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15 anos de Martiataka: viscerais como coração e tripas

  • Carime Elmor e Matheus Medeiros
  • 5 de abr. de 2016
  • 9 min de leitura

Fotos: Carime Elmor e Henrique Perissinotto

Podia ser uma decoração de festa, dessas temáticas, de quando se é criança, com um banner grandão do tema na frente da mesa com enfeites e docinhos em volta do bolo. Mas, ali, o banner atrás do palco era uma espécie de bandeira com um marciano – Martiataka! O que existia à frente eram instrumentos devidamente posicionados, ainda estáticos. Logo, logo, os músicos chegariam para comemorar o aniversário da banda, cada um executando com primor e irreverência seu instrumento, e, no final, o que se escuta, além dos muito merecidos parabéns, é um rock clássico da pesada, que está registrado também na cobertura fotográfica no álbum do Flickr.

Palco Martiataka para show no Muzik

Era o show-aniversário da banda. Há exatamente 15 anos, o Martiataka tocava em uma festa universitária – dia 4 de abril de 2001. Na hora de fotografar, percebi que a luz era verde e vermelha. Verdinhos como marcianos e vermelho de marte. Victor com baquetas, pés descalços e cabeça inquieta, sacudia a cada porrada nos pratos. Ruy Alhadas, compenetrado, mexe com as teclas e botões, dando acabamento e profundidade ao som. Bruce, jeans rasgados, guitarrista que surpreendeu todos com a gaita mais rock’n’roll que já vi. João Paulo, espera, a gente está em 2016 ou na década de 1980? Seu visual é um déjà vu ou viagem ao tempo; faz a guitarra gritar, até quase se sufocar pelos solos e riffs sem parar. Wendell, chapéu, jaqueta de couro, botas: country gótico. Performance e carisma de se aplaudir de pé. Thiago Salomão, até para quem não tem ouvido minimamente aguçado para a música, é impossível não ouvir e reparar no som do seu baixo.

Se você acha que o rock’n’roll está morrendo, considere ler este texto até o final, caso queira mudar de opinião. A noite começou como se todos os dedos tivessem sido enfiados na tomada. Urgente foi a primeira e a mais indicada para isso, todos queriam show, e JÁ! O clássico gutural deu abertura e daí foi só alegria. Estava aberta a noite. Sem deixar cair a pegada da música inicial, Pedra de gelo e Aprendendo a Morrer fizeram o sangue de todos ferver. As boas vindas da banda ao público vieram logo em seguida, não havia melhor hora para isso. Após a breve pausa, Del entrega seu chapéu a João, que ficou por quase todo o show iluminado de verde. Após duas músicas, chegava a hora de Saia, grande sucesso que retrata bem a vontade que os músicos tinham de cair na estrada a fim de levar o seu som pra o máximo de lugares possíveis. Diabo de Mulher anima ainda mais quando Del chama a galera para bater palmas ao ritmo da bateria. E falando no diabo, Ela só Quer se Divertir trouxe pela primeira vez a gaita de Bruce ao show. E que gaita, meus

caros.

Bruce Ramos (Guitarrista e Gaitista)

Vertigem e Eu Quero Ser Melhor voltaram a trazer explosão ao show com destaque para a fantástica introdução de Ruy na segunda. E não era comparado ao que viria a seguir. Apenas dizendo que a música era de um tempo onde muitos ainda sequer tinham nascido, quando de repente, diversos ex-integrantes subiram ao palco para a execução de Mundo Bar. Oito pessoas no palco! Victor deu lugar à Douglas Gomez, antigo baterista Martiataka, e ficou a cargo do chocalho (rs) e Del que havia pegado a guitarra flying V Gibson de Bruce no início, passou-a para o Sandro Ferreira (Cadeado), o primeiro guitarrista da banda. Após uma execução nostálgica, uma série de agradecimentos antecederam Serena e Lugares Escondidos, músicas mais leves que serviram para que o público recuperasse o fôlego. Esse que voltou a faltar na música seguinte, uma das mais pesadas instrumentalmente, Corra Coelho. Destaque pra João Paulo, que a executou de maneira perfeita e fez o Muzik vibrar com a sua guitarra.

Danny Trejo também chegou com peso, só que desta vez através da letra forte. Era hora de um dos maiores sucessos da banda, Asas. Música que ficou conhecida por ter sido transmitida na MTV. Já na reta final, Quem Faz América fez coro com seu viciante refrão e, logo em seguida, o anúncio da saideira em Sem Juízo. O que não foi cumprido. A pedido dos fãs, a banda decidiu tocar um bis, e Marginal fechou em definitivo a grande noite. Ao fim, os músicos ainda convidaram a plateia a opinar a respeito da escolha do repertório do DVD, atitude que demonstra o quanto o sexteto acredita em seus fãs, algo maravilhoso de se ver.

E quem esteve presente na festa, teve direito à receber um convite pessoalmente, das mãos dos músicos, para assistir a gravação do Martiataka ao vivo – Tá alto pra c@#$%&*!!!, que acontecerá no dia 29 de maio no Cultural. Além do show, com repertório incluindo vários álbuns e fases da banda, uma segunda parte será destinada a um documentário sobre os 15 anos, que será feito em parceria com a Epinefrina. Há ainda um segundo extra, mas que é uma surpresa do Martiataka!

Wendell Guiducci (Vocal) e João Paulo (Guitarrista)

O Martiataka começou com muitas vontades, entre elas ser uma banda que toca as próprias músicas e fazer o máximo de shows possíveis, circulando por diversas cidades e procurando outros públicos, a fim de manter uma agenda constante de apresentações, sem saturar no cenário de Juiz de Fora.

Para uma banda com 15 anos de história, é natural que exista troca de membros ou a entrada de mais instrumentos. Fico me perguntando da importância dessas renovações e como é, para uma banda se readequar a cada mudança. O baixista Thiago Salomão explicou: “Uma filosofia do Martiataka, é que a gente nunca quer fazer o mesmo disco. Então, como ele é naturalmente diferente um do outro, as pessoas agregam. Desde o início, no primeiro disco, tem música com piano, com teclado e é uma coisa que a gente vinha flertando sempre, então, quando a gente acrescentou o Ruy, já tinha mais ou menos uma ideia de que queria que isso acontecesse. As mudanças, que foram muitas, e a influência que cada um traz, são uns dos fatores que fazem a banda ter a longevidade que tem”.

De pubs, bares undergrounds à grandes espaços, passando pelo Teatro Odisséia, Mineirão e dividindo apresentações com bandas brasileiras consagradas no mercado mainstream, Martiataka já pegou estrada e fez apresentações nos mais diversos locais – ganhando até um colete do Robert Plant de um cara da plateia que ficou alucinado pelo som. Dentro da memória de cada um e, também de acordo com o tempo que fazem parte do Martiataka, os membros têm recordações de dias de shows em que cada um sentiu algo diferente e guardou com apreço a data. Mesmo o baixista, que tem a melhor e mais positiva das ideias, dizendo que “o melhor show é o que vai acontecer agora”, se lembrou de quando começaram a pegar estrada pra São Paulo, até a Rua Augusta, entre 2004 e 2006. As pessoas que estavam lá não queriam ouvir cover, estavam esperando que tocassem o som próprio. A recordação de shows memoráveis na Outs, Funhouse e Inferno Club, onde tocavam somente música autoral, lhe veio à cabeça pela importância desse momento para a banda, que ainda estava nos seus primeiros anos. “Aquilo fez a gente acreditar que era possível continuar fazendo isso também, foi um dos fatores que fez a gente continuar tocando, tocando, tocando som próprio”, comenta Thiago.

Thiago Salomão (Baixista)

João Paulo destacou o grande show em 5 de setembro do ano passado, quando eles foram a Belo Horizonte e fizeram uma apresentação ainda à luz do dia no grande palco do mineirão, onde diversos artistas nacionais e internacionais fazem super shows ao longo do ano. Mesmo não tendo ido à esse espetáculo, deu para perceber que o show do Martiataka, ali no Muzik, preenchia e transbordava o ambiente, um show com propagação e energia enormes, dentro de um espaço pequeno, mas que dá todo o charme rock’n’roll pra banda. É uma banda capaz de preencher um estádio com seu som, isso que eu quero dizer. “A gente recebeu o convite para fazer o show lá e estava em uma fase de divulgação do disco acústico – Corações e Tripas – e aí, assim, foi um show muito interessante porque a variedade do público que tava lá, a troca que rolou no dia, eram pessoas que provavelmente não escutariam Martiataka, e tivemos a sorte de estar ali para a galera conhecer. E temos certeza que todo mundo que estava ali vai lembrar de alguma coisa daquele show também, assim como eu lembro hoje”.

Saindo de São Paulo e Belo Horizonte e indo à outra capital, Ruy comentou sobre seu primeiro grande show como Martiataka, no Rio de Janeiro, no lugar mais carioca pra se tocar: Lapa, onde fizeram um show no Teatro Odisséia. Comentou sobre o show na fazenda onde fica a cervejaria Zalaz (cerveja artesanal com rótulo da banda, a Zalaz Martiataka Zummer é a melhor California Common do Brasil). Ele ainda conta sobre como se emocionou em uma apresentação no CCBM, aqui em Juiz de Fora, por ter sido o primeiro show em que tocaram o álbum Corações e Tripas na íntegra e também por marcar a saída do guitarrista Fabrício Barreto. A cada música que tocava, ele dizia que ia se lembrando da correria e perrengues para a gravação de todo o álbum.

Ruy Alhadas (Tecladista)

Victor Fonseca comentou sobre um bem antigo, antes da entrada do Ruy, do João e do Bruce. Um show no Circo Voador, também na Lapa. E relembrou de quando tocaram na Funhouse em São Paulo. “Foi um show maravilhoso, estava super cheia a casa, as pessoas de São Paulo pedindo nossas músicas, e teve música que as pessoas pediram, e como eu tinha acabado de entrar na banda, não rolou de tocar porque eu não sabia tocar”.

Victor Fonseca (Baterista)

Encerrado o show, procuramos pelo Muzik os dois ex-integrantes que foram prestigiar e fazer uma participação no show da antiga banda. Douglas Gomez entrou para o Martiataka de uma forma irônica: em uma noite de show do Martiataka, também no Muzik, Douglas apareceu com a intenção de tirar satisfação sobre algo que Wendell havia escrito sobre sua banda naquela época - Pantera Cor de Rock. Foi achando que iria brigar, porém ficou apaixonado pelo som, até que, quando saiu da antiga banda, foi convidado para assumir a bateria do Martiataka. Douglas participou da gravação dos dois primeiros EPs e também do álbum Rock’n’roll Combustível, a estreia de full album da banda. Com esse trabalho, foram tocar em casas importantes em São Paulo e o clipe da música Asas foi para a MTV. Alcançaram muita coisa juntos, correndo atrás de tudo por eles mesmos. Sobre o Martiataka, Douglas resume: “honestidade do que está fazendo, não se preocupar se está certo, se está errado, é tudo de coração. A sinceridade e a honestidade daquilo que está saindo, isso nunca se perdeu”.

Já Sandro Cadeado e sua história no Martiataka foi ainda mais antiga. Tudo começou após jogarem uma partida de futebol, de lá foram para o bar do Marcelo - em frente à vila onde moravam - e lá aconteceu o primeiro encontro para a criação da banda de amigos: Sandro, Wendell e Fabrício Barreto. Mesmo antes dessa época, Sandro brinca dizendo que o embrião do Martiataka foi ainda mais antigo, porque, quando eram adolescentes e vizinhos em Ubá, Wendell montou uma bandinha e convenceu Sandro a aprender a tocar guitarra para participar, já com a questão de tentar fazer músicas próprias. Mais tarde, quando mudaram-se para Juiz de Fora para estudar, deram sequência a ideia. Hoje, muitos anos após ter saído do Martiataka, Sandro observou que houve um desenvolvimento gigante em termos de sonoridade e equipamentos, mas sem deixar morrer uma essência da banda, que é ter membros com referências e estilos diversos, que juntos formam a cara do que é e sempre foi o Martiataka. “Embora tenha todo esse desenvolvimento, o pessoal tava cantando música hoje aqui que eu fiz com o Wendell. É emocionante, é legal demais de ver assim que mesmo que tenha desenvolvido muita coisa, crescido muita coisa, mudado muita coisa, aquela base que lá do comecinho, tá ali no show de 15 anos”. Sandro ainda lembrou do bar The Wall, onde o Martiataka tinha um contrato para tocar duas vezes por semana: quarta, para bar vazio, e sábado com bar cheio. “Foi um bar que desenvolveu muito a banda, a gente tocou muito por conta daquele bar”.

Os convidados (Douglas Gomez e Sandro Cadeado)

Como banda independente, sempre fazem tudo por conta própria: gravam EPs, álbuns, produzem clipes, viajam para fazer shows. E, para captar recursos, além da banda guardar todo dinheiro de bilheteria e cachê de cada apresentação, vendem camisetas, mais os álbuns já lançados, de forma que conseguem sustentar a banda. Eles explicam que uma a duas vezes no ano costumam fazer um show cover de Rolling Stones para conseguir um pouco mais de recursos, já que, costuma ser para um maior número de pessoas. Suas músicas também estão espalhadas tanto para se ouvir por streaming, quanto para compra de download.

 
 
 

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