Duolhodágua
- Carime Elmor
- 16 de set. de 2015
- 2 min de leitura

Foto: Carime Elmor
“A menina dança... e se você fecha o olho, a menina ainda dança.” E se remexe para todos os cantos, faz de seu lenço - da noite fria - uma asa e corre para lá e para cá. Mistura passos de ballet com a coreografia que quer, acompanhando a harmonia envolvente de My Drag, que toca nas caixas de som da Liberdade. Era uma menina linda, com o colorido da infância, transbordando leveza e espontaneidade.
Dois bancos posicionados lado a lado, uma garrafa de vinho, dois copos. Não, não tem Novos Baianos no concerto. Duolhodágua iria tocar – grupo de violino, violão e contra-baixo, porém nesse dia apenas os dois primeiros estão lá. A menina aproveita o tempo antes de eles começarem, se diverte e gira, gira, gira...
A primeira sequência é de músicas autorais instrumentais que preenchem o ambiente rodeado de livros. Alexandre Moraes ao violão transcende à ideia de tocar aquele instrumento, era feeling, não era técnica, expiração, arte pura. Ele está acompanhado de André Oliveira, que guia o violino com um sorriso suave no rosto, movimentando seu corpo como se dançasse ao som da música impecável que ele próprio faz. Dentro do case de seu violino, a presença de um desenho com traço de criança, feito de lápis de cor, mas não sei de quem é. Talvez carregue consigo um pouco da infância e da memória de como se transformou no músico que é hoje.
O encontro dos dois é sublime. Entre uma nota e outra, às vezes se olham. É possível sentir que o que fazem lhes dá prazer e, mais ainda, Alexandre e André estão em uma sintonia, uma ligação celestial. Soa tão natural que poderia me perguntar se estariam fazendo um belo improviso.
Tiram som não só das cordas, mas da estrutura do violão e do violino. Batem a palma das mãos ao encontro dos instrumentos e também fazem som com batidas do pé no chão. Parecem tirar som até mesmo do barulho da chuva forte e incessante que acaba compondo o próprio silêncio, tão importante se falando de música instrumental.
Fazem uma mistura deliciosa de música erudita com música popular, passam por cima da ideia de que música instrumental é somente para um público restrito. Seu som alcança a todos. Improvício lembra música celta, as influências de suas composições são riquíssimas e muito diversificadas. Para meu deleite, em uma segunda parte onde ouve espaço para releituras, tem Beatles, Eleanor Rigby. Nessa hora, flutuo e nada mais pode me desligar.
O trio irá lançar o álbum Circo Cigano em novembro, na Cervejaria Barbante aqui em Juiz de Fora. Posteriormente iremos informar a data com mais precisão. Não deixe de comparecer, vamos juntos #OuvirACidade.
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