Review Sara Não Tem Nome: Lembre-se que o importante aqui é a poesia
- Thiago Menini
- 18 de nov. de 2016
- 3 min de leitura

Foto: Kaio Dias/Divulgação
Em Omega III, o trabalho de estreia da Sara Não Tem Nome, a questão que fica não é a autenticidade da identidade da Sara. Isso deve ser estratégia pra causar confusão mesmo. A cantora e compositora, de Belo Horizonte, esteve em Juiz de Fora para tocar no Malditas, pequeno festival do qual participou a Luiza Brina, do Graveola e o Lixo Polifônico.
Ao início da escuta do trabalho, transparece uma arte que funciona como veículo de expressão de algo, que parecia estar guardado a muito tempo. A Sara não tem nome porque vai ver ela quer certo anonimato. O ato de cantar não é vaidade ou busca de fama, mas um entendimento de si mesma, enquanto indivíduo. Essa é a ironia, a Sara não se identifica porque nem ela sabe quem ela é. As canções são uma constante procura; há cotidiano nelas. Também não é para menos, o título de cada uma delas entrega essa característica. Talvez não seja tão recente, tão presente, enquanto tempo verbal. Mas, identificamos a ocorrência e a recorrência dos fatos. Isso tudo, pode ser com você. Acompanhe algumas faixas durante a leitura e tire suas conclusões: Dias difíceis, Atemporal, Ajude-me, Carne Vermelha e We are Born Dead. O principal elemento musical é a sonoridade de uma voz que guarda os traços tímidos de uma menina. Ela é sussurrada, aveludada, suave... A música é só um suporte, pois a poesia que é importante. As melodias são um guia para os versos, que trazem um modo pessoal de entender diversas reflexões que arrebatam os humanos. Só que a partir da perspectiva dela. Tudo é muito intimista. É um espírito que parece retornar adolescência; essa época maluca em que se começa a criticar os fatos existenciais, o todo da vida e a vida como um todo e a cultura vigente. Tudo isso na solidão do quarto escrevendo num bloquinho de papel acompanhado de um violão. Não há dicotomias entre os temas musicais ou um desenvolvimento complexo da coisa. A estrutura de construção das músicas é muito parecida. O que permeia é uma constância na escuta de todo o álbum. Não há fortes contrastes de volume sonoro ou algum ápice. A maioria das canções começa com um singelo dedilhado que atravessa os minutos de música e em algum ponto se extingue. É a deixa para a próxima faixa, num total de doze. A harmonia é harmônica, ou seja, não espere dissonâncias ou passagem mirabolantes. Ela está lá, em acordes de primeiro, quarto e quinto graus. Às vezes um tom menor, gerando uma introspecção maior ainda. As composições são cruas, nuas de complexidade musical. Mas, essa não é a proposta da Sara Não Tem Nome. Os arranjos existentes são um complemento ao que as palavras querem expressar. Tudo é verso em poesia. É um coletivo de músicas-poema, quase como um sarau. O trabalho de produção do álbum segue o mesmo tom. Os timbres são crus e contidos. Às vezes algum outro colorido surge, mas ele não permanece. A concentração maior é nos elementos harmônicos que sustentam a suavidade das melodias e a percussão. A todo momento soa como algo que a indústria musical pudesse trabalhar de outra forma, polir e rebuscar pra vender mais. Mas, quando se entende a estética, fica claro que o que se quer é fugir disso. É muito alternativo, uma música que foi feita pra falar de si mesma, construir uma independência. Não é pra massificar, mas sim falar em particular. A Sara quer continuar sem nome e somente se identificar pra aqueles que se identificam com sua música. A mensagem reside na estética; a simplicidade facilita o entendimento do todo. O que se percebe no caso da Sara Não Tem Nome é que é difícil falar da música, porque ela é dependente da poética. A interpretação é dela e se prolonga no ouvinte que quer entendê-la, ou quem sabe ajudar a autora, sem identidade, a se entender. É mais poesia do que música.
Comments