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Meu adolescente interior

  • Julia Pessôa
  • 22 de set. de 2015
  • 2 min de leitura

Foto: Pedro Henrique Rezende

Fico transtornada quando falam mal de Juiz de Fora. Não nasci aqui, não cresci aqui, nunca fui a show no Tupynambás ou conheci o Museu Mariano Procópio em excursão de escola. Mas aqui é minha cidade, há 12 anos já. 12 anos, o filho adolescente que podia ser daqui. Talvez seja ele que se rebele dentro de mim quando ouço frases depreciativas sobre este meu canto no mundo. “Em Juiz de Fora não tem o que fazer”, “Juiz de Fora não tem música de expressão”, “Juiz de Fora não tem cultura”.

Certa vez, quando eu ainda era xófem e universitária, tive que fazer um trabalho em dupla, uma matéria de jornalismo cultural, que abordasse a identidade musical de Juiz de Fora. Na época, auge do compromisso com quase nada, a vida era uma sucessão de Sextas Culturais com o reggae do Rama Ruana e quartas de samba no Muzik, e não se engane: o povo jogava os braços pra cima e cantava a plenos pulmões quando ouvia Mamão, e não Paulinho da Viola (te amo, Paulinho, mas é verdade). No fim de semana, com sorte e/ou dinheiro, podia rolar um Radiocafé no Cultural velho de pau. E neste cronograma, cabia substituir o local e a atração, mas o importante era sempre podia se ouvir um som daqui.

Discutindo o trabalho, eis que ouço de minha dupla:

– Pô, é foda. Juiz de Fora não tem identidade musical não!

-Tá doida? Difícil vai ser falar de tudo, definir a identidade – se é que dá pra fazer isso.

– Tá bom, o que você sugere?

– Sei lá. Vamos no Festival de Bandas Novas nesse fim semana para ver qual é.

– Ah não, Júlia, tenho horror de “música autoral”.

E é gente assim que, até hoje, sai espalhando “verdades absolutas” sobre a inexistência da vertente musical daqui, sem nunca se propor a conhecer ou se informar sobre a música que está sendo feito aqui.

Tem muita gente querendo ser ouvida, e muita coisa boa para presentear nossa audição. O problema é que há, também, muitos surdos. Para a ira de meu adolescente interior.

 
 
 

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