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Festival de Inverno: Uma noite de transição entre o jazz, o popular e o experimental

  • Carime Elmor e Matheus Medeiros
  • 29 de jul. de 2016
  • 5 min de leitura

Caetano Brasil, Matilda e a banda ROMO participaram do terceiro dia do Festival de Inverno do Estúdio Maquinaria, em Juiz de Fora, na sexta-feira, dia 22 de julho. Caetano foi o primeiro a se apresentar. O garoto prodígio de riso fácil carregou para o palco a concentração de quem toca para um grande estádio lotado. Músico desde os 12 anos, o clarinetista e saxofonista é dono de uma técnica extraordinária que denota o verdadeiro espírito da música instrumental, exprimindo a cada nota ressoada uma enorme carga de sentimento. Junto a ele, o baixista Adalberto Silva dava o suporte perfeito para as composições do álbum “Caetano Brasil” (2015), que mesmo sem o restante do grupo - Guilherme Veroneze, Gladston Vieira e Rick Vargas - não ficaram vazias.

Show de lançamento do CD "Caetano Brasil", na Sociedade Filarmônica de Juiz de Fora, em 12 de dezembro de 2015. Foto: Jorguen Klysmann

Caetano Brasil diz que tocar em duo é sempre um desafio, o que torna as coisas ainda mais interessantes. “Juntar clarinete e saxofone e baixo não é uma tarefa simples, mas a sonoridade me agrada muito, por ser incomum e pelas possibilidades criativas que ela nos fornece”. A música instrumental já marcou presença no Festival de Inverno do Maquinaria em outras ocasiões, como na abertura, com o Sylvio Gomes Trio, agradando e mostrando que tem força por estas bandas. Caetano destaca também que a música autoral juiz-forana está em um ótimo momento. “Depois do lançamento do meu primeiro CD no final do ano passado, em que conseguimos lotar um teatro num sábado de chuva torrencial, eu concluí que o trabalho levado a sério, cativa às pessoas. Vejo um momento não só para o instrumental em Juiz de Fora, mas para a música como um todo e o autoral em específico”.

Em seguida, as Matildas coloriram o estúdio do Maquinaria com música popular brasileira autoral feita de maneira independente. O álbum Patuá, lançado em abril deste ano, foi tocado na íntegra. Além disso, em meio à sutileza de suas poesias que nos trazem paz, músicas de outros compositores da nova MPB também foram apresentadas.

Banda Matilda no lindo show de lançamento do CD "Patuá", no CCBM, em 7 de abril deste ano. Foto: Ana Cláudia Ferreira

A leveza da voz de Juliana sai de uma boca com dentes certinhos sempre terminando em sorriso. Dá uma vontade incontrolável de se soltar e dançar a melodia. Me admira como o cantar soa tão natural para ela. “Na Matilda, meu papel vocal é muito de síntese. De tentar compilar a voz de nós todos. Quando eu estou cantando na Matilda, eu não me sinto apenas a Juliana Stanzani, porque eu não canto da mesma forma que eu canto em outros momentos, aqui a coisa toda é a Matilda”.

A menina Amanda explicou porque sua flauta transversa está, agora, mais presente no som da banda. Depois que o Thales Scoton (bateria) e o Wilian Tonasso (baixo) passaram a acompanhá-las nos shows, a flauta assumiu uma função mais própria do instrumento. “Antes eu fazia muito também a função do baixo, às vezes um grave porque só tinha o violão de harmonia. Então hoje, com os meninos, eu acabo fazendo as duas coisas: um contracanto, uma segunda voz, é uma flauta que acompanha e sola”.

Para fechar a noite, com o sobrado cheio, o trio instrumental ROMO deixou todo mundo surpreendido. Isso porque era a primeira vez que a banda formada por Rômulo Heleno (guitarra), Pedro Tavares (baixo) e Bruno Varoto (bateria) estava se apresentando, e foram capazes de deixar quem os ouvia presos àquela performance que nos levou a digerir a música ao mesmo tempo em que viajamos para outro lugar. Sinestesia pura. Os garotos pareciam nervosos, ainda mais por estarem tocando junto de Caetano Brasil e Matilda, já bem conhecidos na cidade. Por mais que os nervos estivessem à flor da pele, o power trio não deixou a desejar em nenhum aspecto e a verdade é: pareciam felizes demais em estarem ali.

Bruno, Rômulo e Pedro no super show de estréia da banda, que rolou na última sexta, durante o Festival de Inverno do Maquinaria. Foto: Julia Gaione

Em assunto de repertório, foi executado um setlist completo de músicas autorais e que trouxe ainda mais força para a música instrumental do festival. O principal destaque ficou a cargo do guitarrista Rômulo, que usou de todos os seus inúmeros pedais para construir toda uma atmosfera lisérgica no estúdio. A ideia de tocar no festival foi muito espontânea, começou com um incentivo da Priscila Pinho que trabalha no Maquinaria. Após ver o Rômulo e o Bruno fazendo uma jam lá no estúdio, ela chegou e perguntou: “Isso é uma banda?” Os meninos responderam que não, e a partir daí, conversaram e decidiram montar o projeto. O Rômulo já tinha muitas composições prontas, e nesse primeiro show ele retomou ideias antigas que estavam guardadas, alguns riffs de guitarra, e outras gravações caseiras que vinha registrando desde 2013. “As minhas primeiras demos eram só as linhas de guitarra. Vez ou outra eu colocava algum drum machine e tal. Quando eu juntei as músicas para mostrar aos meninos, muitas delas tinham lacunas no quesito baixo e bateria, então eles tiveram liberdade de criar e colocar suas impressões em cima das minhas ideias”.

Quando questionado sobre seu estilo ou gênero, o guitarrista disse que não consegue enquadrar a banda em uma só categoria e que simplesmente faz música da maneira que lhe agrada. “Minhas influências variam do momento, assim como meu som. Não sigo uma linha específica, nem penso em linhas de gênero na hora de compor. Vou seguindo a onda pra ver onde ela dá”. Seu background musical é preenchido, principalmente, por bandas de rock e seus mais diversos subgêneros, e na sua maioria, de músicas letradas. Porém, Romulo fala que as faixas instrumentais que apareciam como exceções nos álbuns sempre chamaram sua atenção. “Eu sempre gostei de guitarra, ainda mais depois que comecei a tocar, então acho que vi na música instrumental a possibilidade de apreciar ao máximo o instrumento que eu toco. Além disso, eu comecei a conhecer mais jazz e música instrumental justamente quando estava pensando nas minhas composições, então não teve como não me influenciar por esse ‘estilo’”.

Em meio àquela densa exposição sonora com muito uso de efeitos, um momento de improvisação marcou a autenticidade dos caras diante de seus instrumentos. A ideia ainda incipiente de formar uma banda surgiu no ano passado, enquanto Rômulo Heleno gravava suas composições em casa. “Assim que comecei a gravar minhas primeiras músicas eu já tive vontade de tocar. Já conheço o Varoto há um bom tempo e tivemos essa ideia de formar a banda. Conheci o Pedro Tavares porque ele toca guitarra com o Filipe Alvim. Ele gostou do som e topou tocar baixo com a gente”.

O festival que está acontecendo desde meados de julho, chega ao fim essa semana. Carol Serdeira, Big Charles e Nara Pinheiro Trio serão os artistas da noite de sexta, o 5º dia do evento. E para o fechamento, no sábado, vai acontecer uma Jam Session que reunirá todos os músicos, musicistas, bandas, trios e duos que participaram do primeiro Festival de Inverno do Maquinaria.

 
 
 

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