Mobilidade pelo mundo: A melhor GIG de domingo reuniu artistas independentes em JF
- Matheus Medeiros
- 26 de out. de 2016
- 4 min de leitura
Fotos: Gleice Lisboa
Por determinação universal, o Domingo foi o escolhido como o dia do descanso. Mas por que não tornar um destes dias preguiçosos em algo, inesquecível? Foi pensando nisso, que a Avenida Independência criou A Melhor GIG de Domingo. Um evento que reúne apresentações musicais, neste dia em que maioria das pessoas não quer ter que se preocupar com nada. A banda Graveola e o Lixo Polifônico veio de BH até Juiz de Fora (Temer) para estreia do evento, lançando o novo CD Camaleão Borboleta. Além da banda, a festa que aconteceu no Cultural Bar, contou com a apresentação de Raí Freitas & U Bandão – primeiro representante juiz-forano da GIG –, a Performance no Tecido Acrobático (Tear), feirinha de produtos artesanais, venda de vinis, chopp artesanal (Brauhaus e Grizas) e o bailinho da Avenida (DJ’s).

Graveola e o Lixo Polifônico (Grave, para os íntimos)
Quem já ouviu Graveola e o Lixo Polifônico, sabe que a banda tem fascínio pela diversidade de gêneros, mas que dispensa rótulos. A quase esquizofrenia de referências unida à brasilidade trazem ao palco uma sensação única de experimentação e desapego. O início do show de domingo foi marcado pela mistura do (pasmem!) arrocha aos ritmos baianos de “Talismã”. O Bolero versado em portunhol veio em seguida na suave “Aurora”. “Esquadrão”, quarta faixa do EP London Bridge, chegou com seu arranjo caprichado de guitarra elétrica. Luiza Brina e sua voz adocicada encheram o salão de mais referências em “Costi”. Logo depois, “Tempero Segredo” e sua pegada de reggae, psicodelia e MPB temperaram ainda mais o show. A volta aos primórdios da banda chegou na lenta voz de José Luiz Braga em “Amaciar Dureza”, do primeiro disco da banda, Graveola e o Lixo Polifônico, de 2009. Voltando ao Camaleão Borboleta, o carimbó paraense de “Índio Maracanã” trouxe agito em contraposto a canção anterior. De volta ao primeiro álbum e para encerrar a primeira metade do show, a romântica “Dois Lados da Canção”.
O início da segunda metade veio através de crítica à alienação provocada pelos meios digitais em “Sem Sentido”. “Lembrete” e “Maquinário” exalaram o perfume da música popular brasileira e do samba rock/axé ao bastante preenchido Cultural Bar. “Desagrado e Flores” e seu sambinha bom, veio acompanhado pela marcante “Babulina’s Trip”, que já anunciavam a reta final da apresentação. E em seguida, junto aos versos do samba de “Insensatez: A Mulher Que Fez”, ninguém queria que festa tivesse fim (“Para, continua, continua, para, para”). Fechando o show, “Desdenha” soava como uma homenagem. “A noite se denunciou/ E na Avenida um samba que nem era samba/ Toda quebrada reunida requebrava na Avenida/ Que não era samba e deixava aquele clima de saudade precoce ao show em uma festa que não queria acabar”.
Em conversa com José Luís Braga, cantor, instrumentista e compositor do Grave, ele chamou a atenção para os conceitos de independência e sustentabilidade. “Como se sustentar num ambiente onde os meios oficiais industriais erguem a sua hegemonia sobre as massas e orquestram formas de pensar que conduzem o mundo em um estado praticamente terminal? Como resistir a essas forças tão danosas? Talvez a resposta esteja no nosso próprio fazer. Porque apesar das crises, estamos aí, fabricando discursos transgressores, botando as pessoas na rua, criando possibilidades de respiro diante desse ar poluído. E do nosso suspiro fazemos arte, improvisamos situações de esperança. Acho que eventos plurais como esse simbolizam essa necessidade”.

O que é de Fora não fica atrás
Dizer que a produção independente local tem qualidade é algo que a Avenida já faz há um bom tempo. Um dos exemplos disto é Raí Freitas, convidado que abriu os trabalhos musicais no evento de domingo. Quase sempre acompanhado por seus amigos da U Bandão ( de Volta Redonda, RJ), eles não abrem mão da experimentação em suas músicas. Rock, Reggae, Rap, Samba, Baião e latinidades compõem os trabalhos do EP de O Andarilho, lançado em 2014, que agitaram o palco do Cultural Bar no fim de semana.
Após o show, Raí me contou um pouco sobre a sensação de ter participado do evento. “Foi uma alegria muito grande do começo ao fim. Fazer o que gosta ao lado de quem também faz, tendo a chance de sentir as pessoas cantando a sua música é algo inexplicável.”. Raí também disse que novos trabalhos junto com a U Bandão devem chegar ano quem vem. “Em questão de lançamentos, nós queremos lançar um disco no ano que vem, mas ainda precisamos conversar bastante para decidir como serão as formas das músicas”. O músico volta a se apresentar na sexta-feira, 28, para um pocket-show de canções inéditas na Casa na Praça.

A marca da autoralidade estava presente ainda na feirinha e nas exposições. Bruna Luz, da marca 365 Filmes, participante do evento, elogiou a iniciativa de chamar expositores e disse que a cidade precisa de evento como este. “É muito bacana que vocês da Avenida Independência, como um coletivo de Juiz de Fora, estejam abraçando a causa artesanal da cidade”. O evento contou com a exposição dos artistas locais Ana Laura Pompe, Clara Downey, Rodrigo Ferreira e Washington Silva e também com as feirinhas das marcas Pinóquio, Fofuras de Algodão, Peregrina, 365 Filmes, Amandolá, Choc’ origami, Tré Design e Fotografia, Res Store, Adornare, Bodoque, Gilberto Medeiros e Geison Vargas com vinis e com a performance de quatro artistas no tecido acrobático pela Trupe Tear.
O Coletivo Avenida Independência contou com o apoio da MaxiPão, O Gibra Indica e VaiAli.com, e teve parceria do Cultural Bar.

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