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Pathos: Prog Stoner de Juiz de Fora

  • Carime Elmor
  • 21 de set. de 2015
  • 6 min de leitura

“Quando a gente estava compondo as músicas, o Ricardo não estava usando muito os pedais de distorção nos ensaios, mas quando chegamos para gravar ele começou a usar demais. Foi sonzera pura e aí ficou com esse som Stoner”. João Pedro, vocal.

A formação atual da Pathos com Ricardo Marliere (guitarra), João Pedro (vocal), Lucas Guida (baixo) e Hugo Moutinho (bateria), começou no ano passado. União de cabeças efervescentes e muita criação capaz de, em alguns poucos meses, compor o álbum Elixir, somente de músicas autorais. João Pedro, a convite do Guida, ambos estudantes de engenharia, foi a peça que faltava para que a banda desse início aos seus trabalhos de composição do novo material, que já estava nos planos para ser gravado. Segundo João, “Ricardo é o pai da galera, é ele quem trouxe as ideias principais das músicas que compõem o Elixir”. Conversando com eles, percebi que todo o processo ocorreu de maneira muito natural, tudo foi se encaixando, mesmo as influências foram tomando espaço nas músicas de acordo com o que todos costumam ouvir; desde Blues a rock anos 80. Mas existe uma unanimidade de peso que é a essência do som: Black Sabbath. “A gente juntou o nosso amor pelo Black Sabbath e deu um toque progressivo, porque eles são um pilar, os caras tocavam tudo quanto é tipo de Rock”, afirma João.

Após a composição das músicas no 1° semestre de 2014, a banda ficou ensaiando freneticamente durante seis meses, ao mesmo tempo em que apresentava o repertório em alguns bares e casas de show da cidade. No final do ano, pela primeira vez, o concerto do Elixir foi feito na íntegra durante o “Encontro do Prog JF”, que aconteceu no Cai&Pira. Em janeiro de 2015, seguiram ensaiando constantemente, algo como quatro vezes na semana, até a data da gravação, que foi feita em somente um único final de semana de fevereiro no Estúdio Verde, em Belo Horizonte. A Pathos ficou imersa durante 12 horas diárias gravando, e tem mais: tudo foi feito ao modo Live, como os álbuns de antigamente. “A gente chegou lá, sem pausa, e fomos gravando todos juntos, como se estivéssemos fazendo um ensaio. Nós começamos 8h da manhã no sábado, ficamos o dia todo, depois o domingo inteiro também”, comenta Ricardo. No final da experiência total, estavam todos cansados, mas com um material excelentemente executado. Arthur Damásio foi quem gravou, mixou e ainda fez os teclados necessários para as músicas. Depois da mixagem, a masterização feita pelo Cesar Santos foi o refinamento final, até o lançamento oficial no início do mês passado.

Além disso, o processo de criação contou com a parceria de alguns músicos que não fazem parte do quarteto. As composições são longas, chegando até mais de 8 minutos, com som denso e instrumentos variados, permitindo que haja bastante variação de melodia, característica do progressivo. Para isso, há a participação do percussionista Gustavo Campos em vários momentos, e Vinícius Faza executou a gravação do flautista Gabriel Vaz Duque, em Juiz de Fora. O Elixir ainda teve a honra da inclusão do trabalho do trompetista Wagner Souza, de Belo Horizonte na última faixa. Sequel ficou pronta apenas dois dias antes de gravarem, e a maior parte da guitarra foi improvisação. Ricardo conta ainda, que Wagner escutou a música apenas uma vez, já lá no estúdio, na hora de gravar, e com apenas três takes, a execução saiu perfeita.

O mais incrível é que logo após o lançamento do álbum, que está com download à venda pelo BandCamp e também, cópias físicas através do e-mail pathos.sound@gmail.com, o baixista e o guitarrista foram para fora do país. Ricardo, que está morando em New Orleans, EUA, me contou que primeiro foi para Chicago e por lá espalhou várias cópias, principalmente em bares. A distribuição está sendo feita de maneira mais incisiva no cenário internacional. Inclusive, alguns blogs e sites estrangeiros fizeram resenha sobre o Elixir e ele está sendo vendido por uma loja online da Suécia, a Ozium Records.

Para planos futuros, João Pedro imagina como primeiro show do Elixir, um local aberto: “Agora que a galera está escutando, está conhecendo as músicas, assim que eles (Ricardo e Guida) voltarem, a gente tinha que fazer um show aberto, em uma praça, em local público, para a galera ir mesmo”. Fala também sobre a vontade de tocar no Festival de Bandas Novas, que acontece na Praça Antônio Carlos, anualmente em Juiz de Fora. Ricardo completa dizendo que tocar em festivais é uma ótima oportunidade, porque é o lugar em que o público vai para conhecer novas bandas. Tem a intenção de enviar os CDs para eventos que acontecem em outras cidades brasileiras, para alcançar novos espaços.

Pathos é um nome de origem grega, eu li na página da banda no facebook que a palavra “é utilizada na filosofia para categorizar o método de persuasão que se utiliza dos sentimentos do ouvinte”. E o nome do álbum – Elixir – existe ambos na Língua Inglesa, quanto, na Portuguesa. Difere-se apenas na pronúncia. Apesar das letras serem todas em inglês, João Pedro conta que existe a possibilidade de um dia decidirem fazer música na língua falada no Brasil. “O lance de fazer em inglês é porque é muito mais fácil de exportar o som. Mas eventualmente, se nós compusermos em português, será para prestar homenagem a nossa terra mãe. Apesar de que na última música que é instrumental, a gente colocou baião no meio do jazz, tem até um triângulo lá também”, explica Ricardo.

Portal é a iniciação da experiência sonora do álbum e A Haunted Vision foi a primeira música feita, capaz de conquistar de cara quem a ouviu; com seu som mais pesado, riffs característicos de uma banda Stoner e que ama o Black Sabbath. Sophie, a preferida dos dois integrantes que conversei até de madrugada por hangouts, tem uma flauta que lembra Jethro Tull e o vocal, um efeito muito bacana pela quantidade de backvocals nas primeiras estrofes, e termina com distorção ferrenha na guitarra. Como descrito pelo comentário do João na introdução do texto, Ricardo deu outra cara pra guitarra depois que usou os pedais Fuzz Face no momento da gravação. Untitled (Formely Known as The God) é divida em três atos, assim como muitas músicas de rock progressivo. “Ela tem um elemento central, pega de tudo um pouco do álbum”, o vocalista comenta. Ankh começa com blues, vocal muito mais grave, deixando o melódico e os tons mais altos das faixas anteriores, mas depois se transforma completamente. Impressionante a variação da voz do João. Quase não acreditei quando ele me contou que estudou canto apenas dois meses e que sabia pouco inglês, tudo que desenvolveu foi durante os ensaios da Pathos. The Wanderer tem uma história legal: quando Ricardo procurou seu amigo do Rio de Janeiro, Herman Faulstich, para desenhar a arte da capa do disco, Herman pediu para que uma letra que ele havia escrito fosse usada em uma das músicas, somente passaram para o inglês e surgiu a penúltima faixa do álbum. Ele teve total liberdade na elaboração do design gráfico, ouviu as músicas e a partir daí fez a criação. Se Portal é a iniciação, a sétima e última música, Sequel, é o desfecho de um ciclo. “Tanto a primeira quanto a última, são instrumentais, tipo o nascimento e a morte. O instrumental é como se ligasse uma música com a outra. Qualquer história que tenha um personagem, um indivíduo, é assim”, esclarece Ricardo.

Arte da capa: Herman Faulstich

Elixir foi feito de maneira totalmente independente, financiado pelos próprios músicos. Pouco antes da gravação, utilizaram o crowdfunding como estratégia para alavancar a grana, lançando uma campanha na Catarse. Porém, a divulgação ficou estritamente entre os amigos e acabou não alcançando a quantia de que necessitavam. “O lance do crowdfunding, analisando depois de certo tempo, acho que não deu certo, primeiro porque ninguém sabia o que ia sair e a gente não tinha metade dos ouvintes que temos hoje. Também, porque foi muito em cima, a gente não fez um estudo muito meticuloso da campanha. Mas eu, pelo menos, não descarto a ideia de fazer isso para um segundo disco não”, diz Ricardo.

Terminamos a conversa ao som particular da guitarra nova do Ricardo, uma Epiphone Dot, design vintage, cor de cereja, perfeita para blues. “A vontade de tocar é tanta, eu estava há um mês sem tocar porque não trouxe a minha antiga para cá”. Ricardo carrega a guitarra consigo desde a infância e considera o aprendizado com a música, mais do que um estudo, uma descoberta.

 
 
 

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