"Pra ficar together": Em dia com o rock n'roll de Juiz de Fora
- Pedro Henrique Rezende
- 12 de out. de 2016
- 3 min de leitura

Foto: Pedro Henrique Rezende
Peço licença ao homem banda feat. cara nova da música autoral de JF, Guido, para usar uma das frases da canção "Tchuguedinho", a fim de já dar o tom do encontro que tive com uma família bem legal no último sábado, lá no Galpão. Eu sei, esses diminutivos não combinam muito com os rapazes cabeludos que ostentam suas camisetas pretas. Mas caras, vocês tinham que ver como é legal ver a relação de irmandade entre cinco bandas e seus vários integrantes (e familiares), unidos pelo velho espírito rock n`roll.
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Dizem as más línguas que, na cena musical atual desse nosso Brazilzão de Raul, não se fazem mais bandas de rock como antigamente, que há uma carência de renovação dentro do estilo. Pois o rock vive, passa bem e se renova diariamente de forma colaborativa, assim como a música independente de forma geral. Prova disso foi o festival Rise Together, que aconteceu no Galpão Lounge Bar, em JF, no dia 08/10. A banda Usversus recebeu o pessoal da Coroña, João Reis Trio, Obey e Vivenci, num clima de "tá tudo em casa". Não só pelo lugar aconchegante e seus bancos de pallets espalhados por lá, mas também pelo público. Amigos e familiares, pessoas que acompanham as bandas de seus conhecidos e todas as outras da mesma cena e que foram capazes de criar um ambiente de exaltação ao rock local.
A difícil tarefa de abrir os trabalhos da noite foi dada aos rapazes da Coroña. A banda, que trouxe uma formação nova, em power trio, mostrou que a mudança de formação foi muito bem vinda. Sendo agora o único guitarrista, Jordan Pereira abusou do peso das distorções de sua Epiphone SG, em novos arranjos das já conhecidas composições da banda. Vale comentar também as versões de clássicos de bandas como Pink Floyd e The Jimi Hendrix Experience, que ganharam uma cara nova, mais "carrancuda".
Logo depois subiu ao palco a banda Obey, que trouxe consigo uma pegada mais hard core, exalando aquela atitude rock n`roll (aquela mesmo que "falta na cena musical"). Os vocais de Igor Santos deram o tom a uma apresentação energética e que resgata uma atitude, e porque não um estilo de vida, já consagrados, porém com a novidade dos sons autorais da banda. Energia e qualidade de composições também não faltaram à banda seguinte. A Usversus foi a terceira banda a se apresentar num festival que colocou frente a frente artistas e agentes culturais de um nicho musical específico na cidade, num misto de celebração e admiração e empolgação com o trabalho dos colegas de mosh.
Era incrível ver baixistas batucando nas mesas e cadeiras, bateristas fazendo air guitar durantes os solos e guitarristas soltando a voz com as letras das músicas dos amigos das outras bandas na ponta da língua.
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As duas últimas bandas a se apresentarem contavam com o mesmo baterista. João Cordeiro tocaria com a Vivenci e com o João Reis Trio. A expectativa era grande para ambas as apresentações. O guitarrista da banda Vivenci, Vinícius Polato, chegou a contar em tom confessional antes do show que João Cordeiro havia ensaiado com eles apenas uma vez antes do show: "O cara chegou lá, passamos todas as músicas e ele não errou absolutamente nada! E foi isso o ensaio". Entretanto, por motivos de saúde o baterista tocou apenas metade do repertório inteiramente autoral da banda Vivenci e teve de deixar o evento.
Por mais que a penúltima apresentação tivesse sido curta, foi o suficiente para a banda mostrar suas músicas autorais, cheias de solos de guitarra virtuosos e com a força e a potência vocal do baixista e vocalista Victor Polato. Infelizmente até aquele momento a apresentação do trio de João Reis estava cancelada por falta de baterista. Nesse momento houve a prova máxima do quanto a cena do rock juizforano é de fato uma família. O mesmo Victor Polato, irmão do Vinícius, amigo do João Cordeiro, assumiu a batera do também amigo João Reis e proporcionou ao público, digo, ao restante da família, um pocket show em tributo ao grande Jimi Hendrix.
A noite terminou assim, com a sensação geral de dever cumprido e com uma vontade grande de minha parte de ser considerado no mínimo "agregado" dessa família tão talentosa. Ao ouvir mais uma vez "Excuse me while I kiss the sky" é impossível não atentar para o fato de que sim, o rock vive. E ainda respira pois se apóia nele mesmo, em sua grandeza e na grandeza dos que falam em seu nome. E sem essas "caras de mau", pois estava todo mundo "tchuguedinho" que eu vi!
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