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Segundo dia do Festival Sem Paredes

  • Carime Elmor
  • 16 de nov. de 2015
  • 7 min de leitura

O último domingo foi tomado pelas intervenções da 5ª edição do Festival Sem Paredes, foram 12 horas de ocupação artística na Praça Antônio Carlos. Projeto de poesia, brechós, stand de acessórios e cantinhos gastronômicos fizeram com que uma bonita feira ao ar livre fosse aberta, expondo trabalhos carinhosamente criados por pessoas que dão vida a objetos e ideias inteiramente artesanais.

A programação musical contava com seis bandas, sendo quatro de Juiz de Fora. Teve ainda a discotecagem do Dj Cabide, no meio da tarde, enquanto a galera ainda se aproximava para ficar por lá até o sol se pôr e a noite adentrar. A primeira apresentação, concomitantemente à La Feira, já começou em um formato diferente; uma pessoa só, Guido Del’ Duca, com a apresentação Homem Banda, somente de músicas próprias. Acrescentou ao seu concerto, a participação de Kadu Mauad e Marte Mc. “As pessoas estavam prestando atenção no som, foi um dos shows mais legais que eu já fiz. Poder vir em um festival e tocar somente músicas próprias é o sonho de todo mundo que está começando. Foi uma boa ideia colocar meu som nesse horário de 12h, as pessoas estão chegando e conhecendo o lugar. Lá no palco, mais tarde, vão estar bandas grandes, acho que um dia meu som pode chegar lá, mas eu estou iniciando e foi legal para irem me conhecendo”. Na próxima semana, dia 21, tem lançamento de seu EP e Guido contou que a presença no Festival foi uma ótima maneira de poder, já antecipadamente, sentir a resposta do público.

Foto: Pedro Henrique Rezende

Das 17h até às 22h, música sem parar, sem paredes, sem teto, sem limitações. Ou melhor, existia uma regra maravilhosa: as bandas precisavam tocar essencialmente músicas autorias. Era o intervalo de uma banda recolher seus instrumentos e a outra já estava em pé ecoando o primeiro acorde. Subindo ao palco, pontualmente no horário, Uiara Leigo trouxe com ela parceiros grandiosos de seu novo trabalho Meu Canto é Segredo, que será lançado no dia 11 de dezembro. Hermanes Abreu, como a própria cantora o apresentou, é o maestro dessa orquestra. É o responsável pelos arranjos desse belíssimo trabalho metalinguístico, pois muitas das composições de Uiara, falam da própria música. Teve ainda os sopros do Caetano Brasil, que lançará seu CD no dia 12 de dezembro. A percussão gostosa de ouvir que combina com o sorriso largo do Rick Vargas, bem como o baixista Adalberto Silva e a bateria de Geison Vargas. Além de pré-lançamento do álbum, subiram ao palco todos juntos pela primeira vez, depois do longo tempo de criação, produção, gravação e ensaios. “A estreia foi total. O show foi todo autoral, a formação é nova, e é a primeira vez que eu faço em local aberto, à tarde e no domingo, isso foi sensacional. O Festival é muito livre, foi uma experiência incrível pra todo mundo. Começamos o show com a De Rezar, música que abre o CD e tem a intenção de louvar a música própria, autoral”, diz Uiara, ainda com a empolgação estampada no rosto e na fala de quem tinha acabado de descer do palco.

Foto: Pedro Henrique Rezende

A tarde seguiu com Hey Joe, que veio de outro canto de Minas pra cá: Leopoldina. Influência da Jamaica, principalmente Ska e Reggae, sem deixar de passar pelo Rock. Trouxeram o público para mais perto do palco e fizeram as pessoas até sambarem, porque afinal, como a música deles diz, “No Brasil tudo acaba em Samba”. Teve crítica político-social também, com o novo single Protesto, feito ao vivo, pela primeira vez, aqui na nossa cidade. “Consideramos Juiz de Fora nossa casa porque é gostoso demais tocar aqui, e quando a gente vem, a galera compra a ideia. Hoje, em um show praticamente todo autoral, reparamos que as pessoas estavam prestando muita atenção nas músicas, isso é muito legal, a cena em Juiz de Fora tem valorizado muito o som próprio”, falou Rodrigo Rosa que faz voz e violão. Já o Rodrigo de Sá, guitarrista e também vocalista, comentou sobre a participação da banda no Festival Sem Paredes: “É uma sensação de não estar no mundo em que estamos vivendo. Porque hoje a música é muito comercial, extremamente restrita, a mídia tradicional dita o que as pessoas têm que ouvir. E aqui a gente vem para um festival em que a regra é tocar pelo menos 80% de som próprio. Poxa, isso é lindo e raro. A gente torce para que se perpetue e que venham outras bandas de todos os cantos”. Hey Joe está com CD praticamente finalizado, e como Rodrigo de Sá brincou, é uma música Jamaicana Mineira. Além dos dois, o grupo é formado por Ricardo Oliveira, no baixo, Renan Souza, na guitarra, Lucas Ferrari, na batera e pelo trompetista Davidson Bronzato.

Foto: Pedro Henrique Rezende

Na fronteira entre o claro e o escuro, a The Basement Tracks começou seu show. A banda que surgiu com o vocalista e guitarrista Victor Fonseca, o baixista Rodrigo Baumgratz e na bateria, Lucas Duarte, tinha a intenção inicial de ficar mais em estúdio e que bom que toda essa ideia foi desenvolvida para ser o que são hoje. O som tem tudo a ver com as bandas alemãs de Krautrock, mas também com indies contemporâneos, como Tame Impala. Com o guitarrista Ruan Lustosa na banda, começaram a fazer apresentações, onde além do som, transmitem uma experiência sensitiva no palco. Mais pra frente, a entrada do tecladista Ruy Alhadas ajudou a definir bem o conceito do EP Songs From the Orange, lançado em agosto. No Sem Paredes, além das músicas desse trabalho completamente autoral, com composições, melodias e arranjos pensados pela banda, já duas novas canções apareceram.

Os músicos se juntaram com a intenção de criar algo próprio, de maneira muito livre e aberta, indo ao encontro da ideia de não serem marcados por um estilo musical restrito. As músicas passam emoção: sejam as mais animadas ou as mais calmas, todas têm uma densidade capaz de carregar quem os ouve e assiste para algum outro lugar. “Como fazemos música autoral, a gente sempre quis conquistar o público tragando as pessoas, para que elas entrem na onda e não importa se ainda não conhecem, elas vão estar ali, envolvidas naquele sentimento”, explica Rodrigo. Sobre a apresentação no Festival Sem Paredes, Victor falou: “Foi a primeira vez que tocamos em um local aberto, não só espaço, mas com um público de cabeça aberta. O som estava ótimo e gostei do horário porque eu sempre tive o sonho de tocar durante o dia ainda, e acabar à noite”. Ruan, guitarrista, foi quem deu a notícia para toda a banda quando foram selecionados. Após o show, ele comentou sobre como foi a participação: “Tocar em um festival que é uma ocupação artística importante para a cena cultural de Juiz de Fora, por ser um evento super diversificado, é muito bacana, e veio quem quer ouvir mesmo”.

Foto: Pedro Henrique Rezende

Mais tarde, a penúltima apresentação, era a grande surpresa. A banda que a maioria nunca tinha visto tocar. Supercolisor é de Manaus, mas os integrantes moram todos em São Paulo. Ian Fonseca, Zé Cardoso, Diego Souza e Natan Fonseca são músicos multitarefa, a ponto de que eles mesmos pegaram estrada para chegar aqui e tocar. “Vir para Juiz de Fora foi uma aventura, a gente veio de carro, nós mesmos dirigindo com todos os equipamentos, muitas horas de viagem, muita estrada, muitas paisagens bonitas e coisas perigosas também”, comenta Diego. O show faz parte da turnê do disco Zen Total do Ocidente, com arte e tipografia desenvolvidas também por eles. As fotos incríveis do encarte são do fotógrafo iraniano Mohammad Reza Domiri Ganji, de apenas 21 anos, que encontraram enquanto buscavam por trabalhos de artistas do mundo todo. A banda está rodando o Brasil e a ideia, segundo eles, é expandir o público e fazer contato com outras bandas. São autênticos por cantarem em português músicas com influência de rock clássico. Outro ponto interessante é que os músicos vão trocando de instrumentos e mesmo durante o processo de composição, isso aconteceu.

A banda tem oito anos, dois discos, e, também se uniram já com a ideia inicial de fazer música autoral, som novo. Quando falaram com a banda sobre o Sem Paredes, eles animaram tentar vir, porque gostam muito de Minas. “Muitos festivais que nós já tocamos eram em um local específico para o evento, aqui já foi diferente porque é em uma praça no meio da cidade. É um desafio porque você tem chamar a atenção do pessoal. A gente fica pensando em qual música devia tocar para encaixar melhor no momento e atrair o público”, explica Ian. Outra questão que me chamou a atenção e Ian explicou, foi em relação à parte imagética, tanto da animação do clipe Planetário, quanto do álbum. “A gente sempre teve muito cuidado com a parte estética, pensamos como se a música fosse uma espécie de um filme, como se nossas músicas fossem dialogando com imagens”.

Foto: Pedro Henrique Rezende

A Visco foi quem colocou o ponto final no Festival Sem Paredes 2015. Tocaram músicas do primeiro álbum, Visco Um e, também, fizeram ao vivo, pela primeira vez, o single Tão Longe, que acabou de ser lançado e fará parte do próximo EP da banda. O som é uma mistura de rock’n’roll que contem influências clássicas, mas principalmente contemporâneas. Música direta, bem crua, que permite as pessoas dançarem ao ouvir. “Falando do público, hoje eu tive a emoção de ver uma menina que não tem nem 10 anos e curte o nosso som. Ela não tem idade para ir ao Cultural, por exemplo, mas aqui é aberto, e ela veio. Foi a primeira vez que eu tirei foto com uma criança e ela já até tinha nosso disco. Por outro lado, tinham músicos de respeito, que têm trabalhos grandiosos na cidade, acompanhando atentamente nosso show. E sem falar nas pessoas que talvez jamais tenham visto a gente tocar, como uns caras que eu encontrei na fila do banheiro, e que falaram – o som de vocês é demais!”, contou o baixista Roney Gonçalves sobre as impressões que teve em tocar em um festival com um público tão diverso.

A banda já saiu de lá com a ideia de manter contato com os outros músicos que conheceram. Estabelecer essas conexões de um trabalho com outro, é um dos grandes incentivos de um festival. “A gente tem uma proposta de fazer intercâmbio com as bandas; trazemos as bandas aqui para tocar, e em contrapartida vamos tocar lá com eles. E é muito legal fazer um show em um festival assim, com setlist só de músicas nossas, onde conseguimos ser nós mesmos”, diz Daniel Marques, vocalista.

Foto: Pedro Henrique Rezende

 
 
 

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