Mulher na música: Quando ela canta, eu ouço a revolução
- Fernanda Castilho
- 13 de nov. de 2016
- 3 min de leitura
Foto: Fernanda Castilho

“O que é ser mulher na música?” perguntou minha amiga Luísa Moreira quando entrevistávamos duas mulheres musicistas, a Luiza Brina e a Laura Jannuzzi. “Já foi tanta coisa...” respondeu a Luiza. Sim, na minha cabecinha o “ser mulher” também já se transformou diversas vezes e em diversas coisas, cores e sons.
Eu me lembro que quando comecei a me interessar por rock, lá nos meus treze aninhos, conheci Paramore, uma banda de pop rock com uma vocalista de cabelo camaleônico laranja que gritava e se jogava no chão, e que eu me apaixonei muito e me apeguei demais por ter sido uma das minhas primeiras descobertas musicais. A Hayley foi por muitos anos uma grande inspiração.
Mas lembro também daquele discurso machista nas rodinhas de conversa, que viravam a cara pra essa banda que eu achava tão foda. Aquele pensamento de que o rock não seria coisa de mulher, que elas não tocavam ou cantavam tão bem, ou que suas composições eram fracas e sobre coisas superficiais. Nem todo mundo pensa assim, eu sei, mas esse tipo de discurso era muito ouvido.
Bem, ainda bem que eu nem ouvi isso. Eu continuei com meu “bacharelado em baixar CD”. Fuçando entre um site e outro, conheci e li um bocado sobre o movimento riot grrrl, sobre feminismo e música, e mais música. Mulheres como a Kathleen Hanna com Bikini Kill, Kim Gordon com Sonic Youth, Kim Deal com Pixies e The Breeders, a Rita Lee com os Mutantes e as meninas da Dominatrix me deram outra compreensão do mundo.
Além dessas minas, várias outras também me trazem força e inspiração a cada dia mais, como as jornalistas Andrea Dip, Roberta Martinelli e Eliane Brum, as meninas que fazem zines e quadrinhos Marjane, Sirlanney e a Garota Siririca, e claro, as meninas do cinema, Anna Muylaert e Sofia Coppola.
Não posso responder a essa questão, sobre ser uma mulher musicista. Mas a Luiza Brina pensa bem nisso, nessa sororidade, com um olhar feminista e, nos disse que há uma forte união entre as compositoras, elas têm esse cuidado e essa disposição em se ajudar, o “bota pra fazer” e uma troca de energia.
Conheci esse conceito de sororidade há algum tempo atrás, que seria a união entre as mulheres, um envolvimento empático, como reconhecer as dores e o sangramento de cada uma, e assim ajudando mais e julgando menos. Na minha vida, vejo essa união crescer mais e mais com as mulheres da Avenida Independência, onde somos maioria na composição do coletivo. Às vezes me sinto até numa gangue. O cuidado e o carinho que cada uma tem com a outra me inspira e me motiva.
Vejo que as vozes das mulheres se reverberam nas ruas, nas redes, com o crescimento dos movimentos feministas, aumento de mídias alternativas que lutam pela igualdade de gênero e contra discriminações, grupos de Facebook onde podemos conversar virtualmente sobre questões que vão desde o nosso ciclo menstrual às nossas inseguranças diárias. Estamos dia e noite nos fortalecendo.
Como cantavam as meninas da banda de punk Bulimia: “punk rock não é só pro seu namorado, faça o que tiver vontade, mostre o que você pensa”, e passam dias, noites e cada vez mais cresce o número de mulheres compondo, cantando, escrevendo, fazendo filmes, “botando pra fazer”! Mulheres como a Alice Caymmi, Mãeana, Duda Brack, o Coletivo A.N.A., Xanaxou, Charlotte Matou Um Cara, a banda Matilda, Laura Januzzi e Uiara Leigo, iniciativas como a da Sonora - Ciclo Internacional de Compositoras, todas elas tão batendo o pé! Ninguém precisa se esconder de novo, como fez Margaret Kane. Como na música da banda Dominatrix “eu nunca pensei que as meninas seriam tão fortes”.
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