Música Atlântica: Trio Coladera se apresenta em JF, com repertório que aproxima Brasil e Portugal
- Lucas Portilho
- 26 de jul. de 2016
- 3 min de leitura
Fotos: Rafaella Pereira
Eram 21 horas e 20 minutos quando o show do Coladera começou n’Oandardebaixo, em Juiz de Fora, no sábado passado, 23 de julho. Ao chegar no espaço, procurei não fazer muito barulho para que o público continuasse em transe com as melodias emitidas pelo trio. Crianças, jovens, adultos e senhores, sorriam, aplaudiam e até assobiavam entre uma música e outra, acomodados em cadeiras e sofás. Provavelmente a melhor palavra para se definir a apresentação que assisti seria: intimista. Percebi o intuito daquela reunião inédita em Juiz de Fora: o Coladera faz música para a alma, e não para a carne. Além dos acentos, o ambiente – que em boa parte estava sob uma prazerosa penumbra – convidava o público a se concentrar na experiência em que estava vivenciando.

Um pouco do clima intimista da apresentação do Coladera, no último sábado, 23
Ao longo da apresentação, Vitor Santana explicou as origens do trio, apresentou os membros que compõe o Coladera – além dele, João Pires e Marcos Suzano, substituído na percussão durante a ocasião por Daniel Guedes – e explicou as origens de algumas músicas que estavam apresentando para um público de aproximadamente 30 pessoas. A banda é composta por dois violões e uma diversidade de instrumentos de percussão. Pode-se perceber que o leque de artefatos utilizados durante a apresentação transparece as heranças culturais que cada integrante do trio acrescenta ao grupo. Os ritmos das músicas variavam: do samba à música africana a Coladera parecia convidar os presentes a viajar com o grupo pelo Brasil, Portugal e África.
Durante a apresentação do grupo, o que mais me encantou foi o convite ao público de João Pires para cantar a música “Navega”. Marcos Suzano (percursionista) utilizou um instrumento que simulava o som do mar, ação que me chamou muito a minha atenção devido a criatividade adotada para aquela composição. Nesta canção, inclusive, o público se entregou: A grande maioria se entregou ao refrão que se repetia com tranquilidade e harmonia: “Navega… navega… não sou eu que navega, é o mar…”

Vitor Santana, João Pires e Daniel Guedes. Dois violões e percussões.
Sobre as composições do Coladera, Vitor Santana explica: “nós somos autores. Eu me considero músico, mas eu sou compositor. A composição vem na frente porque gostamos de cantar e também de escrever letras. Portanto, a gente pegou o espírito do canta-autor, esse espírito que vem dos trovadores e começamos, com alguns parceiros de letras, a fazer as nossas melodias” e complementa: “a língua portuguesa está muito presente nas nossas composições. Por exemplo, o crioulo, que é o idioma falado em Cabo Verde depois do português, é uma mistura da língua portuguesa com dialetos africanos. Esse trabalho [o Coladera] mexe com a intuição, toca o que pode ser, cada vez mais, uma forma de fomentar essas redes [conexões entre países] na atualidade. Temos uma história conflituosa entre Brasil e Portugal: dominador, dominado, colônia, metrópole, e eu acho que esta situação se desfaz através da arte. Não para minimizar tudo que ocorreu, mas para fazer disso uma coisa positiva para o mundo. O Coladera é essa ponte, essa música atlântica, utilizamos temas atlânticos nas nossas músicas: o mar, as sereias de Moçambique, as Iaras, Iemanjá, ou seja, todo um imaginário folclórico que está por trás das conjunções entre Brasil e Portugal, que a gente intuitivamente embutimos nos nossos trabalhos.”
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