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Avenida na inauguração da Casa Pública

  • Carime Elmor e Luísa Moreira
  • 25 de mar. de 2016
  • 4 min de leitura

Dez pessoas da Avenida juntaram-se no último sábado, 19, de manhãzinha em uma van e partiram para o Rio. O primeiro Centro Cultural de Jornalismo Independente foi aberto no Brasil, mais especificamente em Botafogo, com festa regada a mate e abastecida de Biscoito Globo. Após viagem e almoço, adentramos, embora um pouco tímidos, na casinha antiga de paredes cor de rosa e lâmpadas que enfeitavam gentilmente a fachada daquele dia de inauguração. As expectativas durante a viagem eram: “será que vamos encontrar tal jornalista? Seria perfeito conversar com essa e aquela pessoa, e mais aquela e aquela”.

Chegamos cedo e já ocupamos a primeira fileira da palestra de abertura, que contaremos mais para frente como foi. A ideia de ir até o evento foi mesmo uma busca por inspiração para o nosso trabalho como coletivo. Mas o que vem a ser um centro cultural de jornalismo?

A Casa Pública vai ficar de portas abertas (das quartas aos sábados, das 10h às 21h ,na rua Dona Mariana, 81, Botafogo) para qualquer jornalista que queira utilizar o espaço para marcar uma entrevista, escrever, fazer uma reunião, ou mesmo para aqueles que trabalham como freelancer e que buscarão ali uma forma de estarem em contato, trocando ideia com outras pessoas da área. Agregando a essa proposta, a Casa funcionará como hospedagem para jornalistas gringos que estiverem em temporada de trabalho no Rio.

Foi bonito de ver, encontrar e conversar com membros de outros grupos independentes de jornalismo, como o Intervozes e o O Paranaense, que ainda está em fase de criação. O desvio da grande mídia está sendo a escolha de muita gente que busca produzir conteúdo de maneira autêntica e irrestrita. Dessa forma, a Casa Pública atuará para fortalecer ainda mais essas produções, bem como servirá de galeria para fotojornalismo e promoverá eventos com exibição de documentários investigativos. Ainda uma terceira intenção é que na casa funcione laboratórios de jornalismo transmídia, atrelado às novas tecnologias. Para começar esse processo de reflexão, as paredes da casa abrigam a exposição fotográfica coletiva Legados, sobre os reflexos dos megaeventos esportivos no Brasil e na população, organizada por Tina Leme Scott.

A Casa é uma iniciativa da Agência Pública e será administrada por eles, sendo uma das responsáveis Natalia Viana, diretora, juntamente com outras pessoas da Pública. Uma das gerentes é a Mariana Simões, que largou tudo que estava fazendo para ajudar a montar o projeto desse centro cultural. Além das frentes de atuação mencionadas acima, Mariana falou que a Casa está aberta para propostas de eventos de cunho jornalístico: caso a caso serão avaliados e, por enquanto, ainda não estruturaram como a Casa Pública funcionará em relação a incubação de novos projetos para acontecerem no espaço. Em um primeiro momento, será uma Casa de convivência entre jornalistas; a partir daí, muitas ideias de cabeças fervilhantes poderão aparecer para que o centro seja uma construção coletiva.

A Casa Pública será mantida e financiada por algumas fundações, entre elas a Ford Foundation e a Open Society. Tina Leme Scott, além de ser a coordenadora de cultura do centro em Botafogo, trabalha na Agência Pública como gestora de novos projetos e captadora de recursos. Ela comenta que, com o tempo, a intenção é conseguir com que a Casa Pública seja auto sustentável e fariam isso cobrando para a realização de algumas atividades, por exemplo, a fim de conseguirem arcar com os custos de se ter uma casa na zona sul do Rio.

A Agência Pública trabalha também com essas formas de financiamento institucionais, bem como crowdfunding, sendo a contrapartida deste último é a possibilidade do doador votar durante um ano nos temas das pautas que querem que sejam investigados. Uma terceira forma é a micro-bolsa pública de reportagem, financiado por ONG’s que queiram levantar temas que trabalham, cinco pautas são escolhidas dentro de um concurso que promovem.

A programação de abertura da Casa começou com uma mesa de debate sobre fact checking, a checagem de discursos públicos, um novo e crescente modelo jornalístico que confere elementos da fala de políticos e figuras de poder. A jornalista argentina Laura Zommer - fundadora do site Chequeado, o primeiro deste gênero na América Latina - foi entrevistada por Cristina Tardáguila, da Agência Lupa, e Tai Nalon, do Aos Fatos. Por ser um novo sistema, as percepções sobre como a checagem se constitui são diversas: o ambiente propiciou um bate-papo dinâmico, através da troca de experiências entre as interlocutoras. A discussão também adentrou pela democratização da mídia, quando Laura pôde abordar sua perspectiva sobre a “Ley de Medios” de seu país; para ela, por mais que o projeto seja um avanço, a forma como foi aplicado não possibilitou novos espaços, pelo contrário, acabou privilegiando certos meios de comunicação.

O segundo momento contou com Marina Amaral, uma das fundadoras da Agência Pública, que entrevistou Chico Otávio, dO Globo, e Rubens Valente, da Folha de S. Paulo. A ocasião trouxe como tema o jornalismo político investigativo e a atual conjuntura brasileira. Para um evento como esse, a escolha de jornalistas de meios tradicionais de comunicação não ofereceu pluralidade na maneira de se pensar a informação. Quando as perguntas foram abertas para a plateia, a forma de apuração dos fatos do jornalismo na grande mídia foi contestada. Neste momento, a intervenção de Osmarino Amâncio, seringueiro e militante, de Brasiléia (Acre), chamou atenção: o senhor levantou a falta de transparência de uma reportagem feita pelo jornalista Chico Otávio, que compunha a mesa. Na matéria mencionada foram feitas acusações contra ele, sem que se investigasse a fundo sua história. Quando inocentado no processo, o jornal também não fez nenhuma menção ao caso ou se retratou . Esta situação, nos coloca frente a grande reflexão que o jornalismo precisa fazer: como e para quem produzimos informação?

A Casa Pública nos permitiu encontros e experiências incríveis, assim como a possibilidade de conversar com gente interessada em discutir jornalismo independente nos seus diversos conceitos e caminhos. Sem dúvida, o último sábado nos abriu muitas portas. A verdade é que somos múltiplos e, nem sempre, as estradas são – ou precisam ser – as mesmas. Nós, aqui da Avenida, continuamos em busca do que todas essas possibilidades significam para nós, porém, com uma certeza: se não é independente, não é jornalismo - como nos disse, em entrevista, Bruno Torturra.

Confira o vídeo feito pelo Romulo Rosa:

 
 
 

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