2º Graffiti Absurdo: Peace, Love, Unity and Have Fun
- Matheus Medeiros
- 8 de set. de 2016
- 5 min de leitura
Fotos: Vitória Dantas - Crisântemo Fotografia
Imagine ir a um evento e sentir a aura da cultura hip hop inteiramente em você. Falando assim pode parecer abstrato, mas quem foi ao 2º Grafitti Absurdo, na Casabsurda, no sábado, dia 03/09/2016, certamente sabe do que eu estou falando. No quesito rap, a segunda edição do Graffiti Absurdo contou com Hugo de Castro, Marte Mc, Hattori, Kel Mc, RT Mallone, Thainá Gomes, Pedro Falcão e a dupla do Projeto Consonância. Os DJs Morf e Fabin também participaram, dando uma força. Ainda falando nos disc-jóqueis, Nanda Gondim e Karrane Felipe comandaram a discotecagem do evento.

GRAFFITI
Mas o hip hop é mais que música. Em termos históricos, o movimento nasceu no início da década de 1970 e teve como pai o estadunidense Afrika Bambaataa, primeiro a utilizar o termo e dar as bases técnicas e artísticas para o gênero, formando assim uma nova cultura que se expandia nos bairros negros e latinos da cidade de Nova Iorque e que depois ganhou mundo. Ele estabeleceu quatro pilares essenciais na cultura: o rap, o Djing, o grafitti e o breakdance. Por isso, 25 artistas transformaram o lugar, grafitando paredes e muros (a lista com os nomes está no fim do post). O breakdance ficou por conta de quem foi para cantar ou assistir. E se divertir.
A primeira apresentação ao vivo ficou por conta da estreia do projeto solo de Hugo de Castro – conhecido por ser da banda Soul Rueiro – que teve a participação de Pedro Falcão. O músico, mesmo seguindo na estrada com uma banda de reggae, sempre gostou de flertar com o rap. Quem já assistiu a um show do grupo, consegue notar claros elementos do hip hop nas músicas. Parece que agora o flerte virou uma relação séria. “Foi uma sensação muito doida estrear esse projeto no segundo Grafitti Absurdo. Primeiro, porque é a primeira vez que me apresento sem estar tocando um instrumento e desgarrado da banda. Segundo, pelo fato de estar utilizando o rap pra estabelecer essa comunicação. Através da escrita rap, encontrei um caminho direto de suprir a demanda de informação que minha cabeça, em determinado momento, começou a trabalhar”, explicou Hugo. O (agora) rapper disse que suas primeiras composições começaram a aparecer em 2013. “Foi um pouco de tudo que juntei especificamente para fazer essa apresentação. Palavras rimadas em cima do tempo quatro por quatro, foi uma descoberta de certa forma recente que supriu uma necessidade que eu não sabia que tinha”.
A festa seguiu com Marte MC anunciando o momento do freestyle, a modalidade na qual rappers fazem rimas de improviso. O primeiro a se unir a Marte foi RT Mallone. “Comecei a dançar com 11 ou 12 anos em projeto social que tinha no meu bairro. Comecei a me aproximar mais da cultura sendo B-Boy [pessoa dedicada ao breakdance]. Na música, comecei escrevendo paródias, mas nem chegava a ser rap. Nesta época, dançava publicamente e escrevia só pra mim”, explicou Mallone. O rapper contou o início da carreira foi umas de suas melhores fases, apesar das dificuldades. “Quando tinha evento, o esquema era o seguinte: descíamos a pé, juntávamos uma grana do grupo para comprar o biscoito mais barato da loja e um refrigerante, nós apresentávamos e voltávamos a pé pra casa. Era uma fase boa, porque todo mundo fazia por amor, pelo prazer de estar ali”.
Kel MC, de volta aos palcos depois de um longo período, marcou presença em três músicas. Um pouco enferrujado pelo tempo fora das apresentações, Kel acabou sentindo um pouco de dificuldade e pediu desculpas. “Eu preciso melhorar a minha respiração”, ele disse. Foi aplaudido, mesmo assim. Ninguém ali se importava com uma execução impecável. Outro que retornou aos palcos foi Hattori. Em conversa com ele, questionei os motivos do afastamento e o que o havia feito mudar de ideia. “Eu tive um filho, e neste meio tempo eu acabei ficando desiludido e comecei a pensar, mano isso não vai pra frente, eu estou perdendo meu tempo, meu dinheiro e a proximidade das pessoas que gostam de mim de verdade. Eu me afastei meio por covardia, por não querer bater de frente com isso. Eu tinha muito medo de chegar a um ponto em que eu não conseguiria mais escrever mais nada de bom. Mas eu acabei sentindo muita falta do rap e isso chegou a um nível em que eu não consegui mais esconder essa vontade e então eu resolvi parar de fingir que minha paternidade tinha culpa, porque não tinha”.
A representante feminina da roda era a rapper Thainá, que cantou duas músicas. Ela contou que se apresentar no Graffiti Absurdo é sempre especial. Ela explicou que os eventos que fortalecem os artistas locais são principalmente de iniciativas independentes. “O Encontro de MCs promove quinzenalmente a roda de rima na Praça da Estação, entre outros eventos. Temos também o Coletivo Vozes da Rua, Associação Juizforana de Hip Hop, o Educarte - Hip Hop e Educação que leva a cultura pras escolas, além da própria Casabsurda. Essa disposição dos coletivos é maravilhosa, pois são nessas iniciativas que a gente pode manter a cultura hip hop viva na cidade. Mas tudo com pouca ou sem nenhuma verba, dificultando a valorização dos artistas que estudam e se empenham no seu trabalho.

Marte MC fechando sua apresentação
Para terminar, Marte MC fechou a sequência de 15 músicas, cantando sozinho. E depois conversou com a Avenida. “Fiquei profundamente satisfeito por ter conseguido prender a atenção da galera por tanto tempo. Uma hora e meia de informação circulando. As participações foram ótimas e deram uma dinâmica boa. O show reforçou a minha tese de ninguém é bom sozinho. Música é compartilhar momento. Cantar para a alma que está vivo. Por mais que haja tantos problemas neste mundo, eu sou grato por poder fazer o que faço. Isso é a Entidade Hip Hop. Peace, Love, Unity and Have Fun”.
Artistas de graffiti que participaram do evento:
Fernanda Toledo, Dorin Graffiti, André Aneg, Bula Temporária, Art by Sophletta, OCo Skerps, Ileso Grafiteiro, Igor Tenxu, MONG, ANG , Talles Silveira Keisy, Gustavo Zika, Felipe Stain, Mauro Suezo, Luiz Gonzaga, Lúcio Rodrigues, Marcos Martokos, Diane Sturião, Diego Augusto, Flaviano Pivoto, Diego Dgo, Jhony Misterbod, Vivy Assis, Chris Assis, Claudim Melo, Samuel Souza, Dazini Tattoo e Erick Tatoo Studio.
O Projeto Consonância também apresentou sua poesia rimada no evento. A dupla se apresentou pela primeira vez em Juiz de Fora em 2012 quando o grupo ainda tinha uma formação diferente da de hoje.
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