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Sobre blasé, eclipses e estrelas rimantes

  • Pedro Henrique (Oldi)
  • 29 de set. de 2015
  • 2 min de leitura

Foto: Igor Pires

Dia desses me peguei novamente versando sobre transeuntes, seres invisíveis em transição. Meu fascínio é grande em observar cada ser humano que passa por mim por poucos segundos entre um ponto e outro, uma ponte que deveria ser de identificação, mas em sua maioria é de invisibilidade.

Se estradas são pontes de conexão entre cidades; ruas e calçadões deveriam ser pontes conectoras de pessoas. Se cada trombada fosse um bom dia, se cada olhar desrespeitoso fosse um elogio sincero. Se leis não fossem normas controladoras e sim modos de convivência, talvez esse texto nem precisaria existir.

Mas já que existe, vamos lá!

O fenômeno blasé remete a indiferença diante da novidade, quase como um “tanto fez, tanto faz, isso não faz diferença na minha vida”. Poucas coisas no mundo globalizado de hoje conseguem impressionar e a maioria desses é conteúdo besteirol, engraçadinho e que nada engrandece, seguindo a linha de que é melhor rir pra não chorar.

Mas pera lá, esse riso está tão raso, nossa reflexão caminha perdida entre fatos irrisórios e totalmente sem sentido prático para nossa comunhão em sociedade. Entre o olhar egoísta para o nosso próprio umbigo e a contemplação de um eclipse lunar no alto de nossa visão, esquecemos de olhar ao nosso redor, nossa óptica em eterno estado de zoom, não consegue focar pontos próximos e sempre tem alçado caminhos que nos distanciam um do outro.

Convivo entre estrelas rimáticas que ocupam praças e preocupam reaças. Somos a farpa da madeira. Contra o perfeccionismo elitista, confeccionamos versos desconcertantes baseados no vocabulário das ruas. Batemos no peito cantando com orgulho que nossa maior faculdade sempre será o chão do asfalto e o banco da praça.

Nos organizamos nos mais diversos e orgânicos grupos de rimadores por todo canto do Brasil. Você já nos viu por aí? Pois bem, aquele pequeno grupo faz parte de um grande batalhão chamado de Hip Hop. Batalhão de resistência contra a apática falta de opção de diversão e convívio social no seu mais puro sentido. Somos o preto e branco contra falsa sensação de colorido que o mundo promove.

Pois colorido é sua camada externa, falsa veste que esconde o acinzentado universo das coisas enlatadas que nos oferecem desde supermercados a filmes blockbusters, em salas de cinemas que mais se destacam pelo conforto da cadeira do que pela própria programação oferecida visualmente.

Nosso batalhão rimático segue na função de iluminação pública, talvez não chamando tanto a atenção como um eclipse lunar, mas aqui não há camada para se esconder, não temos tanto tempo para selfies quando o olhar é panorâmico. Qualquer dia você nos vê por aí, é só tirar esse seu óculos blasé e deixar-se enxergar o mundo lindo que podemos construir juntos.

 
 
 

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