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Hagbard: a surpresa do metal brasileiro


Foto: Divulgação


Em 2010, nasceu em Juiz de Fora um misto de heavy com folk metal, a Hagbard. Ora, a banda não tardou a surpreender. Em cinco anos de existência, já teve a produção de importantes trabalhos. Em 2011, lançou a demo CD de estreia “Warrior’s Legacy”. Mais adiante, em 2013, foi a vez do álbum “Rise of the Sea King”, gravado pelo Estúdio Aba em Juiz de Fora e lançado pela gravadora SoundAge Productions, de Moscou, conhecida por ter apoiado outros nomes importantes do gênero, como a Grai e Arkona. E, por último, a gravação do EP “Tales of Frost and Flames” em 2014.

Com a quantidade de trabalhos produzidos em pouco tempo, não seria uma surpresa a sua participação grandiosa em importantes festivais do Brasil, tais como o “Roça’n’Roll”, “Odin’s Krieger Fest” e “Viçosa Metal Fest”. Rapidamente, a Hagbard passou de uma dimensão local para nacional, chegando a atingir os olhares internacionais, ao dividir palco com Manegarm da Suécia e Scythia do Canadá.

Altamente elogiada pela crítica especializada, a banda tem todo o seu trabalho baseado em temas folclóricos e mitológicos das terras nórdicas. O grupo foge do estilo folk alegre, procurando uma agressividade, mas sem perder a melodia. Há uma oscilação entre os vocais rasgados e uma pegada mais leve.

Em seus trabalhos, o ouvinte é transportado a lendas distantes, com o famoso som da flauta do folk, mas essa viagem também é conduzida por solos de guitarra complexos e batidas características do heavy metal. Em alguns trabalhos, a agressividade é mais evidente, como em “March of Glory”. Em “Stombor Queen”, por outro lado, o vocal rasgado é deixado de lado, sendo ele bem característico de um folk mais clássico e alegre.

Foto: Divulgação

Uma entrevista diferente

Sancho sempre foi uma figura divertida, conseguindo fazer qualquer companheiro de mesa ficar à vontade. No início da noite, já desafiava: “Uma dose de cachaça, Isabella”. Depois da primeira, vinham várias. “Mais uma!” E não tínhamos poder de escolha, ele sempre foi o ditador da cachaça nas mesas de bar. Não tardava para que aqueles companheiros boêmios tivessem uma lembrança perene do momento, ou, talvez, a falta dela.

Fazia muito tempo que eu não o via e, ao resolver escrever a matéria sobre o cenário do Rock em JF, me lembrei logo dele e marquei uma entrevista, em especial por conta da sua atuação na Banda Hagbard. A sua resposta, diante do convite, foi divertida: “Olha só, Bella… Que legal! Sem problemas, só marcar”. E completou, para que fosse um perfeito diálogo digno de Sancho: “Apesar de ser um absurdo fazer uma entrevista com um baixista”.

Eu ri, claro. Não tinha entendido muito bem, ou talvez tenha me feito de desentendida só para vê-lo se explicar. “O quê?” E ele, então, soltou a cartada final: “Talvez eu tenha me expressado mal. O absurdo não é fazer uma entrevista com o baixista e sim comigo”. E antes que nos déssemos conta, a nossa entrevista já tinha começado, mesmo que o encontro oficial não tenha de fato acontecido.

“Mas me conta, essa entrevista é escrita? Eu não preciso ir lindo e maravilhoso não, né? Eu sei que é invevitável… Mas é sempre bom prevenir.”

Foto: Divulgação

Sancho era um personagem dos mais carismáticos. Nunca gostei muito de entrevistar pessoas, embora seja contraditório para uma estudante de jornalismo. A minha paixão mesmo é e sempre foi a escrita, um hobbie perfeitamente imersivo e solitário. Mas com o Sancho era difícil não se sentir a vontade. O entrevistador e o entrevistado, ambos completamente sem jeito. Falei que era coisa tranquila, eu só gravaria e depois transcreveria a entrevista.

“Perfeito! Bermuda e chinelo, então.” E assim, ambos estávamos preparados para uma conversa entre amigos que não se viam há muito tempo.

Sancho: Antes de qualquer coisa, eu gostaria de agradecer à Senhorita Bella por essa oportunidade, e salientar a loucura que é me chamar pra uma entrevista... Um roadie ou uma dançarina traria mais credibilidade a essas respostas. Mas eu queria mais uma vez te agradecer por essa charmosa oportunidade de alimentar o meu ego.

Qual reação teria eu, senão rir? Mas vamos à entrevista:

Isabella: Como foi a trajetória da Hagbard?

Sancho:A banda começou como a maioria dessas bandas de interior começa. Alguns amigos se juntam com a ideia de tocar as musicas que gostam, beber juntos e se divertir... nada realmente diferente. Mesmo depois de tanto tempo juntos e de trocas na formação, a essência é a mesma: um bando de gordos barbudos bêbados tentando viver um sonho.

Isabella: Vocês enfrentaram dificuldades ao longo da carreira?

Sancho: Então, acho que as mesmas dificuldades que enfrentamos até hoje. Mesmo que tenhamos crescido um pouco, os problemas vão aumentar exponencialmente. Quem tem banda sabe como é, nós fazemos isso porque gostamos, por paixão. Inevitavelmente, você vai ter que tirar grana do bolso pra colocar na banda e sacrificar seus fins de semana de descanso por ela.

Isabella: Qual é a realidade de uma banda autoral de JF?

Sancho: É uma realidade difícil. Quando se é independente, como é o nosso caso, você tem que correr atrás de tudo pra dar certo. Depois de todo esse processo de criação, gravação e masterização finalizado, nós recebemos esse contato da gravadora ou distribuidora para a veiculação do material. Isso não é o ideal, é melhor ter essa ajuda desde o início do processo.

Isabella: Quais serão os próximos trabalhos?

Sancho: A gente já está trabalhando em um novo álbum, mas é como eu disse antes, esse é um processo muito difícil e demorado. A parte de composição e criação está praticamente finalizada, mas o restante do caminho ainda vai nos custar uma eternidade de tempo, dinheiro e paciência do baixista.

Isabella: E o público da banda? É fiel?

Sancho: O nosso é o melhor público de todo o universo conhecido pelo homem. São os cavalheiros mais elegantes e as damas mais distintas, público esse que conta com grandes nomes. Vai da moça que te xinga se você não comprar uma lixa dela no calçadão a Keanu Reeves. E nós amamos cada pessoa dessa vasta horda de paladinos contemporâneos.

Isabella: Vocês acreditavam que a banda teria essa repercussão dentro do Folk Metal brasileiro?

Sancho: Nós estamos alcançando metas que, sem dúvidas, eram uma utopia pra gente. Trabalhamos duro e nos esforçamos pra conquistá-las, mas eu nunca imaginaria que essa minha diversão com meus amigos me levaria a fazer shows em Porto Alegre, ou a tocar em grandes festivais com bandas que eu idolatro desde novo. Tem sido realmente muito maneiro.

Isabella: O que você acha do cenário do rock/metal em Juiz de Fora?

Sancho: Sinceramente, eu escuto muita gente reclamando e falando que a cena aqui é fraca, mas pra mim isso é um grande absurdo. Eu vim de uma cidade bem do interior de Minas, onde se teria um show de metal/rock por ano no máximo. Chegar aqui e encontrar diversas bandas de qualidade e shows em quase todo fim de semana só me leva a crer na grande força dessa cena juizforana.

Isabella: Os músicos desse estilo têm um comportamento mais colaborativo ou competitivo?

Sancho: Então, eu diria que é uma saudável mescla dos dois. Entre os músicos, existe uma grande amizade. A gente está sempre se encontrando em festivais, bebendo e viajando juntos. É mais do que natural esse espírito de colaboração. Mas a competitividade existe também, o que pra mim é essencial para o desenvolvimento das bandas e da cena.

Isabella: Você acha que os eventos de música são suficientes na cidade?

Sancho: Tudo pode melhorar, e a gente espera que melhore. Mas como eu disse antes, eu sou um caipirão da roça que quando chegou em Juiz de Fora, em 2008, ficou deslumbrado. Desde então, os shows só têm melhorado e o público comparecido mais. Nossa expectativa para o futuro é que esse crescimento se mantenha, pois o público metal dessa cidade está faminto por eventos e bandas de qualidade.

Isabella: Existem muitas bandas de rock/metal em JF? O que você acha da qualidade de produção da cidade?

Sancho: Diversas!! Tanto bandas ativas, quanto bandas do passado. Essa cidade sempre foi e continua sendo um grande celeiro musical e a produção esteve muito ligada a isso.

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