O fogo e a energia de BRAZA
- Bianca Colvara e Karoline Discaciati
- 7 de jun. de 2016
- 4 min de leitura
Fotos: Rodrigo Ferreira.
A Braza incendiou Juiz de Fora nesse sábado. E deixou todo mundo que foi ao Cultural Bar com as pernas inquietas, com vontade de dançar e aproveitar cada batida. Com Danilo Cutrim na guitarra e voz, Nícolas Christ na bateria, e Vitor Isensee no teclado e voz, a banda junta estilos e ritmos variados. Cada música é uma viagem e uma sensação diferente. O que prevalece, sempre, é a vontade de mexer. Incendiar.

Na guitarra e voz, Danilo Cutrim
“A gente pensou muito nas intenções que definiriam o projeto: impulso, instinto, calor, visceralidade, intensidade, então todas essas referências convergiram pra alguns nomes, e deles a gente achou que sintetizava melhor essa ideia era Braza [...] O fogo é um elemento que tá o tempo todo transformando, que é também uma ideia do projeto.” Foi assim que Vitor Isensee nos definiu o que seria o Braza.
Ficou com a sensação de que já conhece essa gente? É que antes de dar início ao Braza os meninos faziam parte do Forfun, banda formada no início dos anos 2000, que chegou ao fim em dezembro do ano passado, depois de 15 anos transmitindo energia boa através de música. O Forfun terminou e era uma entidade. O Braza é a nova. Algo que extrapola os limites da música. Faz vazar. Faz vibrar.
Com a maturidade acumulada nos anos percorridos no mundo da música, os meninos puderam traçar com o Braza um caminho um pouco diferente. “Foi um processo prazeroso, meio que ao contrário. Criar pensando aonde a gente quer chegar, em vez de criar e depois pensar pra onde aquilo tá levando”, contou Vitor Isensee. O Braza é um projeto que se iniciou com tudo meticulosamente pensado: desde o conceito e o nome, até as experimentações que levaram aos arranjos finais.
“Segue o baile, segue a vibe até o amanhecer” Durante o show, a energia foi singular. Além dos nomes já conhecidos pelo público, o Braza conta com reforços que contribuem muito para a identidade da banda. Pedro Lobo no baixo, Pacato na percussão e Lelei Grancindo no sax. Quando esses caras todos tocam, a alma transborda, parafraseando Forfun.

O baile de sábado com Braza, no Cultural Bar
O setlist foi com o cd, de mesmo nome da banda, BRAZA, na íntegra. Ao vivo e só paulera. Mas os caras também aproveitaram pra mostrar de onde vieram, por que e como. Além das autorais, cantaram Gabriel O Pensador e Sabotage, trazendo para o show o debate sobre o racismo e as diferenças sociais. Também teve Sublime e Bob Marley, “pra rapaziada do skate, pra rapaziada que tem banda”.
É notável o amadurecimento dos meninos nesse novo projeto. Mostraram que voltar atrás e mudar de ideia não é questão de falta de personalidade, mas um passo adiante em direção à sabedoria. Em um momento alucinante, depois de "Subindo a santa", Vitor Isensee retoma para fazer uma reflexão em referência ao verso "e um tapinha na bunda, com carinho ela gosta", explicando que, se o verso tivesse sido escrito hoje, não seria dessa forma. Vitor enfatizou a necessidade do respeito à figura feminina, do carinho e, acima disso, de algo fundamental: con-sen-ti-men-to. Consentimento. Com sentimento.
Outras questões importantes foram lembradas durante o show. “É preciso falar de racismo”, disse Vitor. E se falou. E também do pobre, da favela, e de problemas sociais que assombram o Brasil. Em “We are terceiro mundo”, disseram: onde tudo se discute, menos a democracia, sequestrada e amputada, Saramago advertia: a cultura cria, o mercado se apropria “Je suis Amarildô”, mas a justiça tem miopia.
“Dentro dele próprio tá a chave da algema” O Braza conseguiu convergir nesse primeiro álbum dois pontos que muitas vezes caminham em direções opostas: a independência e a coletividade. “Todo mundo fez letra, todo mundo fez arranjo, fechou o conceito” disse Cutrim. O BRAZA é um CD com uma grande base de coletividade. Como na entrevista, todo mundo sentadinho no sofá trocando ideia, é assim que as músicas nascem. Os caras produziram todas as faixas do CD e contaram com a ajuda de dois grandes nomes pra finalizar o projeto, Mário Caldato Jr. e Pedro Garcia. Se trata de um CD feito na amizade, num estúdio em Santa Teresa, no Rio. Tudo muito ligado às raízes, coisa que eles sempre passam nas letras e músicas!
A independência do disco está além da ideia de não depender de ninguém. Está mais atrelada às questões técnicas, que permite que as músicas sejam lapidadas de uma forma mais próxima do produto final que chega ao estúdio, e também às parcerias que se faz. “O conceito de independência é um pouco difícil né? [...] Acho que é você ter autonomia pra fazer a arte do jeito que você imagina... Eu entendo que ser independente, mais do que com quem você se associa, quem são os seus parceiros, - que sempre são importantes - é você conseguir fazer o seu trabalho com menos interferência possível” disse Vitor. “Com mais sinceridade”, completou Nícolas.
Assim como Vitor Isensee disse, o Braza levou ao palco do Cultural intensidade, visceralidade. Foi energia térmica conduzida para cada corpo em contato com o som apresentado. Ao fim do show, estávamos com o coração incendiado. A chama permanece acesa; catalisadora para um processo de transformação que se iniciou durante o show, e que segue conosco adiante.
A rapaziada que tem banda

Obey! fechando a noite de sábado no Cultural
O reggae, o soul e o hip-hop deram lugar ao rock. Para fechar a noite, Obey! com repertório autoral e releituras de Ando meio desligado (Os Mutantes), Todo Carnaval tem seu fim (Los Hermanos), Até quando esperar (Plebe Rude) e Hero (Nickelback). Os meninos foram convidados para fazer o encerramento e toparam na hora. “De semelhante não tem nada, se tiver é muito pouco. Mas ta aí. É a nossa música própria mesmo, tocando a galera que tiver ouvindo”, explica o guitarrista Douglas Rodrigues.
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