top of page

Rosa dos ventos

  • Bianca Colvara
  • 21 de set. de 2016
  • 4 min de leitura

Fotos: Olho de Peixe Fotografia - Marina Costa

Sabe quando chega o dia, aquele belo dia que tem que chegar? Dia que chega na vida e a gente fica sem saber o que esperar.

Não foi domingo (18) esse dia, não. Foi antes, bem antes. Mas domingo foi o dia da lembrança.

É que eu cheguei lá no Museu Mariano Procópio e me ajeitei para assistir ao Lucas Soares e suas Canções de Entardecer. Um pouco antes ele havia me contado que iria cantar algumas músicas do Darandinos, outro projeto do musicista que ostenta a mesma banda base de seu show solo: os virtuosos Adalberto Silva (baixo) e Gladston Vieira (bateria). Na hora pensei em “Rosa dos Ventos” , minha música favorita da banda e que dá nome ao CD, lançado há dois anos pela Lei Municipal de Incentivo à Cultura – Lei Murilo Mendes.

Lucas Soares, acompanhado de Adalberto Silva, Gladston Vieira e Caetano Brasil, deu o tom do entardecer de domingo

Mas os clássicos “darandinescos” eram somente parte do presente que aquele entardecer traria para o público. Oito músicas, inéditas, guardadas numa caixinha de nostalgia para um futuro CD, foram reveladas. A ideia, contou-me Lucas, é tentar patrocínio da Lei Murilo Mendes para gravar as novas composições. “O disco ainda vai entrar em processo. O estopim é agora com a elaboração do projeto pra Lei e tem um caminho longo até a gente chegar no final”, explicou. E, olha, se ficar tão bonito quanto foi aquela tarde de domingo, arrisco dizer que vai ser um disco encantador.

Durante a apresentação, Lucas contou com participações especiais. Caetano Brasil mostrou, mais uma vez, que é mesmo o mago dos sopros. A feitiçaria ali é pesada! Anna Cláudia, Carol Serdeira, Laura Jannuzzi e Juliana Stanzani subiram ao palco, cada uma a seu tempo, para elevar à alguma potência distante o prazer de ouvir as composições de Lucas. O musicista explicou que na gravação das Canções, o vocal será idealmente dividido com uma voz feminina, “eu imagino uma cantora comigo cantando todas as músicas. Como esse projeto ainda não tem essa cantora, não tem essa pessoa, eu quis chamar várias amigas, das quais eu gosto muito dos trabalhos, que eu tenho afinidade, pra participar do show comigo”.

Lucas também apresentou um pouco do seu trabalho instrumental durante o show no Museu Mariano Procópio

Entre as canções apresentadas, muitas composições em parceria com Kadu Mauad, outro “cantautor” residente em Juiz de Fora que se destaca pelas letras certeiras e milimetricamente alocadas.. Da parceria com ele re-nasceram ali “O Auto”, “Xote do desconcerto”, “La Negra” e “Cabras”. A co-autoria se destaca também em “Sobrado”(concebida com os amigos Fred Fonseca e Bruno Tuller), e o trabalho solitário de um artista inspirado deu o ar da graça em “Rosa dos Ventos” – que me deu uma saudade não sei do quê - e “Sombrinha Furada” – que me fez querer dançar.

São muitas as referências no trabalho de Lucas: desde a música brasileira em suas manifestações tradicionais, até o jazz mais formal; além da pegada da MPB, com letra e melodia bem trabalhados. No meio disso tudo, ele cria um jeito próprio de fazer suas músicas,. “Eu não gosto de um lugar comum, eu gosto de uma estranheza, gosto de uma esquisitice. Porque me incomoda um pouco a pessoa já ter ouvido aquilo em algum lugar (...) eu gosto de tentar deixar uma assinatura ali”, contou.

No domingo, ele assinou tudo mesmo.

As Canções fecharam a programação do Circuito Música na Cidade, realizado pela Fundação Cultural Alfredo Ferreira Lage (Funalfa) que incentivou 10 apresentações de artisas locais em variados palcos juiz-foranos. O show de domingo também fez parte da programação da Primavera nos Museus. "O Museu [Mariano Procópio] vem participando desse projeto Primavera nos Museus que é idealizado pelo Instituto Brasileiro de Museus e que visa justamente promover esse diálogo com o público. As ações são as mais diversas, nos mais diversos campos, seja com projetos educativos, culturais e científicos. A música segue no nosso propósito de ter música autoral, música instrumental, música erudita, coro, valorizando o músico, sobretudo aqueles que não encontram espaço no circuito comercial", explicou Douglas Fazolato, diretor do Museu Mariano Procópio. O tema desta edição da Primavera é “Museus, Memórias e Economia da Cultura”: uma reflexão sobre o papel dos museus como agentes fundamentais da cultura, espaços para trocas simbólicas, educativas e artísticas. Apresentações de artistas autorais, como é o caso de Lucas, potencializam o viés pretendido pelo projeto.

Lucas Soares fechou a programação do Circuito Música na Cidade e foi uma das atrações da Primavera nos Museus, que busca aproximar o público da cultura da cidade.

Lucas se declarou militante da música.. Para ele, o cenário musical da cidade é forte, com profissionais capacitados e materiais de qualidade altíssima. O grande problema é o escoamento da produção. “Precisa de uma política cultural que oriente ao consumo de música autoral, que dê confiança para o público sair de casa, que ele tenha acesso para conhecer as coisas produzidas na cidade, que o empresário queira investir nisso e ver que isso dá retorno”. E observamos juntos, eu e ele, o ótimo público presente naquele espaço. Um presságio esperançoso dos bons tempos que virão para a música autoral juiz-forana.

***

A Primavera nos Museus vai até sábado, dia 24 de setembro. Se você ficou interessado, pode conferir a programação dos Museus da cidade no Guia de Programação.

 
 
 

Comments


Mais lidos
Posts Recentes

© 2015 por Avenida Independência. 

 

bottom of page