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Meu amigo oculto

  • Fernanda Amaral
  • 27 de nov. de 2015
  • 3 min de leitura

Foto: Pedro Henrique Rezende

Passado o turbilhão do período de avaliação dos projetos inscritos este ano no edital da Lei Murilo Mendes já me permito uma pausa para refletir acerca de todo o processo. Digo isso apesar de minha convicção de que o distanciamento histórico, geográfico e afetivo permitiriam, pelo menos de minha parte, uma visão mais lógica e precisa desse momento. E deixo claro que tudo a ser dito aqui reflete unicamente uma visão pessoal, baseada nos diálogos e experiências vividas por mim nos últimos anos.

E é nessa hora que o cursor do teclado para e pisca pra mim, como se me perguntasse: o que é preciso para ser aprovado? Por que meu projeto não foi aprovado? Por que meu projeto foi contemplado com 80% do valor solicitado? Os questionamentos diários a que sou submetida povoam minha cabeça, junto aos rostos e vozes de todos que os fazem. Some-se a isso minha grande vontade de encontrar mecanismos claros de responder a todos eles.

E se eu respondê-los com algumas perguntas? Você conhece realmente seu projeto? Você tem uma equipe que estará com você daqui a alguns meses, quando entrará em estúdio pra gravar? Você conhece cada detalhe de como é produzir um evento em praça pública? Você tem um planejamento? Você tem um plano de mídia? Já sabe onde mixar e masterizar seu CD? Você sabe que terá que registrar todas as faixas? Quantas pessoas se beneficiarão na cadeia produtiva de sua proposta? A quem interessa o que você propõe? Tem certeza de que os valores apresentados em sua planilha correspondem àqueles praticados no mercado local?

Pois bem, você acredita no seu projeto e respondeu de maneira positiva a todas as perguntas anteriores, mas então, você decide que seu trabalho deve ser levado a diversas partes da cidade. Já se perguntou se aquele cidadão a quem você supostamente se dirige está interessado no que você deseja levar até ele? Será que ele já não possui uma identidade cultural que lhe imprime característica tal que o torna incompatível a sua proposta? Você conhece seu público?

Então, às vésperas do Natal das carapuças eu digo a você, meu amigo oculto: se você é muito seguro e sabe fazer um projeto como ninguém, às vezes chega a hora de descobrir que não comprovou sua residência da maneira indicada pelo edital, ou esqueceu de anexar a anuência do compositor de uma das músicas de seu disco, ou não imprimiu a última letra cifrada dentre todas aquelas que você teve um trabalhão pra fazer. Sem problemas, tente novamente, afinal, ano que vem tem mais, se Deus quiser e a Nossa Senhora da Arrecadação Municipal também.

E com carinho digo a você, meu amigo oculto: não se aflija, não desista, acredite! Inúmeros profissionais muito competentes e talentosíssimos não são contemplados, às vezes por várias edições da Lei. Estamos falando aqui de um edital, um concurso, que possui critérios próprios e precisos. Se o “fazer boa música” ou ter um “ótima ideia” fossem os únicos critérios adotados, seriam necessárias, pelo menos, umas 10 edições anuais da Lei Murilo Mendes porque, sinceramente, 99% daqueles que se inscrevem atendem a essas exigências.

O caminho buscado pela Lei é o de maior imparcialidade possível, portanto, quem se inscreve não pode ficar à mercê do gosto ou tendência da equipe que irá avaliá-lo. Critérios objetivos são mais que necessários. E lembre-se: se você não conseguiu não desista do belo trabalho que vem realizando, com ou sem incentivo.

Meu amigo oculto, dizem por aí que todo artista tem um grande ego, porém há um momento em que é preciso deixá-lo de lado e participar efetivamente do processo. Envolva-se e não deixe para os quarenta e cinco do segundo tempo. Se você deseja tanto concretizar sua proposta, não custa nada perder um tempinho maior e investir nos detalhes desde já, porque eles farão toda a diferença.

E lembre-se sempre: toda vez que você afirma que não concorda com os projetos que foram aprovados, deixa uma mensagem implícita - a de que seus colegas de labuta cultural não são bons o bastante para merecê-lo.

Se liga meu amigo oculto, é preciso #VerEOuvirACidade

 
 
 

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