top of page

Trilha Sonora

  • Júlia Pessôa
  • 5 de ago. de 2016
  • 2 min de leitura

Foto: Pedro Henrique Rezende

No último fim de semana, fui madrinha de casamento de um grande amigo. De um casal de grandes amigos, aliás. O noivo, há mais de 15 anos. Ela, desde o segundo em que entrou na vida dele. Foi uma cerimônia emotiva, cheia de flashbacks da minha adolescência, e de tanta coisa que passamos juntos. Não só eu e meu agora afilhado, mas vários rostos que estavam na igreja, sendo protagonistas, coadjuvantes ou, ao menos, espectadores das nossas aventuras e desventuras juvenis na cidade onde nasci, vivi até os 18 e, como a Itabira para Drummond, me dói.

O Heraldo marchou rumo ao altar com “Monte Castelo”, que eu nem gosto tanto, mas me levou copiosamente às lágrimas até o fim da celebração, pelo conjunto da obra – e que obra! Uma das trilhas sonoras da nossa adolescência era Legião Urbana, alguns amigos gostando e outros odiando, mas todos ouvindo vez ou outra – à revelia ou não. Pensei no quanto já ouvi e amei a banda, em como ela musicou minhas fossas abissais de jovem dramática, mas também meus dias de resistência , autoafirmação e conquista. Depois, lembrei-me do tempo em que era cafona e mainstream assumir o apreço pela Legião e como hoje ouço pouco, quase nunca, mas estou nem aí para o que os outros vão pensar.

Foi assim que constatei que certas amizades perduram por todas as trilhas sonoras das nossas vidas. Os churrascos com pagodes duvidosos. As noitadas juvenis com sons lamentáveis em três ambientes, todos com música ruim. Os carros de som com funk na porta das boates. A fase de idolatrar Legião Urbana. Os tempos de ter vergonha de Legião Urbana. A redenção de poder sentir nostalgia de Legião Urbana. Os rocks indie pretensiosos da vida universitária. Um hit chiclete de rádio que não sai da cabeça. As músicas dos nossos pais. Aquela banda muito ruim, mas que tocava em tudo que era lugar no tempo em que nossas idades eram precedidas pelo número 1. São também estes os amigos que abraçam todos os nossos sons, da voz embargada de um choro escondido a uma gargalhada escandalosa e irrefreável, daquelas em que se fala “ai ai” no final.

E como a música, são estas as amizades que têm mais poder de mexer conosco, com as nossas memórias e nossa capacidade de constatar o quanto somos felizes. Porque ambas nascem do lugar que nos referencia e é parte inalienável da pessoa em que nos tornamos: a nossa cidade.

 
 
 

Comments


Mais lidos
Posts Recentes

© 2015 por Avenida Independência. 

 

bottom of page