Como nos sonhos: Phill Veras se apresenta no Complexo Casa, na primeira vez em JF
- Hyrlla Tomé
- 6 de jul. de 2016
- 5 min de leitura
Imagens gentilmente cedidas por João Paulo de Souza
Logo de cara (assim, no início, mesmo), peço perdão pela subjetividade da repórter. Acontece que escrever sobre um evento em que os laços afetivos são tão fortes sem que todo sentimento bonito transborde nas palavras é quase uma missão impossível. Já explico: eu e minha irmã sempre trocamos referências musicais. No ano de 2012 era a vez do maranhense Phill Veras ser apresentado para mim e se tornar figurinha marcada nos meus fones de ouvido. Logo cacei pela internet um link para fazer download do EP Valsa e Vapor (seu único trabalho lançado até então) e encontro-o no site que, três anos depois, seria a primeira sementinha de referência para o nascimento do Coletivo Avenida Independência: A Musicoteca - projeto comandado por Web Mota, que pesquisa a música independente nacional.

No último final de semana, o maranhense Phill Veras passou por algumas cidades mineiras numa turnê voz e violão
E, depois de passar por Belo Horizonte e São João del-Rei no mesmo final de semana com a turnê Voz e Violão, Phill Veras chega a Juiz de Fora, acompanhado da namorada, Fernanda Cuenca. Todos os que compareceram ao evento sentiram o clima aconchegante do quintal do Complexo Casa: as bandeirinhas e lâmpadas penduradas, combinadas com a feirinha de domingo, fizeram da tarde uma delícia. Teve hambúrguer artesanal do São Bartolomeu, Bazar da Mini e Garimpo Terrible Enfant, caderninhos da Bodoque, almofadas da Upa, acessórios da Zambi e drinks da La Rue Coquetelaria. E, para abrir os trabalhos musicais, o público se aconchegou pelas almofadas e pallets espalhados pelo chão do quintal para ouvir a voz e o violão de Raí Freitas.

Raí Freitas foi indicado para fazer a abertura do show no evento do Facebook e apresentou canções do EP O Andarilho e outras ainda não registradas em álbum
Raí foi indicado para fazer o show de abertura pelo amigo Lucas Motta, no próprio evento do Facebook. E, confirmando o caráter intimista do evento, a produção logo tratou de ouvir o EP O Andarilho e firmaram essa parceria mais que acertada. Para o músico, foi um dos shows mais calorosos que já fez: “Foi bacana a oportunidade de tocar pro público que foi pra assistir o Phill e também praqueles que já conhecem o meu som e gostam de Phill também e puderam assistir os dois juntos. O clima foi bem legal. Eu gostei muito da onda lá e a troca com Phill Veras depois do show foi muito massa. Foi muito aprendizado. Foi uma noite muito aconchegante, de muito aprendizado e muita troca. Não só com o Phill, mas também com a Fê, a namorada dele, e com todas as pessoas que vieram falar comigo. Talvez tenha sido um dos shows onde a reposta do público foi mais calorosa comigo, eu fiquei muito à vontade”. (Quer saber mais sobre o Raí? Termina de ler aqui e já engata na entrevista que a Avenida fez com o moço!)
Raí encerra o show. Agradece e chama Phill Veras para ocupar a cadeira. Os dois se abraçam e Phill senta, já à vontade. Coloca a sua caipirinha no chão e pega o violão. Abre logo com Como nos meus sonhos, talvez descrevendo a sensação que ele me confessa logo depois do show, quando pergunto como é ver tanta gente desconhecida, numa cidade em que ele nunca visitou, cantando suas composições: “É como se eu estivesse sonhando. Às vezes, eu até me distraio um pouquinho no show achando que é um sonho”. Isso era perceptível nos sorrisos do cantor, toda vez que mudava seu olhar do violão para o coro sentadinho no quintal do Complexo.

Phill Veras se apresentou em Juiz de Fora num clima aconchegante e intimista
Phill Veras tem apenas 24 anos e vem de São Luís, capital do Maranhão. Além do EP Valsa e Vapor, lançou os álbuns Gaveta em 2013, Carpete, em 2014 e o DVD ao vivo no Teatro Arthur Azevedo.
Começou sua primeira banda, a Nova Bossa, em 2008 e, mesmo com o fim dela, tratou de continuar gravando suas músicas e postando vídeos na internet. “A internet era a única vitrine. Eu não tinha gravadora, não tinha nem como chegar em gravadora, era bem pirralhinho, mesmo, e fazia as coisas meio que na doida. Até hoje eu faço as coisas na doida”, ele lembra e ri. A internet se provou a aliada do músico: “A minha relação com a internet é isso. A internet é o meu escritório. Tanto o Facebook, enfim, todas as plataformas, todos os aplicativos. Acho que em quanto mais plataformas os álbuns estiverem, melhor”.
O que também ajudou a espalhar suas músicas foi a já citada Musicoteca. Phill viajou para São Paulo para entregar o recente Valsa e Vapor nas mãos de Web Mota e, um tempo depois, mudou-se para a cidade. “A Musicoteca com certeza foi o maior impulso na minha carreira, foi a maior vitrine. Eu acho maravilhoso, acho o fundamental. O Brasil precisava disso, com certeza. É uma garimpagem muito bonita. O Web é um pesquisador de mão cheia, pra mim. Ele caça em vários estados, em várias cidades, vários lugares do Brasil. Web Mota é meu anjo da guarda”, ele comenta.
Mesmo de longe da terra natal, Phill ainda admira a cena do Maranhão: “Pra mim, é a cena mais forte do Brasil, cara. Só tu indo lá pra sacar. Muito louco. Tem de tudo: post-rock, grunge, heavy metal… Tudo, cara. Tem de tudo. Não é só reggae. A galera acha que é só reggae, mas não é só isso, não”. E quando peço uma referência, ele nem pisca: Soulvenir (se eu fosse você, aceitava mais essa indicação, também!)
O setlist da noite tinha músicas de todos os álbuns e algumas só disponíveis em vídeos no YouTube, além de uma composição nova. Até a sua favorita esteve presente: Dona Menina, ainda não registrada em nenhum álbum. “Eu gosto de tocar ele ao vivo, na verdade. Tocar ela, eu me sinto… parece que eu to me exorcizando”, ele ri.
Phill Veras executando Dona Menina no DVD Ao Vivo no Teatro Arthur Azevedo
Naquele clima, tão intimista, todo mundo ali tão pertinho, Phill Veras encantava, mesmo só com sua voz suave e violão, entoando suas doces melodias. Salvo algumas conversas lá trás, durante o show, da galera que aproveitava a feirinha de domingo, vi vários olhos mareados e alguns secando algumas lágrimas no rosto. O músico até aceitou pedidos e interferências do público: Lucas Motta (o responsável pela indicação de Raí Freitas à abertura) esteve por lá, sugerindo canções da extinta Nova Bossa. Fez até um belo dueto com o cantor (quase o derrubando da cadeira, mas isso é mero detalhe!)
O show passou rápido! Quando vi, já estávamos no bis, com Dia Dois, todos de pé, batendo palmas e dançando ao redor de Phill.
Comments