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Com vários protagonistas: Registro (quase literário) de uma noite com La Macchina e Balli

  • Túlio Mattos
  • 11 de out. de 2016
  • 6 min de leitura

Capítulo I: O Começo pelo começo

Não entendo o motivo de as pessoas não gostarem de spoiler. Spoilers são motivadores para quem tem preguiça de arriscar o tempo no desconhecido. Eu, integrante desse time durante parte considerável das minhas 24 horas que tenho direito, sairia de casa muito mais disposto se soubesse o que ia encontrar ao sair num sábado à noite, tendo como companhias papel e caneta.

Cheguei ao Maquinaria e fui identificado com o número 16 rabiscado na mão. Olhei e pensei: “Dois elevado à quarta potência. São duas bandas, preciso de quatro pontos muito bons pra fazer valer a pena”. Fui pra área de fumantes e, enquanto conversava, ouvi as primeiras notas da La Macchina em “Summertime”, da Janis Joplin, mas não era como a versão original. La Macchina mostrou de primeira que tinha identidade própria. Não quis perder mais nenhuma nota. Um ponto para o sábado.

Veio o anúncio da primeira autoral, “Just a Fake”. A música é uma música versátil. Pode ser usada em uma mesa de baralho ou em dancinhas em que os joelhos se mexem pra lá e pra cá e o deslocamento é feito com os pés arrastando no chão. Com pegada rock n’roll, muito groove e blues (ou RGB, como eles preferem chamar) a música ganhou um solo de “teclado” do guitarrista Hugo Schettino, sua guitarra e sua pedaleira, que poderia ser alguma coisa do Jon Lord, do Deep Purple. O backing vocal veio pela primeira vez. E veio de trás, mesmo. O segundo microfone estava com o baterista Hélcio Leão. Mais um ponto para o sábado. Com isso, ele já cumpriu metade do que precisava e ainda tinha muito La Macchina por vir.

Roxanne, do The Police, era uma dessas músicas que se eu falasse que foi feita pela banda, não tinha motivo pra duvidar. A música teve três quebras. Na primeira, todos voltaram a tocar depois de um slide de baixo, a segunda volta veio com um slide de guitarra, a terceira com uma virada na bateria. A versão original não tem solo, a versão do La Macchina tem dois e cada um tem três variações na base grooveada do baixista Gutto Ribeiro, que fazia uma expressão facial para cada nota grave que fazia (chegamos nos 3 pontos). Sobre a heresia saudável de mexer com deuses sem medo de errar: Rock n’ roll do Led Zeppelin teve menos rock n’roll. Fez menos falta do que eu imaginava.

Depois veio “Naked”, fazendo seu próprio caminho, como diz a letra. Música forte, dessas que têm potencial pra ficar na cabeça. E a parte que gruda é uma mensagem positiva e motivadora! Fiquei aliviado quando vi que tava tudo bem cantar o refrão sem parar. A música teve participação, no álbum, da Laura Jannuzzi e da Juliana Stanzani, da banda Matilda.

A identidade da banda transbordava. Com o eleito por esse blog americano como talvez um dos melhores, talvez um dos piores covers de Stones. Provavelmente um dos melhores. Tenho provas e tenho convicção (tá 1x0 nos comentários do blog). Eles assumiram os cover como se fossem autorais e eu só me lembrava de diferenciar quando o Álvaro anunciava que vinha mais uma do EP. “I Must Go On” veio devagar e foi ganhando terreno enquanto o refrão com o nome da música era repetido.

A décima música foi “Satellite”, uma das queridinhas da banda. A música é uma viagem até uns lugares que são bem difíceis de chegar. O baixo e a guitarra brincam de ambientar o espaço Maquinaria como se fosse outro espaço: o sideral. Não, mas não é conversa de maluco! Olha, se quiser, descansa, espera acabar a Naked, faz um xixi e volta pra ouvir “Satellite”. Se tiver fones de ouvido, melhor ainda. Relaxa que ainda tem o episódio Bali, pessoa. (mais um ponto para o sábado)

Sattelite - La Machina

A guitarra do Hugo Schetino brincou feito criança em “Brand New” e nesse clima logo depois veio “Never Tear Us Apart”, uma música que fez o Hélcio Leão fazer tantas viradas quanto carrossel. “Come Together” também ganhou roupagem nova. Os versos conhecidos dos Beatles não serem fáceis de decorar, foram divididos pelo vocalista e o backing vocal.

Álvaro, depois de uma sessão de “Valerie” e uma versão mais pesada “Back to Black”, ambas da Amy Winehouse e “Hey, Bulldog” dos Beatles, disse “por favor, nos parem quando for preciso”. Ninguém os parou, mas eles pararam assim, mesmo.

Capítulo II: Balli

Virou o dia, virou a banda, e já na primeira hora do Domingo a Bali trouxe de volta “Come Together”. Deu pra ver, logo no começo, que viria uma outra banda, com outra pegada e ditando seu próprio ritmo. As releituras do rock para o RGB passaram para o pop e o rock indo para o Soul. Depois do solo, a vocalista Aline Coutinho fez sinal para o Daniel Guimarães, o baterista, que a voz dela precisava de mais. E assim foi.

Já nesse ritmo, emendaram com o hino “Seven Nation Army”, do White Stripes. Com toques certeiros nos pratos de condução de Daniel Guimarães, um diálogo entre vocal e a guitarra do Vitor Costa e slaps no baixo de Lucas Guida, veio “Kicked to the Curb”, um dos trabalhos da banda.

Nesse ponto, o público já tinha escolhido suas posições. No Maquinaria, dá pra ver o show pelo vidro do estúdio ou por um dos telões e assim a banda se movimentava, de modo que todo mundo pudesse ver todo mundo. Grudei no vidro porque gosto de detalhes, como o Daniel Gonçalves fazendo as onomatopeias da bateria com a boca na releitura de “Dangerous Woman”, como a banda começando a sentir calor, e aí se sentir em casa em “Earned It”, do The Weekend. Já estavam “Feeling Good”. Tanto que transformaram “Ain’t no Sunshine”, do Bill Withers, em uma música deles. John Mayer, pra não sei quantas mil pessoas, não se colocou tanto quanto essa galera.

Trouxeram, também, uma releitura de “Sweater Weather”, do Neighbourhood e, logo depois, veio o maior triunfo da banda. Sete dias após ser lançada a versão acústica da autoral “I’m telling you”, o vídeo no Facebook chegou a 55 mil visualizações. Ela, vocês não vão ler. Ouvir é sempre mais confiável. Nesse momento, o guitarrista Vitor Costa estava tão em casa, que até fez o movimento de quem ia atirar a guitarra na parede. Tudo muito seguro pelos dedos que continuavam a fazer harmonia:

I’m telling you - live session

(chegamos a quatro pontos)

Bob Marley também dançou o Soul em “Is This Love”, em uma linha de baixo incrível produzida pelas cordas verde-limão. Logo depois veio “Broken”. Puxada pelo prato de condução e marcada pelo vocal forte da Aline, a música tem duas guitarras. Quando a voz e a guitarra solo precisam conversar, a guitarra base da Aline vem para mediar e um ótimo diálogo é travado.

Caminhando para o final do show e do texto, a banda ainda fez do seu jeito as releituras de “Clean the House”, uma versão pesada de “Crazy” de Cee Lo Green, “Hit the Road, Jack” do Ray Charles, “I wish” dominada pelo baixo do, solista por um momento, Lucas Guida e “Toxic”, da Britney Spears, em uma versão arquitetada pela bateria, baixo e vocal e com a guitarra pincelando quando precisava.

Pra finalizar, a banda escolheu a música mais pesada do repertório, “Bright Lights”. Os dedos, aquecidos depois de um show inteiro, estavam prontos pra mostrar mais velocidade e foi assim que mais pessoas foram dividir lugar comigo com a cara grudada no vidro. (mais um ponto)

Se eu soubesse desse spoiler todo, ficaria feliz por ter levado a mochila pra um sábado. Saí com um dois elevado a cinco, o que me dá o dobro de pontos dos meus 16 registrados na mão. Tenho eternizados no meu caderno as melhores cenas dessa série nova que eu acabei de conhecer: a das bandas que são como são, independente da estação.

A Balli gravou o show inteiro e deve vir material bacana por aí. De acordo com eles, essa não vai ser a season finale.

Fica o recado e o convite para a La Macchina

 
 
 

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