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Axé!

  • Carlos Fernando Cunha
  • 9 de nov. de 2015
  • 2 min de leitura

Para consertar uma vara torta, não basta trazê-la para a posição correta. É necessário vergá-la para o lado oposto (Lênin)

A nossa música popular. Boa de ouvir e boa de pensá-la. Boa de pensar a partir dela, nossa sociedade, nossos dilemas, nossas utopias, nossa história.

Como escrevemos em texto anterior neste blog, a gênese da música popular está no final do século XIX e início do século XX, um processo ligado à urbanização e ao surgimento das classes populares e médias urbanas. Essa nova estrutura socioeconômica, produto do capitalismo monopolista, fez com que aumentasse o interesse por um tipo de música intimamente ligada à vida cultural e ao lazer urbanos.

E como pensar esse processo históricos nas Américas, no Brasil?

Marcos Napolitano, pesquisador dos bons no campo da História da Música, afirma que nas Américas, num primeiro momento, a música popular incorporou formas e valores musicais europeus. O bel canto, a sonoridade homofônica das cordas, as consonâncias harmônicas agradáveis, o ritmo suave, marcaram os primeiros anos da experiência musical popular. Mas, na medida em que a constituição das novas camadas urbanas, sobretudo os seus setores mais populares, não obedecia a um padrão étnico unicamente de origem européia (com a grande descendência de grupos negros e indígenas), novas formas musicais foram desenvolvidas, muitas vezes criadas a partir da tradição de povos não-europeus. Alguns dos gêneros musicais mais influentes do século XX podem ser analisados sob este aspecto. O jazz norte-americano, a rumba cubana e o samba brasileiro são produtos diretos dos afro-americanos que incorporaram paulatinamente formas e técnicas musicais européias. O campo musical popular desenvolvido nas Américas apontou para uma outra síntese cultural e, guardadas as especificidades nacionais e regionais, consolidou formas musicais vigorosas e fundamentais para a expressão cultural das nacionalidades em processo de afirmação e redefinição de suas bases étnicas.

A nossa música popular brasileira também é fruto desse processo em que, paulatinamente, o modelo de canção que seguia os padrões derivados da música erudita, foi confrontado com outro modelo que se pautava pela acentuação de uma célula rítmica, pelo reforço dos timbres dos instrumentos de percussão e pelo andamento mais rápido voltado para a dança.

Vocês estão pensando no samba, não é? Sobre ele, mais especificamente, escreverei em dezembro, quando comemoraremos o Dia Nacional do Samba.

Esse texto, escrito e publicado em novembro, tem a intenção de demonstrar que nossa sociedade, nossa história e nossa música são marcadas pelas mediações, fusões, encontros de etnias, classes, regiões e outros grupos que marcam a nossa brasilidade. E nesse processo, por incrível que pareça, ainda é preciso dar visibilidade, reforçar e comemorar a ação do povo negro africano e do povo negro brasileiro na conformação da nossa brasileira música.

Pois salvem João da Baiana, Flavinho da Juventude, Clementina de Jesus, Tia Ciata, Sinhô, Donga, Cartola, Aniceto, Candeia, Ismael Silva, Paulo da Portela, Paulo Brazão, Martinho da Vila, Leci Brandão, Nelson Sargento, Xangô da Mangueira, Ana Costa, Teresa Cristina, Sandra Portella, Alessandra Crispin, Ivone Lara, Coração, João Cardoso, Gilbert Salles, Ângelo Goulart, Xande de Pilares, Jair Rodrigues, Jovelina Pérola Negra, Almir Guineto, Dicró, Mussum, Nei Lopes, Jamelão, Cláudio Jorge, Marcelinho Moreira, Agrião, Mart´nália, Paulinho da Viola, Djavan, Luiz Melodia, Milton Nascimento, Gilberto Gil e todos os bambas da nossa música!

Salve o 20/11, Dia da Consciência Negra! Axé!

 
 
 

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