Repertórios da Música Autoral
- Carime Elmor
- 29 de out. de 2015
- 2 min de leitura

Fotos: Carime Elmor
É maravilhosamente surpreendente perguntar a um artista que faz música autoral sobre a sua vontade inicial de começar a compor, e receber como resposta: “Eu faço música autoral desde que eu aprendi a tocar um instrumento, aos 14 anos. Até mesmo antes disso, as músicas vinham na minha cabeça, aí eu peguei um gravador do meu pai e gravei umas 10 fitas lalalala, lelelelele e as letras.” Lucas Avelar já começou a compor antes mesmo de entender como tocar um instrumento, por ter a musicalidade em si. Logo depois, perguntei sobre a importância de expressar sentimentos próprios e criar algo inteiramente seu, ao que Bernardo Dias responde: “A sobrevivência artística está baseada nisso, o que me alimenta é poder fazer coisas novas, poder criar, depois gravar e ficar nessa expectativa de lançar algo novo.”
Era uma noite de quinta-feira, chuva e um friozinho gostoso. Na Livraria liberdade, espaço de Juiz de Fora aberto à música autoral, Bernardo e Lucas, ambos músicos da capital mineira, faziam uma apresentação trançando seus repertórios em versão acústica. O ambiente era intimista, um aconchego de nos fazer parecer estar na sala de nossa casa. Os dois pareciam falar com os parentes em uma reunião familiar, mesclando músicas com falas. Dessa troca, revelavam-se histórias pessoais sobre as composições. Lembrei-me daquele vinil do Toquinho e Vinícius: O Poeta e o Violão, em que os dois vão cantando e conversando, na verdade, já começa o disco com o dedilhado e a fala dos dois dedicando Tristeza à algum parceiro musical.
Essa forma da apresentação de Lucas e Bernardo foi muito interessante para entendermos, por exemplo, o porquê da letra de “Vilma”, de Bernardo Dias, que pode parecer ser para um amor, mas era para sua psicóloga. Ou “Musley”, narrativa bastante divertida sobre um cãozinho familiar ao músico. Lucas Avelar tocou músicas de seu último álbum lançado – Coisa de Cinema – e explica que tem relação aos momentos extraordinários da vida cotidiana, que parecem a cena de filme, ou seja, relacionam-se com a expressão popular em si, e não com a arte audiovisual.
Lucas Avelar tem uma voz marcante. Da fala ao canto, ela se faz notável e viaja aos nossos ouvidos de forma macia. Bernardo Dias parece estar envolvido profundamente ao dedilhado de seu violão. Traz músicas fresquinhas que pude ouvir em primeira mão, junto a outras de seu projeto Vitrolas Rock. Seu último álbum - Mordomo - será lançado amanhã, em Belo Horizonte, na A Autêntica. Além de músico, Bernardo é um dos donos dessa casa de show aberta às produções musicais independentes.
Além do concerto, Marcelo Castro fez sua discotecagem de vinis embebida na autenticidade que ele propõe: girou por lá os discos do Vinil é Arte e da Collector’s Choice BH, bem como outras produções de caráter independente. Foi ele quem convidou Bernardo e Lucas para se apresentarem à Juiz de Fora, uma proposta bacana que poderia acontecer com ainda mais frequência. É a oportunidade de conhecermos músicos e bandas de lugares próximos daqui e gerar essa conexão, intercâmbio musical, principalmente entre os artistas.



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