Personagens do carnaval
- Karoline Discaciati
- 23 de jan. de 2016
- 3 min de leitura
No ano em que se completa 50 anos de desfiles em Juiz de Fora, as escolas não sairão na avenida. O assunto já foi abordado na 2º Edição da nossa revista digital, mas para falar mais sobre o assunto, nós fomos atrás de pessoas que dedicaram grande parte de suas vidas a essa festa. Nessa entrevista você vai conhecer mais alguns personagens que tem sua história atrelada ao carnaval da cidade.
Para que um intérprete seja de fato muito bom naquilo que faz, é necessário que haja um casamento entre a voz e a canção. Cada palavra tem de ser cantada com o sentimento exato. Maury Luna Vieira se dedicou por muitos anos à interpretação de sambas-enredo, passando por várias escolas da cidade.

Arquivo Pessoal: Maury Luna Vieira - Real Grandeza (1998)
Maury, como começou seu interesse pelo carnaval?
Antigamente eu ouvia muito o pessoal dizer “escola de samba é pra crioulo, é pra negro, dá muita briga, muita pancada”. Eu pensava “mas que isso, não pode ser”. Eu morava na Oscar Vidal, o Partido Alto tinha uma quadra na Espírito Santo parte alta. Um belo dia, com 21 anos eu falei assim: “vou subir lá e dar uma olhadinha pra ver quê que é isso”. Tinha perguntado um camarada que horas que começa. “Nove e pouca”. Aí fui. [...] Aí entrei na escola, to lá vendo os caras cantar, a bateria batendo, batendo, e eu cantava, sabia interpretar alguma coisa, tinha alguns sambas na cabeça. Falei “gente, eu vou fazer uma coisa aqui, eu vou pedir pra cantar”. [...] O carioca, um cara muito conhecido no carnaval de Juiz de Fora, tava como locutor na quadra, aí falei “ô meu irmão, deixa eu levar um pagodinho aí”, e ele “pode vir, pode vir”. [...] De repente eu subo, a quadra lotada, aí comecei. Cantei um samba. Acabei de cantar e o presidente mandou eu cantar mais um. A sorte é que eu sabia outro samba. Nisso ele já gostou de mim, me pediu pra voltar no outro ensaio. Eu fui indo e me apaixonei pelo Partido Alto. No outro ano, em 81, já estreei na avenida.

Arquivo Pessoal: Maury Luna Vieira - Estréia Partido Alto (1981)
O que você acha que mais mudou do carnaval dos anos 80 para o carnaval atual?
As composições do carnaval de Juiz de Fora caíram muito. Os sambas de dez, vinte anos atrás eram lindos. Hoje você não acha uma poesia mais. Você canta um samba hoje numa escola, no outro ano, eu vou naquela escola e o cara fala: “Maury, manda o samba do ano passado pra mim”. Sabe o que acontece? Eu não mando. O samba do ano que eu estreei, eu canto ele todinho pra você “O sol quando desponta na colina/acende a vida e a terra ilumina”. Isso é um samba lindo, o samba que eu estreei na avenida. [...] Hoje não é mais assim, você canta um samba num ano, no outro você não lembra mais. Porque não é bom.

Arquivo Pessoal: Maury Luna Vieira - Acadêmico Manoel Honório
O que falta para o carnaval de Juiz de Fora voltar a ser forte?
Eu penso o seguinte, escola nenhuma deveria se prender a essa tal verba [da prefeitura]. Todas as escolas deveriam trabalhar o ano inteiro, com pagode, com vários eventos para arrecadar o seu dinheiro e chegar na época do carnaval, não precisar de jeito nenhum do dinheiro da prefeitura. Eu penso assim, eles deviam trabalhar e suar a camisa e arrecadar. O Ladeira é um exemplo. O Ladeira se chegar no final do ano e quiser abrir mão do dinheiro da prefeitura, dá pra eles fazerem isso, porque com o dinheiro que eles arrecadam dá pra desfilar tranquilamente. Então era pra todas elas arregaçarem as mangas e trabalharem o ano inteiro. [...] Falta responsabilidade dos dirigentes e dos diretores. Montar uma diretoria de verdade e já começar a trabalhar pro carnaval do ano que vem, sem contar com verba de prefeitura. Já correr atrás, fazer o necessário para angariar fundos.

Arquivo Pessoal: Maury Luna Vieira - Unidos da Ladeira Tricampeão "Clara, clareia, clareou" o enredo (1984)
Comments