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Circuito Regional Autoral: o 3° domingo

  • Carime Elmor
  • 24 de dez. de 2015
  • 7 min de leitura

“Vamos fazer um evento assim, chamado Circuito Reginal Autoral. Vamos fazer no fechar da cortina mesmo, em dezembro. A gente abre uma inscrição na internet, seleciona 20 bandas e coloca entrada franca”.

(Luqui Di Falco)

O CIRCUITO

A proposta é a de destinar quatro finais de semana seguidos para a música autoral produzida em Juiz de Fora e na região. Mas porque aos domingos? Conversando com um dos cabeças do projeto, Luqui Di Falco, me pergunto, porque não aos domingos? E assim está sendo feito. “Eu escolhi domingo por causa disso, tem que ser esse clima de troca, de alegria, um ambiente tranquilo com a galera tomando uma cerveja sentada. Na música autoral, o lance é a troca e a experiência. É o calor humano que faz acontecer”.

No primeiro semestre de cada ano a GM Produções organiza o JF Rock City. A ideia do circuito foi uma forma de agitar as produções no segundo semestre, com diferentes estilos musicais revezando o palco. O evento está acontecendo no Galpão Lounge Bar e a entrada é gratuita. Esse texto apresenta a cobertura do último domingo, dia 20, mas no próximo, 27, tem mais. “A gente estava focado em outros projetos e aí um dia houve um burburinho de que estava tendo muitos covers na cidade, e, no caso, como encabeçamos muitas produções, também tínhamos muitos eventos com covers e a gente também não gostava”. O Circuito deste ano, segundo o organizador, é um investimento para 2016, seria o primeiro passo para que nos próximos anos ele aconteça com outra estrutura e, de repente, até em outra época. O Galpão garantiu o espaço, GM Produções criou e fez acontecer. Embora tenham um bom relacionamento com a prefeitura e tenham pedido para arcarem com a parte dos custos referente ao som, ainda não obtiveram resposta.

O retorno do público está satisfatório, nos primeiros dois finais de semana, segundo Luqui, o espaço estava bem cheio. No dia 20, mesmo com a proximidade do natal, aos poucos o Galpão foi sendo invadido por pessoas de Juiz de Fora: amigos dos músicos, ou mesmo aqueles que querem conhecer novos sons. (Não subestimem o público de Juiz de Fora, tem gente querendo ouvir música autoral sim! Pode ser algo ainda incipiente, é lógico, mas são eventos como esse que farão essa cultura crescer).

SELEÇÃO DAS BANDAS

254 bandas inscritas, 20 selecionadas, ou seja, 5 para cada final de semana. Bandas do Brasil inteiro se inscreveram e para decidir quais iriam tocar, foi formada uma curadoria de dez músicos. Alguns critérios foram instaurados para delimitar a escolha, como: qualidade da produção, a banda tinha que ter repertório para fazer um show autoral completo, e, por último, escolheram bandas de um raio de 80 ou 100km no máximo, já que a ideia é ser regional.

“Na nossa peneira tinham bandas muito boas, mas que não se adequavam. Eu sei que o show dessas também é ótimo, mas teve banda, que com dor no coração, a gente deixava de fora. É uma maneira de elas enxergarem que precisam entrar mais a fundo no autoral, produzir mais, se comunicar bem com o público, gravar um disco, um EP, um clipe. É claro que tudo gasta, mas com criatividade a gente consegue fazer as coisas”, explicou Luqui.

AS BANDAS DO DOMINGO 20/12

Houve uma mescla de sensações nesse dia de circuito: MPB, Rock, Reggae, Rock Alternativo e Pop Rock. Inaugurando, ainda com o sol lá fora, Laura Jannuzzi subiu ao palco por volta das 18h30. É certo dizer que alguns probleminhas técnicos no som do espaço fizeram com que sua apresentação começasse um pouco mais tarde, mas quando ouvimos sua voz, que coisa boa de viver! Privilégio nosso poder ouvir previamente as músicas do seu primeiro álbum Ondes, que será lançado em fevereiro de 2016 aqui em Juiz de Fora.

Laura Jannuzzi e músicos que participaram da gravação do seu novo álbum - Foto: Cecília Samel

O produtor do novo álbum é o Nando Costa, que também é o guitarrista desse trabalho. Ao lado de Laura ainda estavam o baterista João Cordeiro, o baixista Marcelo Mattos, o tecladista Pablo Garcia, o percussionista Rick Guilhem, o violonista Renato da Lapa, e, ainda houve a participação do saxofonista Caetano Brasil.

“No último ano eu senti que a música autoral teve mais visibilidade por vários projetos que se iniciaram. E o Circuito Regional Autoral surgiu para fechar e consagrar um ano tão massa para a música autoral. Foi fenomenal, uma ideia incrível, só banda bacana, fazendo o próprio som e sentindo como é. Porque acredito que muita gente, como eu, nunca tinha feito um show somente com música autoral”, comenta Laura.

Em seguida, a banda Doisó de São João Nepomuceno se apresentou pela primeira vez em Juiz de Fora. Embora o projeto seja do Thiago Pável e do Alício Alves, David Ricci foi convidado para participar da apresentação do EP Sobre os Passos, que está em fase de gravação. Doisó é uma banda com apenas dois músicos, que teve muita influência do Pouca Vogal. “Como a gente não tinha a referência da bateria pra conduzir, foi ensaio nota por nota. Eu tive que mudar meu jeito de tocar violão. Eu faço um violão fingerstyle, que é um violão mais percussivo, que marca, faz a linha de baixo junto”, comenta Thiago.

Doisó, banda de São João Nepomuceno pela primeira vez em Juiz de Fora - Foto: Cecília Samel

A intenção é de fazer músicas próprias que prendam o público. Para isso, no repertório aparecem críticas pesadas de cunho político-social, como uma chamada Isabella dedicada às tantas crianças que sofrem e sofreram violência. Teve música em homenagem à Juiz de Fora falando sobre os artistas independentes também. O show foi oscilando, entre rock mais gritado, baladinha de amor e folk.

A terceira banda foi a Rádiocafé, com uma pegada das bandas contemporâneas de rock como Strokes, Kings of Leon e Queen of the Stone Age, sem perder o caráter bem marcante da influência dos Beatles. Chegaram ao palco e substituíram o microfone por um como o do Elvis, o baixista usou um hofner e o guitarrista tocou com uma semi-acústica bem vintage. Eles comentaram sobre a banda querer se afirmar somente como banda que toca música própria, mas desde então, estão tendo mais dificuldade de conseguir espaço para tocar em Juiz de Fora. “É difícil um público ir para uma casa de show sabendo que as bandas vão tocar somente música própria, isso é raríssimo. Por isso, essa iniciativa tá de parabéns. Todo mundo que tá aqui veio para ouvir a banda, conhecer nossos trabalhos”, comenta o vocalista Rodrigo Coura.

Radiocafé - Foto: Cecília Samel

O novo disco, que será lançado em breve, teve participação de quarteto de cordas na gravação, metais e violoncelo. Mas como não é viável trazer todos para tocarem, fizeram esse show usando sampler com a intenção do ao vivo ser o mais fiel possível às gravações. A banda é composta pelo baterista Tiago Viana, o guitarrista Rafael Ski e o baixista Eduardo Rosseti, e além de cantar, Rodrigo Coura também assume a guitarra. A banda tem dois clipes lançados, três EPs e o próximo passo é lançar o primeiro full album.

A penúltima banda foi puro rock’n’roll: Obey! tem o vocal pesadíssimo do Igor Santos, e a essa hora o público já estava em pé no Galpão. A aproximação dos músicos com quem estava assistindo foi o que chamou minha atenção, eles diziam no palco: “Hoje somos um só, banda Obey! e público. Espero que vocês gostem”. E estava estampado que a resposta foi positiva, já que uma roda de mosh surgiu para deixar tudo no clima que a banda planejava. Como disse um deles, “quando tem mosh a gente fica muito feliz”. Já lançaram dois EPs. O último lançado em 2014, chamado Tudo no Seu Lugar, tomou boa parte do repertório da apresentação no circuito, misturada com músicas fresquinhas que farão parte do próximo álbum que começará a ser gravado em 2016.

O guitarrista Marcel Melo e baixista Ge Alvarenga da Obey! - Foto: Cecília Samel

Consideram que 2015 tenha sido uma semente de um crescimento que está por vir. “Eu acho que questão de espaço a gente está galgando, estamos fazendo eventos e dando força pra galera de Juiz de Fora fazer novos festivais, coisa que ano passado não teve de jeito nenhum. Antes, sempre tínhamos que tocar com cover, mas esse ano houve um aumento de eventos como o Circuito, em que se é obrigado a tocar somente autoral”, fala o guitarrista Douglas Rodrigues. Eles consideram que esse ano as bandas começaram a mostrar mais seu som próprio e conquistar seguidores, disseram que estavam cansados de tocar música dos outros somente para benefício das casas de show. Além de Igor e Douglas, a banda é formada pelo guitarrista Marcel Melo, pela batera de Lipe Tadeshi e pelo baixo de Ge Alvarenga.

Para fechar, os rapazes da Babylon Brasil mostraram seu reggae enquanto o público começava a mexer e dançar. A maior parte do repertório era de músicas do primeiro álbum Quarta-Feira, lançado em setembro deste ano. Cada um na banda tem sua autoridade na hora de criar e compor, e no final eles juntam tudo e escolhem um pouco de cada um para entrar no álbum, por isso, consideram que o álbum seja uma aquarela: tem reggae, mas também tem uma pegada funk melody. A produção não para, estão sempre compondo e esse processo é muito natural. “A gente fez uma música muito bacana essa semana. Eu estava em casa fazendo uma base, fui à casa do Héros, ele já pegou o violão, começou a fazer aquela base, começou a sair a música, fomos levando e começamos a formar o refrão, aí, no outro dia a gente já estava na casa do Marrokinus, ele sentou e fez a letra. Tem três dias que a gente fez”, conta o baixista Rafael Senra.

Babylon Brasil - Foto: Cecília Samel

Apesar da explícita animação com o show do Circuito Regional Autoral, ao falar sobre o mercado de música própria na cidade, o vocalista Marrokinus não mostrou muito otimismo em relação ao que sente pelo espaço que Juiz de Fora dá à música autoral. “Eu me decepcionei muito com Juiz de Fora, eu sempre quis ser alguém aqui, porque eu sou daqui. Esse é um relato pessoal, eu sou um cara decepcionado porque aqui tem pérolas ilapidáveis - eu diria. Daqui saíram vários talentos da música, mas é muito difícil viver de música em Juiz de Fora, não valorizam a gente. Por isso fizemos esse álbum com rumo a Brasil e está dando muito certo”.

A formação da Babylon, além de Marrokinus e Rafael, é composta pelo guitarrista Héros Campos, pelo baterista Vitor Ulisses e pelo guitarrista Leandro Costa.

*Obrigada Cecília Samel por colaborar com a fotografia.

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