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Martiataka: Tá alto pra C@#$%&*!!!

Fotógrafo e Videomaker: Rômulo Rosa

Cobertura fotográfica completa no nosso flickr

Assista ao vídeo com imagens do show e trechos de nossa conversa com a banda no backstage:

A nossa busca hoje é pelo retorno ao domingo passado, dia comumente caseiro, mas que dessa vez foi atravessado pela surpresa. É de se admirar os belos dias em que nos desintoxicamos do tédio, e obrigada Martiataka, pelo grito de rock’n’roll. Nosso dia 29 de maio foi marcado pelo show de gravação do DVD dessa banda. Um baixista vestido de uma camiseta que dizia: Lemmy is God, o vocalista com tradicional chapéu, cachecol, couro e uma fivela de caveira, um guitarrista de colete, calça rasgada e óculos escuros, outro com o cabelo mais original de todas as bandas e correia e camiseta Martiataka, um tecladista, que também é designer, literalmente rodeado e imerso ao seu mundo de teclas e um baterista de pés nos chão, ele chegava a levantar com a empolgação ao bater suas baquetas (que funcionaram ainda como claquete durante a gravação).

Thiago "Jim" Salomão e sua homenagem ao baixista do Motörhead. Foto: Rômulo Rosa

Vejo a gente chegando ao estacionamento, entrando no Cultural de uma forma atípica: sob a luz de um sol suave que fez alguns terem de carregar os casacos nos braços antes do anoitecer. Ainda era cerca de três e meia da tarde, sedentos para ver o show, fomos em direção ao deck – local da gravação. Pelo trajeto, além de discotecagem, banquinha com cerveja artesanal e encontro com amigos, havia no palco menor interior um stand com camisetas Martiataka, doces e cerveja Zalaz – patrocinadora da banda. E foi então, que nos deparamos com a porta de madeira recostada, um sentimento de suspense sobre o que encontraríamos do outro lado.

A escolha de toda equipe de produção de áudio e vídeo do DVD ficou entre amigos, como disse Wendell Guiducci, o vocalista. Somente profissionais de Juiz de Fora foram convidados. Um deles é o Nando Costa, produtor musical, que fez seu 4º trabalho com o Martiataka, e agora está responsável por todo o áudio desse novo projeto, junto com Bruno Santim, do Epinefrina, que já produziu clipes da banda, bem como João Cordeiro, do estúdio Maquinaria, encarregado da iluminação. “A gente quis trabalhar com amigos para fazer um negócio caseiro mesmo, de estar junto a amigos desde a escolha do bar, da casa [Cultural], até a pós-produção, passando pelo público, porque 90% de quem estava aqui hoje, eu sabia o nome das pessoas”, explica o vocalista, brincando que eles não tem fãs, e sim amigos que sempre o acompanham nos shows.

Agora já recapitulando o início da apresentação, foi aquele momento em que o primeiro som e feixe de luz tomam o palco, e aquele segundo vem junto a uma tensão e adrenalina para quem espera pelo show (imagina para os músicos então?). E subiram os seis, no cair da tarde, Del Guiducci, vocal, Thiago Salomão, baixo, João Paulo e Bruce, guitarra, Ruy Alhadas, teclado e Victor Fonseca, bateria. Foi uma introdução digna da abertura de um DVD, clima de suspense, talvez como o som de um helicóptero pousando, que nos deixava ainda mais ansiosos para o rock começar a rolar com pressão. Os instrumentos começaram a gritar, tudo bem equalizado e no lugar, não tardou para que Wendel, frontman, desse seu primeiro salto, enquanto João Paulo começava seus incríveis solos de guitarra e fazia caretas. Olhando para cima, mais uma curiosidade: havia um drone fazendo imagens do público e do palco, o que mais será que Santim está tramando de especial para esse DVD, hein? “Acaba que as imagens são simplesmente o que o Martiataka já é. Então não tem muita frescura não, porque não precisa. (...) O drone é só uma luzinha que veio, de que tinha que ter um take lá do aeroporto, do meio do mato, vindo andando devagarzinho, devagarzinho até começar”!

Espalharam microfones por alguns pontos do set de gravação com a ideia de pegar o som do público, e olha que muita gente cantou, especialmente os refrões mais marcantes: “Nós somos de vocês e vocês são nossos”, Martiataka. A conexão da banda com seu público foi impressionante.

Rock'n'roll com Martiataka na gravação do DVD no Cultural. Foto: Rômulo Rosa

Qual é o som do Martiataka? Neste mundo marginal, underground dos inferninhos apertados espalhados por aí a gente acostuma com o som abafado, as caixas que já estão no palco e o imprevisível. Faz parte do som, do espetáculo e o público ama, porque ele está sempre lá. Nós também estamos sempre lá, acompanhando a cena, ajudando a manter a coisa viva e cantando junto. Até o dia em que o fim de semana é pra você. Caixas e caixas são carregadas e o fato delas serem pesadas pouco importa. Ficam até mais leves. O amplificador que você quer vai estar no palco. O microfone está apontado para o falante de forma certa, ao contrário da correria dos festivais por aí. Olha que geralmente os técnicos de som são gente boa, e ajudam sempre, é o camarada que as vezes tá com a você no bar. Não tem que ficar correndo atrás de uma tomada 110V, porque a que liga o PA é 220V. Trata-se de um dia em que tudo vai ser diferente. Ensaio, estudo e preparação. Você passou o som no dia anterior, cada decibel tá regulado nos potenciomentros do amplificador, da pedaleira. O retorno não dá microfonia o imprevisível soa improvável. A confiança lá em cima and let’s rock!

Baixo Fender usado por Thiago no show. Foto: Rômulo Rosa

Neste mundo digital só faltou eles gravarem em fita de rolo. Mesmo assim, o som do Martiataka ainda é orgânico, tudo feito com pedais analógicos. “A gente tenta adequar o som a ótica da banda, nada tão ‘modernoso’, usamos o clássico, o mais simples o possível. Não parece, mas é”. Foi o que nos disse Thiago Salomão. Um ou outro pedal é digital. Só que o som vem do circuito e da energia elétrica que passa. De modo geral é o overdrive que empurra o som das válvulas dos amplis. Um som quente, forte, rasgado, nada tão high gain e comprimido. É quase um som de metal, mas guarda a atmosfera vintage. Tudo isso as vezes se mistura com a delicadeza de um dedilhado mais clean e um solo melódico que vem carregado de um delay quase etereal.

Mas, pela primeira vez olhamos para as pedaleiras dos músicos e vimos mais pedais no set do baixista do que no dos guitarristas. “A minha pedaleira é para o acústico e para o digital, não fico dividindo as coisas. Todos os sons que eu faço no Martiataka estão ali! ” Todos eles plugados em um Ampeg Herritage saindo para dois gabinetes. O técnico de som não nos revelou, mas o som do DVD vai contar com uma linha de baixo microfonada. Isso porque é comum ligar o baixo a um direct box e mandar o som pra mesa. Mas, a ideia do som é vintage, orgânica. O ar entre o falante e o microfone conta.

Set de pedais para o baixo. Foto: Rômulo Rosa

Se olharmos para os sets o som das guitarras parecem antagônicos. O do João Paulo vem de um Marshall 3315 de 150 watts e uma 4X12. O do Bruce vem com um combo Vox AC15. A diferença de potência parece brutal, mas os sons se completam. Na maioria das músicas o João sobe ao palco com sua xodó, uma Relic Custom Shop que ele adquiriu um ano depois que entrou pro grupo. Escolhida a dedo para fazer o som da banda. “A Fender Telecaster é pra cereja do bolo em algumas umas músicas, um lance mais light. Mas, no geral Martiataka é quebradeira”.

Guitarras usadas por João Paulo. Foto: Rômulo Rosa

Set de pedais pra guitarra. Foto: Rômulo Rosa

O Bruce prefere as Gibsons. A maioria das músicas é tocada em um nervosa Flying V preta com o contraste de um escudo branco. Em outros momentos surge uma SG a lá Angus Young, Tony Iommi, dá pra escolher a comparação! “Minha sonoridade é básica e bem versátil eu gosto dos instrumentos de baixo ganho e uns mais pesados. No Vox eu consigo tocar desde um country e uns power chords mais pesados numa caixa de 15watts”. A escolha do ampli ainda guarda um detalhe. Trata-se de um combo que tem um falante de alnico da série blue ao invés dos normais que são de cerâmico, o que confere um brilho e dá a sonoridade dos anos 60. “Eu não uso praticamente nada. É um leve ganho no amplificador, um overdrive, wah-wah e um delay. A guitarra Flyng V o que mais me inspira é o Hendrix que empunhou uma em 69. Você imagina que ela é oitentista, mas é vintage! ”

A sonoridade da banda fica completa com os teclados do Ruy. Apesar de digitais a busca do som é sempre vintage. No palco vemos os icônicos teclados vermelhinhos da Nord, no caso um Electro 4. Um Roland estava presente no set também. O que ouvimos são timbres de piano, órgãos Hammond, pianos elétricos e por aí vai. Tudo uma sonoridade dos anos 60 e 70. “Não posso destoar muito da banda, tento ficar junto do pessoal. Tenho muitas possibilitas no Roland, de um som mais moderno, mas fico ali mais contido no contexto”. A quebra do padrão surge com um sintetizador Arturia MicroBrute, básico na parte da síntese, mas mesmo assim traz algo mais moderno em alguns momentos específicos do show.

Teclados e sintetizador usados por Ruy Alhadas no show. Foto: Rômulo Rosa

Na conversa com o produtor, descobrimos algo inusitado. Nando Costa pode ouvir o show somente, não pode vê-lo. Azar o dele, porque foi muito bom. Mas, ossos do ofício. Isso ocorreu, por causa da escolha do lugar da gravação, o deck do Cultural Bar. Quando as gravações são no palco interno da casa, há um sistema de câmeras que permite que o produtor veja o palco, já que o estúdio fica em baixo, na “Bat Caverna” tecnológica do Cultural. Mas, a opção foi do local foi acertada “porque sempre que é um show fechado há muita reflexão o som embola demais. O local aberto o som vem mais ‘sequinho’ e menos vazamento e melhora muito o resultado final”, afirmou Nando. Agora é esperar que ele trate o material bruto coletado domingo, limpe algumas coisas do áudio, mixe e masterize as faixas pra gente poder escutar. Não podemos esquecer o pessoal do vídeo, dá pra ver também! E olha que dá muito trampo editar isso. No final tudo dá certo. Quem foi vai ver novamente, quem não foi vai ver pela primeira vez em breve o registro da comemoração desses 15 anos de Martiataka!

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