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Crônica de uma ocupação: Anotações afetivas de um dia de LG Lopes em JF

  • Luísa Moreira
  • 30 de out. de 2016
  • 3 min de leitura

Fotos: Luísa Moreira

A agonia do presente tem me tomado tempo, porém, ao ver a primeira escola ocupada em Juiz de Fora, uma ponta esperança reapareceu. Sabia que Luiz Gabriel Lopes, o LG (do Graveola), estava na cidade; o músico se apresentaria mais tarde, naquele dia, no Arteria. Então, o convidei para tocar no Colégio de Aplicação João XXIII. A resposta foi rápida e empolgada: sim!

Chegamos na escola, o movimento estava em assembleia. A sala, tomada por meninas e meninos, preenchia-se de todas cores, formas e tamanhos. Preocupados e atentos negociavam com um juiz sobre a permanência do grupo durante o domingo de eleição. Parecia uma conversa de adultos – ou como deveria ser, porque a galerinha dá de 100 na gente, viu? – por fim, a ocupação foi autorizada a se manter no colégio. Com a visita-surpresa do juiz, a organização para a música acabou atrasando.

- Ih, tem que achar o pedestal!

- Como que monta esse microfone?

- Precisa de pilha! Corre lá pra pegar a pilhaaaa!

LG Lopes na ocupação do João XXlll

Com o som montado, LG tomou seu violão e cantou. Embora muitos não o conhecessem e a agitação do momento se fizesse presente, os olhos seguiam atentos. As palmas empolgadas no final das músicas mostravam a alegria da partilha. A música ‘Espaço Comum’, uma parceria com Gustavito Amaral, feita na ocupação Luiz Estrela em BH, soou pela voz de LG, traduzindo a força do encontro que ali acontecia:

vem, que a nossa luta espanta o medo

alimenta o sonho e faz brilhar

nossa casa nova, tudo que é verdade

cores da cidade

vão nascer milhões de luzes

basta crer no movimento

nossa força é pra já

tô feliz de morar aqui

Ao fim da apresentação, corremos para o Arteria. O espaço é um charme e já aguardava a chegada do cantautor. Após a passagem de som, ficamos conversando e mais gente foi chegando, somando-se ao papo. LG falou sobre seu último CD, ‘O Fazedor de Rios’, lançado em 2015. Para ele, as músicas novas acabam fazendo mais sentido para o autor, porém, as canções da produção se ressignificaram em outras vidas e histórias, mostrando sua importância. A vida no modo ‘violão-endereço’ proporciona muitos encontros, um deles gerou a possibilidade da gravação de um álbum em Portugal; ‘La Barca’ está sendo feito em parceria com o Centro Cultural Musiberia, em Serpa. Paralelamente, outro álbum solo, chamado ‘Cangaço Lírico’ é concebido aqui no Brasil.

- Luísa, cê bem podia cantar uma música hoje, hein?

* imagine alguém, no caso, eu mesma, tendo um infarto *

- Uai, vamo!

***

Entre abraços e reencontros, LG começou o show com a música da cantautora Laura Catarina:

eu vou cantar,

pois é cantando que você me escuta

não há verdade que não seja bruta

o mesmo amor que faz de mim presente

não deixa perder a inibição

O repertório seguiu com músicas ainda não gravadas e algumas do Graveola. Em ‘O Fazedor de Rios’, música que nomeia o último disco, aqueles que assistiam fizeram coro junto do cantor. Logo me veio à mente a fala do moço em um dos bate-papos: “foi a música que me escolheu”, a mágica de ouvir outras vozes somando-se ao som, comprova. Então, LG me chamou lá na frente: de perna tremendo, fui. Imagina só, cantar com alguém que a gente escuta e admira há algum tempo? Com o coração transbordando e voz trêmula, cantei Back in Bahia, composição de Luiza Brina, presente no CD Camaleão Borboleta. Para mim, tudo aquilo significou muito.

O músico, então, comentou sobre o nosso atual momento político e a necessidade de acreditar: ainda há tempo. Contou-nos, então sobre o significado da canção ‘Haux Haux’, a palavra Haux é indígena e usada no sentido de cura:

dentro da terra

do fundo do sol

há uma força

há uma força

dentro de nós

há uma força

sempre haverá

haux! haux!

O show chegava ao fim e ‘Talismã’ embalou o “até logo!” de Luiz para Juiz de Fora. A simplicidade e sensibilidade são visíveis no cantor, assim como a vontade e consciência de transformar o mundo através do som.

Até a próxima, querido!

sou filha da visão que mira dentro

eu vim pra ensinar a abrir o peito

e proteger a fé, vencer o medo

a bênção pelas mãos, a música,

sou eu

flecha de luz

cristal

criança boa

céu de outono, hortelã, erê

os de agora e os que for nascer

 
 
 

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