assim. Acho muito especial, aqui tá no “roots”, tá no começo. O começo é muito mais forte, você tem que sentir muito na tua alma. Aqui é bem mais dificil. É bem mais poderoso, o Brasil é um país tão machista e patriarcal, e ver uma galera fazendo isso é muito especial.

Para ouvir mais:

Mais lidos
Posts Recentes
bottom of page