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JF Rock City - Pt. II: solidariedade + valorização do rock autoral

  • Carime Elmor e Thiago Menini
  • 1 de abr. de 2016
  • 18 min de leitura

- 16 bandas, cara?

- Isso mesmo, e a Avenida vai tá lá, do início ao fim, cobrindo 12h de festival.

E foi isso. Parecia insano, mas, a cada show, a casa foi enchendo de pessoas de roupas pretas. Um festival que, nesta edição de 2016, prezou pelas bandas que tivessem um material autoral para expor ou em vias de produção; CDs a serem lançados, EPs, singles, clipes, enfim, muito material criado pelas bandas de rock de Juiz de Fora e região. Nós, Carime e Thiago, juntamente com nossa equipe de fotografia (Henrique e Lucas) e vídeo (Rômulo), na correria de um palco para o outro e nas entrevistas nos camarins, contamos um pouco do que aconteceu no segundo dia do JF Rock City.

Não esqueça de conferir o álbum que criamos no Flickr com todas as imagens do dia e o vídeo de cobertura:

O primeiro show foi o da Algar, ainda com a luz do final da tarde. A banda é formada por dois irmãos que decidiram pegar músicas que compunham juntos em casa e colocar para tocar. Nathan e Felipe Eiterer juntaram-se a Leo Barbosa, guitarra, e a Filipe Roque na bateria para formar uma banda de heavy metal que tem como característica a gravação caseria de baixo custo. No show, lançaram o single Lídia.

Após o show de abertura, a banda Metheora começou a tocar no deck, o palco em espaço aberto do Cultural. Ana Paes é tecladista e vocalista da banda, e seu vocal feminino é melódico, chamando a atenção por ser a única mulher, entre dois dias do JF Rock City, a subir no palco (Cadê essa mulherada rock’n’roll fazendo música autoral?). Além de Ana, a Metheora é formada por Raffael Tavares, na guitarra, Felipe Malta, no baixo e Richard Rodrigues, na bateria. Eles abriram o ano lançando o EP Meus Instintos e se destacam, também, pelas letras em português. Na edição desse ano do festival, entraram pra ilne up através de um concurso aberto para voto popular. A Metheora foi a que conseguiu mais curtidas em sua foto, somando em torno de 1.800.

A virada só estava começando quando o trio punk metal, Traste , assumiu o palco com o vocal gritado do Guilherme Melich, que acompanha a guitarra ensurdecedora do Alex Badaró e a porradaria da batera do Felipe Spinelli, que chegou atrasado e correndo para começar a tocar! Ao final do show, fomos conversar com o Guilherme, achei que ele estaria rouco, mas, por incrível que pareça, sua voz estava normal, mesmo nos contando que não faz nenhum tipo de aquecimento vocal antes de se apresenta,. “Cerveja e energia 100%, sem aquecimento, sem nada”. Nos contou que gosta muito do vocal do João Gordo, da Ratos de Porão, tem influência também do Kurt Cobain, do Nirvana, bem como tenta assimilar algo da voz do Max Cavalera.

A Traste é uma banda que surgiu em 2013, a partir de uma outra, mais antiga, a Dedo Amarelo, porém, dessa vez, a ideia é um som mais cru e direto. No final do ano passado, lançaram o segundo EP da banda, Encardido, e a novidade é que o próximo passo é o lançamento de um EP em vinil, feito através de incentivo da Lei Murilo Mendes. O mais novo projeto é denominado “3 em 1”, contém duas músicas dos dois primeiros EPs e mais duas inéditas. No show do JF Rock City a banda tocou Psyco Carlos, o clipe, que acabou de ser lançado, se passa na estrada, com o trio dentro de um Fiat 147. A história é inspirada em uma carona que o vocalista pegou com um motorista alucinado. Ele ficou com isso sufocado, até transpor para a letra e fazer a música.

Traste (Foto: Rômulo Rosa)

Encerrado o show, La Macchina já fazia seu primeiro acorde no palco ao ar livre. O contraste entre os sons da noite foi anunciado com um blues de pegada mais rock’n’roll e de influências da música negra norte-americana, mostrando a diversidade nos sons das bandas do segundo dia do evento. O quarteto formado pelo vocalista Alvaro Rosa, pelo baixista Gutto Ribeiro, o baterista Helcio Leão, o guitarrista Hugo Schettino e o tecladista Walter Sandro, está com álbum em fase de finalização. Prometeram que, no máximo em dois meses, o disco já estará nas mãos deles.

Como a banda existe desde 2009, esse álbum é uma compilação das composições antigas às mais atuais. Desta forma, o disco é muito heterogêneo, rock, blues e soul music norte americano. Alvaro comenta que o que fazem é música negra americana feita ao modo da La Maacchina, e que vislumbram chegar em uma sonoridade mais jazz com o tempo.

No fim da apresentação, essa tendência apareceu com uma jam session, em que o quinteto fez uma roda de improvisos, mostrando espontaneidade e conexão. Eles conversavam através do som que faziam com seus instrumentos, comunicando o que as palavras não dão conta de dizer ao público. “É nessa hora que a gente conhece um ao outro, porque, na verdade, a gente não sabe da influência de cada um, o que a pessoa escutou. Isso é a junção do que você escutou da sua infância até agora, então é a hora que acontece uma mágica”, comenta o guitarrista. Enquanto isso, Helcio vai comandando como um maestro, ditando o ritmo e o andamento da conversa através da bateria. Dentro do setlist do show, a banda incluiu versões dos Stones, do The Police e de outras bandas consagradas, resignificando os artistas. Para reinventar esse sons, eles contaram que sempre que escolhem qual música tocar, o processo é de reconstrução: vão para casa, pesquisam e escutam apenas outras leituras das músicas originais até chegar na versão deles.

La Macchina (Foto: Rômulo Rosa)

A Kymera começou seu trash metal no palco de dentro da casa. O quarteto formado por Bernardo, vocal gutural, Eduardo e Rafael nas guitarras, Chez, no baixo e Sebá, na bateria, estava lançando e vendendo o single Suffer for the Wrong Choice em formato de CD, além de camisetas com estampas da banda. O show foi completo de músicas próprias. A banda, também com bastante influência de deathcore, está em fase de gravação do seu primeiro álbum, sendo produzido totalmente de forma independente, bancado pelos próprios membros da banda. “O JF Rock City é importante, porque o pessoal usa o festival pra divulgar suas bandas, e também ajuda quem necessita, já que fazem doações de alimento pra Ascomcer”, comenta Bernardo.

Outubro ou Nada resgata um pouco de um movimento mais antigo do rock da cidade. A formação é do baixista Ton Guima, dos guitarristas Cleverson Oliveira e Luciano Faria, do baterista Léo Senra e do vocalista JP Manso. Para nossa surpresa, em contrapartida ao que estava sendo feito, a banda fez um setlist composto basicamente de covers - ACDC, Pearl Jam e Red Hot Chilli Peppers formaram parte da apresentação. A essa hora, um público maior estava formado e cantando junto com eles alguns clássicos do rock.

Outubro ou Nada: JP Manso interagindo com o público (Foto: Rômulo Rosa)

O show seguinte foi o da Insannica, que subiu ao palco misturando suas influências de um trash metal mais antigo, do fim dos anos 1980 e início dos 1990, combinado à pegada de metal moderno, governado pelas guitarras de sete cordas e as afinações drop, para dar um pesinho extra ao som. A banda é formada por Carlos Teodosio nos vocais, Lincoln Brian e Lucas Saab nas guitarras, Bernardo Assis no baixo e Rogger Santana na Bateria. A apresentação foi contagiando o público aos poucos, e uma certa repórter teve de ser salva do mosh pit que começou a rolar. Como pode a pessoa ficar compenetrada com seu bloquinho fazendo anotações sobre o evento em meio aos fãs extravasando sua satisfação com o show? Brincadeiras à parte, o Rômulo encarou a missão de fotógrafo factual e, de braços erguidos e câmera na mão, fez algumas imagens pra gente.

Mosh durante show da Insannica (Foto: Rômulo Rosa)

Na conversa dentro do camarim, eles falaram um pouco do novo trabalho deles, principalmente pelas palavras de Carlos, que foi imperativo e otimista: “O CD tem que sair esse ano!” É um processo que já dura três anos em meio a troca de membros e adaptações. Eles estão gravando no Sonidus Estúdio, com o Mauricio Avila, e o processo já está adiantado, com boa parte das guitarras e dos baixos finalizados. A única música que já recebeu os vocais foi a Soulstream, single lançado recentemente e tocado no festival.

O processo de composição ocorre em escalas, em que o guitarrista Lincoln é o pivô. “Eu escrevo em casa a partitura,, a tablatura e compartilho com eles. Chegando no estúdio, aprimoramos mais, cada um colocando suas influências, e o Carlos e o Bernardo ajudam com a melodia do vocal”. As letras trabalham temas como a primazia da máquina sobre o homem, ficção científica e a insanidade, no bom sentido, do ser humano. “A gente gosta de brincar um pouco com o nome Insannica e a maluquice da mente humana, que é capaz de explorar o espaço e de somatizar vários problemas”, declara Lucas Saab. Para aqueles que estão curiosos, a princípio, o álbum da Insannica será chamado Chronicles.

Insannica (Foto: Rômulo Rosa)

Lothlöryen foi a banda que surpreendeu a maioria das pessoas que conversamos e que acompanharam o segundo dia do evento. Com riffs elaborados e a primeira frase de 8 compassos que abriu o show, notava-se um power metal de altíssima qualidade. Sabe aquele festival que rola na Alemanha sempre em agosto, um tal de Wacken Open Air, com várias bandas e a maioria dos grandes nomes do power metal mundial estão sempre em suas edições? Então, a Lothlöryen podia estar nele tranquilamente. O nome tem pronúncia élfica, mais especificamente é uma floresta do Senhor dos Anéis, sendo assim, os dois primeiros trabalhos da banda tiveram como pano de fundo de suas inspirações a mitologia criada por Tolkien. No camarim, após o show, batemos um papo com o vocalista Daniel Felipe e o guitarrista Leko Soares, mas a banda ainda tem como integrantes o baixista Marcelo Godde, o tecladista Leo Godde, o baterista Marcelo Benelli e o guitarrista Tim Alan Wagner.

A banda é de Poços de Caldas-MG, e já fez turnê rodando a Europa. Passaram por oito países, entre eles Grécia, Macedônia, Bulgária, Itália e Romênia (ou “Rockmênia”, como brincaram, afirmando ser o melhor lugar pra tocar). Isso foi em 2013, quando fizeram um total de 15 shows. No Brasil, já dividiram o palco com a lendária banda de prog metal Symphony X, dos vocais inconfundíveis de Russel Allen e os riffs de Michel Romeo. Além disso, tiveram o privilégio de ter tocado com a banda alemã Gamma Ray, do guitarrista Kai Hansen, ex-Helloween. Duas bandas que no fim dos anos 80 e início dos 90 inventaram o cenário do power metal e do metal melódio. Estiveram também no palco com os difusores do metal brasileiro em terras internacionais, o Sepultura (que talvez tenha iniciado toda a história), o Angra e Shaman... por aí vai.

Apesar das diversas influências, a base de onde começaram é o folk metal, algo como a banda finlandesa Korpiklaani. “É música moderna, a gente tenta não ficar preso em um rótulo, a nada, para poder criar coisas diferentes”, comenta Leko. Depois de estarem em selos tanto nacionais, quanto europeus, a banda decidiu parar e lançar de forma independente, através da ajuda de financiamento por crowdfunding. A distribuição é feita por conta deles, que são os responsáveis, agora, por negociarem com as distribuidoras para o disco rodar. “A gravadora geralmente se apropria um pouco do seu trabalho em troca de um selo, que é um atestado de qualidade, só que esse é o quinto CD da banda, então, quem conhece já sabe que vai comprar uma coisa que a gente faz com muito carinho. Isso rendeu bem, e aí, agora, a gente pega o selo da distribuidora em cada distribuição. Pra gente vale muito a pena”, explica Daniel.

Além da temática que contamos a cima, o tema da loucura e genialidade foi tratado em um outro álbum, buscando vários personagens históricos. Já o último, Principles of a Past Tomorrow, trata das teorias da criação do universo, concentrado em um único personagem, que segundo o vocalista é o centro entre o passado, o futuro e o presente, o Giordano Bruno. O álbum conceitual narra as histórias reais do personagem como tema central e suas ideias filosóficas. Antes de começarem a compor, pesquisaram muito sobre o que queriam falar: leram livros, viram filmes, olharam ilustrações e a partir daí a criação começou.

Um fato curioso foi a participação do baterista Lucas Prestes no show, um substituto, pois, o integrante original estava com um problema no braço - dureza para um músico. Após a entrevista no camarim, em uma conversa com o Daniel nos bastidores de outro show, ele nos contou que conheceu o baterista no palco. Ele se surpreendeu muito com a dedicação e a capacidade dele. “Ele teve um mês pra tirar todas as músicas. Como eu moro em Santos e a banda em Poços de Caldas, eles fizeram três ensaios com o substituto e eu o conheci somente agora”, disse Daniel.

Guitarristas Tim Alan Wagner e Leko Soares da Lothlöryen (Foto: Rômulo Rosa)

A Vivenci foi a próxima a começar a mandar seu som. O power trio é formado pelos irmãos Victor Polato, vocalista e baixista, e Vinicius Polato, guitarrista, bem como pelo baterista João Nascimento. O setlist foi completo de músicas próprias, incluindo faixas do primeiro EP lançado em 2014, mas principalmente cinco músicas que compõem o segundo EP da banda - O Seguinte - que deve ser lançado nos próximos meses. Conversando com o guitarrista, ele me contou que a ideia desse próximo trabalho é poder mostrar a cara da banda. Dessa vez, após três anos juntos, eles se propuseram a um esquema totalmente diferenciado. Um ensaio aberto no Maquinaria, com a gravação sendo feita ao vivo, os instrumentos todos ao mesmo tempo e o público lá fora passando uma energia através de seus olhares. O entrosamento do trio fez com que, em poucos takes, a gravação fosse concluída. “A nossa ideia foi deixar esse EP menos mecânico e mostrar como é mesmo o som da banda no ao vivo”. A banda ensaia em um estúdio que têm em casa, com isso, a pré-produção de O Seguinte foi feita lá, corroborando ainda mais a proposta de um material cru em sua essência, feito da forma mais à vontade possível. Sobre o JF Rock City, é a terceira vez que participam. Elogiaram a organização e profissionalismo da equipe, até mesmo na ajuda para a montagem de som antes dos shows.

Vinícius Polato, guitarrista da Vivenci (Foto: Rômulo Rosa)

O show do Martiataka foi digno de parar bem em frente ao palco para assistir inteiro. A escolha das músicas passou por várias épocas da banda, que comemora seus 15 anos de formação no sábado, dia 02, em um show-aniversário no Muzik. O Martiataka também está se preparando para a gravação de um DVD que ocorrerá em 29 de maio, também no Cultural. Portanto, segundo eles, o show no JF Rock City foi também uma forma de sentir a resposta de quem os assistia, e eles viram que funcionou bem. Das antigas às mais novas, passando por algumas que não tocam com frequência, não teve problema, o público estava em peso envolvendo o deck - palco onde também será filmado o DVD. Esse ano a banda disponibilizou toda sua discografia para download gratuito. Como banda independente, lançam sempre seus álbuns por conta própria.

Sobre o cenário das bandas de Juiz de Fora, Wendell destacou o bom momento para a cidade. “Eu nunca vi, nesses 15 anos em Juiz de Fora, uma época tão frutífera de bandas, com uma preocupação com a qualidade, de tocar bem, e de estar junto com outras bandas. Isso é um momento único”.

A performance no palco é notável, Wendell Guiducci é o vocalista, bem como um ótimo frontman, mas sem deixar de lado os guitarristas João Paulo Ferreira e Bruce Ramos, e o baixista Thiago "Jim" Salomão. Eles parecem conversar com quem os assiste através da autenticidade na apresentação. Victor Fonseca comanda as baquetas e Ruy Alhadas, os teclados. É possível não só ouvir, mas a interação entre público e banda é total.

O nome tem uma história muito interessante: Marte Ataca! é um filme de animação do Tim Burton, lançado em 1991, mas, antes disso, existiram cards na década de 1950 com o personagem utilizado no longa. E como esse nome veio parar na banda? Através de um sonho. “Um marciano, com aquela cabeça do personagem do Tim Burton, descia no meio da Rua Halfeld e começava a andar, procurando uma banda, procurando uma banda, procurando uma banda… até encontrar a gente tocando com um papel escrito: não temos nome. Alguém contou isso na época, e a gente tinha show pra fazer, não tinha nome e aí decidimos: o nome vai ser Matiataka”, explicou o vocalista.

Martiataka (Foto: Rômulo Rosa)

O Pior Cenário Possível, turnê atual do Matanza, ocupou o palco principal do Cultural da forma que esperávamos: show alucinante, com luzes frenéticas acompanhando os riffs de guitarra e a pancadaria da bateria. A rouquidão bruta da voz do Jimmy London é a cara da banda, à sua frente havia uma multidão de mosh, saltos e gritos. Foi um showzasso. Além de músicas do álbum lançado no ano passado, algumas mais antigas, como Cube dos Canalhas, Tempo Ruim, Último Bar, Eu não gosto de Ninguém, Meio Psicopata, Bom é quando faz mal, bem como as divertidas Ela Roubou meu Caminhão e Estamos Todos Bêbados, fizeram parte do setlist. E o barbudo ruivo soube muito envolver aquele público insano. Ao longo das músicas ia fazendo comentários, provocando ainda mais as pessoas com suas mensagens um tanto críticas e bem humoradas. Foi um show de nos deixar roucos, suados, descabelados, com direito a prato de bateria quebrado e corda do baixo arrebentada.

Ao final do show, eu, Carime, estava perto da saída, quando Jimmy fez um sinal de paz e amor e eu retribuí fazendo o mesmo. Nunca poderia acreditar e imaginar que, após o show, depois de conversar com a produção do JF Rock City (que nos ajudou muito!) e também com o produtor do Matanza, nós entraríamos no camarim. Eu tenho a imagem da porta de madeira do backstage fechada: eu sabia que, quando abrisse, o Matanza estaria lá, e a primeira imagem que veio aos meus olhos foi do Jimmy, no sofá e sua barba. Quer dizer, primeiro foi da barba, depois do Jimmy. Ele nos ofereceu alguma coisa para beber. Logo pensei que estaria tomando um rum ou um whiskey Jack Daniels. Mas não, tomou um guaraná, ou algo assim.

Eu comecei perguntando sobre os 20 anos de banda, que completa esse ano, ao que ele respondeu de forma irônica. Aa gente tá preparando um asilo pra gente e a gente tá caprichando”. Os risos misturados com um pouco de nervosismo transpareciam em minha voz. Além de Jimmy, o guitarrista Maurício Nogueira, o baterista Jonas e o novo baixista Don Escobar, que substitui China, vieram à Juiz de Fora. Jimmy explicou que o guitarrista Donida não participa dos shows, mas sempre está presente nas gravações dos álbuns.

Eu perguntei a ele qual era o pior cenário possível, e a resposta veio: “Se for pensar bem no currículo da humanidade, o pior cenário possível é ser humano”. Mas o que me impressionou no Jimmy foi uma desconstrução que fiz da maneira dele na minha cabeça, além de não beber no camarim, foi muito educado comigo e respondia às perguntas numa boa, realmente pensando sobre o que me falar. Perguntei sobre as letras das músicas, o que a banda queria passar para seu público, pois sei que vai além de música para beber e brigar. “A gente não gosta muito de hipocrisia, mas, na verdade, a gente tem uma cobrança muito grande com relevância. Isso não quer dizer que seja sério, não sério, ou que a gente queira chegar a algum ponto com aquilo, não é exatamente isso. É uma cobrança estranha, porque ela é meio torta. A gente não se cobra por originalidade, não se cobra por seriedade nenhum pouco. Fazer músicas que consideramos argumentativas sobre algum assunto, ainda dentro do nosso cenário, é o tipo de relevância que a gente procura”.

Conversamos também sobre a trajetória desses 20 anos da banda. Perguntei sobre o que ele via de diferente, ou não, desde a época que começaram explorando as músicas do Johnny Cash até a sonoridade da banda hoje. Jimmy foi sincero, mostrando que a ideia é o Matanza passar a verdade deles, de forma honesta, com o estilo que sempre defenderam e mostraram. “A gente tem um lance muito sério em relação a isso. A gente sempre sabe que na hora de fazer um disco, ia ser muito fácil, mas pouco honesto trocar a sonoridade da banda e fazer um disco de qualquer outra coisa que a gente também goste, mas que não seja Matanza, sabe? Então, pra gente é muito mais difícil manter a característica do início da banda, daquele tipo de música, do que abrir o leque e se permitir ir à vários lugares que talvez não pertençam à banda. Mas a gente vai obviamente aprendendo a executar as coisas um pouco melhor, apesar de ninguém se cobrar muito pelo lado dos requintes musicais, já que a parada da banda é realmente algo bem simples, mas algumas coisas vão entrando. No início, era puramente country, hard core, depois a gente foi tendo mais coisas de metal, de música irlandesa, mas que são sutis.”

Matanza (Foto: Henrique Perissinotto)

Terminado o show do Matanza, foi um contraste. A misancene era a

Radiocafé: rock inglês, letras adoráveis, e, claro, fazendo jus ao rock’n’roll, com uma pegada de bandas alternativas mais contemporâneas. Rodrigo Coura tem uma voz gostosa de ouvir, e em algumas faixas faz uns agudos bem marcantes. Além de cantar, toca guitarra ao lado do baixista Eduardo Rosseti, do baterista Tiago Viana e do outro guitarrista, Rafael Skii. Estão com álbum finalizando a mixagem e, logo, logo estará em fase de masterização. Aí, é só esperar e, dentro de um mês e meio, aproximadamente, já devem estar com o trabalho em mãos. Rafael Skii também é o responsável pelo design gráfico; a identidade visual acompanha a ideia de um toque retrô e vintage da banda. Em uma primeira sessão de fotos, enrolou cabos de guitarra em um rádio antigasso e, assim, começou a criar.

Sobre tocar no JF Rock City pela primeira vez, o guitarrista falou sobre o que observou do público. “O público desse rock mais pesadão, do metal, é um público muito atento, você percebe que o público está ali te assistindo mesmo, prestando atenção. É uma apresentação das músicas, e é muito bom você tocar para pessoas atentas”.

O guitarrista Rafael Skii da Radiocafé (Foto: Henrique Perissinotto)

Momento do festival em que houve um incidente, ou pelo menos foi o momento em que a situação transpareceu ao público. A banda Usversus teve seu setlist encurtado em duas músicas, após o mesário cortar o som. Situação que já havia ocorrido com a banda Insannica, em que o tempo dos shows foram sendo adequados durante a noite, senão, a madrugada de shows se estenderia muito. A origem do incidente foi durante a apresentação da banda Traste, que precisou atrasar, já que os músicos haviam ficado presos na estrada com a chuva que antecedeu o início do Festival. Desta forma, um efeito um cascata foi ocorrendo, mas todos participaram e a festa foi bem legal! Mais bacana ainda foi o fato dos responsáveis pela organização do festival, Luqui di Falco e Rhee Charles, que vierem ao camarim, após o show deles se desculparem e desfazer o mal-entendido. Estávamos presentes no momento e acompanhamos a situação.

Mas vamos falar de coisas boas: a banda é composta por Tierez Oliveira, voz e guitarra, Matheus Pierrot, baixo e segunda voz, Anderson Marques Pinto, guitarra e segunda voz e Jovander Glauco, bateria. Já possuem um EP com sete músicas e estão para lançar um álbum mais completo com 12 composições autorais. O CD vai ser intitulado “A Minha Verdade”, música que o público pôde conferir durante a apresentação do JF Rock City. Lançaram neste mês de março o clipe “Olhos fechados” fechando o ciclo do EP “Seguindo em frente”.

O processo de produção das músicas inicia-se com Tierez e depois é lapidado por toda a banda. O foco é o cenário underground e a busca da construção de um cenário na cidade. “O espaço na cidade está dando uma melhorada, mas depende muito da gente, temos um projeto com a banda Obey, chamado Rise Together, em que nossa ideia é trazer bandas de fora e depois a gente ir tocar lá, fazendo um intercâmbio”, disse Anderson.

O vocal e guitarrista Tierez Oliveira da Usversus (Foto: Henrique Perissinotto)

A banda dos organizadores do Festival Luqui di Falco (guitarra) e Rhee Charles (vocal) subiu ao palco para uma curta aparição, isso porque eles nem iam tocar. Já tinham reorganizado as apresentações, pois houveram alguns atrasos entre os shows, e, por questões contratuais a banda mais esperada da noite, o Matanza tinha de subir ao palco à 1h da manhã. Como nos disse Rhee Charles, “o bom anfitrião deixa de comer quando a comida é pouca”. Após o incidente do encurtamento da apresentação da Usversus, a Glitter Magic trouxe quatro músicas autorais, sendo duas do CD antigo, Bad for Health, e duas que estarão no novo. Sobre o CD novo, que está para ser gravado, a banda havia escrito 13 músicas para poder escolher dez para o segundo disco. Durante o processo, eles desistiram de 8 composições e refizeram as músicas do zero.

O último CD é de 2012, e, segundo eles, a banda mudou muito. Rhee Charles citou as novas influências, como exemplo a banda Sueca Soilwork, que tem melodias bonitas, segundo ele. Falou também do Adrenaline Mob, do já citado acima Russel Allen, a quem o vocalista da Glitter Magic relata admiração, banda que também é composta pelo lendário ex-baterista e membro fundador do Dream Theater, Mike Portnoy. Quando foram perguntados sobre uma possível surpresa ou participações especiais, um grande desejo que o Rhee Charles revelou é tentativa de estabelecer uma parceria com Tony Martin, um dos vocais do Black Sabbath ao longo dos anos, celebridade a qual Luqui de Falco tem acesso. Mas a iniciativa sempre é postergada. Agora é esperar pra ver!

O vocalista Rhee Charles da Glitter Magic, também um dos organizadores do JF Rock City (Foto: Lucas Portilho)

A penúltima banda, por volta das 4h da manhã, foi a The Basement Tracks. O bacana é que o estilo deles, tanto na música, quanto em todo trabalho gráfico, fotográfico e audiovisual, destoa totalmente do restante da line up e até do que se tem visto em Juiz de Fora como um todo. As “tracks do porão” foram parar na casa underground Audio Rebel recentemente, local importante para as bandas independentes do Rio de Janeiro. Pela primeira vez fazendo show por lá, os meninos da The Basement Tracks ainda estavam carregados da energia boa que trouxeram da noite anterior. São eles: Victor Fonseca na voz e guitarra, Ruan Lustosa na guitarra, Rodrigo Baumgratz no baixo, Lucas Duarte na bateria e Ruy Alhadas no teclado. Há pouco tempo, a banda lançou um vídeo para a música The Wall’s Drama, do primeiro EP - Songs From the Orange. A animação está incrível e foi executada pelo Diego Navarro, da Inhamis. A outra novidade é que eles estão participando do concurso da EDP Live Bands e hoje é o último dia para votar, quem ganhar, vai tocar em Portugal no NOS Alive.

Rodrigo Baumgratz, baixista da The Basement Tracks (Foto: Henrique Perissinotto)

Fechando a noite, lá pelas 4h e tantas da manhã, a Soul High se apresentou no palco dentro da casa. Fizeram uma dobradinha no fim de semana no Cultural Bar, (já haviam se apresentado no dia 25, com a banda Hey Joe). A banda é formada por Celso Soares nos vocais, Ivo Campos na guitarra, Lulu Trombini na outra guitarra, José Luiz Salles no contrabaixo, Rafael Madruga nos teclados e samplers e "Tigão" na bateria. A galera do Soul High anunciou o início da gravação do seu EP nesse último dia 28. Quem foi ao Cultural pôde conferir duas das composições que vão integrar o EP. Fiquem atentos para a mistura de groove, rap, reggae, rock e surf que virá.

 
 
 

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